quinta-feira, 28 de dezembro de 2006

Fim





Vai ser no marco zero, dia 31/12 o último show da turnê do álbum 4. Os recifenses serão os felizardos. Vão ver os Hermanos suando a última gota de suor desse ano que, diga-se de passagem, foi ótimo para nós. Digo “nós”, pelo fato de eu me considerar parte da família hermana, e entender que a família pode ser definida como nada mais do que essa massa que acredita na música feita com alma. 2006 foi o tempo oportuno, o tempo exato para que as canções do “4” fizessem efeito e se dissolvessem em cada um.

Foram poucos os álbuns concebidos assim, transbordando tanto sentimento, carregado de tanta ideologia. As sutilezas quase imperceptíveis dos instrumentais de cada música casando com cada sílaba numa simetria perfeita, tudo do mais certo. Inspirador.

O disco foi feito na medida. Disputou acirradamente o título de “o melhor disco” com o Ventura, outro grande álbum, mas como eu sou suspeito, prefiro não opinar sobre isso. Como sempre disse o “ruivo”: “... a lacuna é o convite, o ruído a sedução...” esse disco veio recheado de lacunas, de espaços a serem preenchidos pelo pressentimento, pela intuição.

Agora no mês de janeiro os quatro voltam a se enfurnar num sítio no interior do Rio de Janeiro para prepararem um novo trabalho. Vão ser aproximadamente 2 meses longe de tudo e de todos, passando o dia inteiro empenhados na lapidação de cada nova canção. A ansiedade é grande, mas a esperança em um novo tesouro musical é maior ainda. Vamos torcer

Somos todos hermanos.

segunda-feira, 25 de dezembro de 2006


Fala pessoal, esperei até os 45 do segundo tempo por um daqueles textos fodas que o Rauzito*escreve tão bem, mas acho que o cara deve ter secado algumas gafarras do bom e velho "sangue de boi" neste Natal...
Eu fiquei só na experiência com cervejas baratas diversas ( schin, Glacial, brahma, Kaiser), tudo ao mesmo tempo agora!!*
Fica aí uma tirinha de Natal minha que foi publicada ontem no Super Notícias!!
* Raul, recebi seu recado de Natal... Só não sei se o meu chegou até vc.
Se não, Feliz Natal pra vc e sua famíla brother
* Não deu pra tomar a velha e burguesa Boêmia, que o Gordinho me apresentou em Sete Lagoas... Mas tudo bem, é Natal!!

domingo, 17 de dezembro de 2006

Como é que é?

Ao contrário do Rauzito, escolhi uma banda...Titãs!!!!
Abraços!

01.você é homem ou mulher? ” Homem Primata”
02. descreva-se: ”Ser Estranho”
03. o que as pessoas acham de você? ”Eu Não Vou Dizer Nada (Além do Que Estou Dizendo)”
04. como descreveria seu último relacionamento amoroso? ”Era Uma Vez”
05. descreva sua atual relação com seu namorada(o) ou pretendente: ”Amanhã Não Se Sabe”
06. onde queria estar agora? ”Sonífera Ilha”
07. o que pensa a respeito do amor? ”Não Vou Me Adaptar”
08. como é sua vida? ”Aqui É Legal”
09. o que pediria se pudesse ter apenas um desejo? ”Qualquer Negócio”
10. escreva uma frase sábia: ”Felizes São Os Peixes”
11. Dar o butão? ”Eu Prefiro Correr”
12. agora se despeça: ”AA UU”

sexta-feira, 15 de dezembro de 2006

Eu também não escolhi uma banda, mas sim um cara.

Diga-se de passagem que esse cara foi uma espécie de Jimi Hendrix baiano, o pioneiro do rock no Brasil sem sombra de dúvida.

Foi influencia para grandes nomes da música atual e pra mim também, é claro.

Sem ele a música nesse país não seria a mesma, tenham certeza disso.

Magias, bruxarias, maldições e bizarrices desse tipo eram com ele mesmo, portanto acho que fiz uma escolha propícia.

Já adivinharam? É... Raul Santos Seixas.

01.você é homem ou mulher? ”O homem”
02. descreva-se: ”Sou o que sou”
03. o que as pessoas acham de você? ”Maluco Beleza”
04. como descreveria seu último relacionamento amoroso? ”Tapanacara”
05. descreva sua atual relação com seu namorada(o) ou pretendente: ”Planos de papel”
06. onde queria estar agora? ”No fundo do quintal da escola”
07. o que pensa a respeito do amor? ”Moleque maravilhoso”
08. como é sua vida? ”rock’n’roll”
09. o que pediria se pudesse ter apenas um desejo? ”Não quero mais andar na contra-mão”
10. escreva uma frase sábia: ”Eu sou Eu, Nicuri é o Diabo”
11.quer dar o butão? ”Conversa pra boi dormir”
12. agora se despeça: ”Quando acabar o maluco sou eu”

Acho que deu pra me salvar né?

Fico aguardando a resposta do Alves para indicarmos os próximos 5 amaldiçoados...

sexta-feira, 8 de dezembro de 2006


É fim de ano de novo, mas confesso que até agora minha consciência não percebeu tal fato. Ainda não avisaram meu espírito natalino, hibernando lá no fundo do guarda-roupa d’alma que é tempo de pensar em coisa legais pra se comprar, em fazer planos para o décimo terceiro, em se entupir de porcarias “comestíveis” que o ambiente nefasto em que vivemos nos impõe consumir, em vislumbrar a possibilidade de uma viagenzinha no próximo mês, mesmo que isso implique coisas que você não tem; como tempo vago para atividades dessa natureza.

Juro que meu corpo pensa que ainda é maio ou junho, e não desacelera. Não sente a mínima vontade de reduzir o ritmo, muito menos se entregar a fadiga dessa época em que estamos. Passo pelas vitrines, vejo os comerciais, participo das conversas, mas nada. Aquele cheiro bom de preparativos, o clima inerente a esse período, o sonho impossível que você tem lá no fundo desde criança (porque quando você nasceu já existia Hollywood) de que caia neve no dia 25 e não exista miséria e fome no mundo nesta data, enfim, essa carga de sentidos distintos que anulam a epifania do Natal, mas colorem o planeta. Pois é, não sinto nada disso.

Talvez a sobrecarga, ou o sobretempo (palavra com a qual defino a imaginária sobreposição do tempo, interrompendo seu ciclo linear e conseqüentemente reciclando-o); ou até mesmo a aptidão de perceber que não se está vivendo, mas se está apenas participando como um coadjuvante da historinha da vida e não há qualquer ferramenta útil ao seu alcance. Ou talvez a ordem natural das coisas, e uma bobagem de grande porte da minha parte, nessa busca por um anestésico barato.

Ao que tudo indica, quando vier o choque, o estalo, o abrir dos olhos, o acordar pra vida, o enxergar o que está abaixo do nariz, eu vou estar ligeiramente despreparado e tudo passará numa velocidade assustadora, impedindo a minha participação efetiva nos acontecimentos da minha própria vida.

Minha segunda consciência – que é quem vos fala – percebe as coisas antes da primeira. Esta última, por trabalhar em tempo integral, passa às vezes por crises como a de agora, e não consegue se desprender do que meu alicerce cerebral pondera como importante. Durante o sono, que é quando deveria acompanhar o resto de mim e descansar, ela continua inserindo funções em células, fazendo auto-somas e vínculos de planilha. Perdeu o juízo a coitadinha?

Sei que o pedaço da vida guardado para conquistas e conclusões está perto de passar pelo tempo presente, da mesma forma que os pedaços do vinil com o refrão e o solo de guitarra passam pela agulha e saem pelas caixas de som. Vai ser como uma projeção real dentro do espelho, com imagens do mesmo tamanho e com um fundo musical. Talvez haja frases entre os intervalos de silêncio – ou de som, se assim se preferir – e mensagens claras dizendo o que se deverá fazer.

Penso que as urgências que tomaram meu tempo sem planejamento por todo o sempre até aqui irão se dissolver no ar, ou pelo menos pesar para um outro lado que não o meu.


REFERENCIAL TEÓRICO:
Segundo cientistas israelenses, em tarefas que exigem muita atenção (como identificar uma imagem em uma série rápida de figuras), o cérebro concentra esforços em áreas sensoriais e silencia uma região associada ao sentimento de introspecção. O que significa que, diante de uma tarefa difícil, você literalmente esquece que a vida existe. (Superinteressante – edição 299 – ago/2006)

He he... é rir pra não chorar. E se você leu esse desabafo até aqui, obrigado.

domingo, 3 de dezembro de 2006

Skank, pra dourar o Domingo...



Mil Acasos
Samuel Rosa e Chico Amaral

Mil acasos me levam a você
O sábado, o signo, o carnaval
Mil acasos me tomam pela mão
A feira, o feriado nacional
Mil acasos me levam a perder
O senso, o ritmo habitual
Mil acasos me levam a você
No início, no meio ou no final
Me levam a você
De um jeito desigual
Mil acasos apontam a direção
Desvio de rota é tão normal
Mil acasos me levam a você
No mundo concreto ou virtual
Me levam a você
De um jeito desigual
Mil acasos me levam por aí
Na espuma do tempo, no temporal
Mil acasos me dizem o que sou
Ateu praticante, ocidental
Me levam a você
De um jeito desigual
Quem sabe, então, por um acaso
Perdido no tempo ou no espaço
Seus passos queiram se juntar aos meus
Seus braços queiram se juntar aos meus

quarta-feira, 29 de novembro de 2006

Amadureci a covardia em sarcasmo.
Posso rir do sofrimento.
Mistérios existem para simular profundidade.
Sou rasa, fútil. Não reverencio a primavera,
a mais sádica das estações.
Desde a infância, ela floresce minha asma.

Posso adiar a morte,
nunca o nascimento.
É impossível cortar a semente.

Fabrício Carpinejar (Cinco Marias – Bertrand Brasil, 2004)

domingo, 26 de novembro de 2006

Curva de Rio


Depois de muito grafite e nanquim, enfim, terminei a famigerada HQ: Curva de Rio...
Vou postar um pedacinho dela (já que ainda não foi publicada), e no uso de minhas atribuições legais - e ilegais também - dedico o presente post a Samara-Sam!!

quarta-feira, 22 de novembro de 2006

Fim de Noite




*Sei lá de que canto escuro do meu pensamento veio isso...


Fantasma

Quando ninguém te vê na rua
E você passa, assim de mansinho pelas manhãs
Sem se olhar no rosto de ninguém
Talvez aí (só aí) você sinta o que é solidão
O estado “sem”

Se o relógio quebrado na parede já não marca as suas horas
É sinal que o tempo já passou por aí, foi
Sem você perceber o dano
E o que vem?

Quando um velho amor morreu
E você se abraçou aos restos
Pedaços do que já foi seu
As nuvens coloriram o céu de cinza
E só elas choraram
E você vem?


Eu, flutuo translúcido em seu pensamento
Sei que isso não é dor
É esquecimento
E grito:
-Meu bem, meu bem

Capitulações sobre o cotidiano

* Os Mutantes voltaram. Agora com Zélia Duncan, e o ar rejuvenescedor notavelmente envolveu o som. Na minha humilde opinião, aprovadíssimo! Quanto ao fato de Rita Lee ficar escrachando a nova formação com ofensas contra Arnaldo e Sérgio, eu só espero que ela é que consiga deixar de ser mercenária, porque música de qualidade ela desaprendeu a fazer há um bom tempo.

* O Atlético voltou à primeira divisão sagrando-se campeão da série B, todos sabem. O que eu espero agora é que a gente transborde aquele mineirão de gente no próximo sábado. Vamos bater o nosso próprio recorde de torcida e tentar colocar 65000 atleticanos dentro daquele estádio. Agradecimentos muito especiais ao Levir, um técnico de verdade, um cara foda! e pra terminar com um clichê: vamo subir galôôôô!

* A crise nos aeroportos do país insiste em ser manchete em todos os jornais, mas como eu não ando de avião mesmo, foda-se!

* Encontrei um definição perfeita para "Emo" no blog Os Canastras onde a Sam mais uma galera legal escreve umas coisas legais também. Para saber é só clicar aqui

domingo, 19 de novembro de 2006

Teste



Estou vendo se esse tal de GoEar funciona mesmo. É que daqui um tempinho vamos começar a postar músicas nossas aqui. Se isso funcionar direitinho, é só aguardar...

(Falei como aqueles compositores que todo mundo fica louco esperando pra ouvir as músicas inéditas né?! até parece...)

sexta-feira, 17 de novembro de 2006

DUTO

A proteção materna me deixou invulnerável.
Não pensei uma vez sequer na linha de combate;
linha de rugas.

Nunca me propus a comandar o corso.
Nunca me vi subalterno ao ódio.
Nunca mensurei atitudes sem prévia prospecção.

Adiei o grito sem pensar na mudez.
Entendi que nada envelhece sem alguma violência.
E que o canto nem sempre descende da alegria.

Há um duto interior por onde dores e alegrias entram;
e é por ele que palavras saem para se dissolverem no ar.
As que poluem duram pouco tempo.
As que purificam ficam.

Ficam firmes e indeléveis
como doenças impregnadas nos colchões;
contagiam vidas quando se revestem de som;
fazem lembrar alguma coisa que não lembramos antes;
resíduo do nosso primitivismo individual.
Como fruta que volta à primeira semente;
Como cinza de árvore que alimenta a raiz.
Como som de coração batendo, reverberando dentro do ventre
antes do primeiro centímetro visível de embrião.

terça-feira, 14 de novembro de 2006

Mensagem



Incrível como as canções de protesto do ano de 1933 ainda fazem sentido hoje, 73 anos depois. Descobri esse samba num disco do Chico chamado "Sinal Fechado" que comprei por R$10,90 nas Americanas (salve Americanas!) . Ainda quero ouvir a versão original cantada pelo próprio Noel que deve ser incrível, mas pra quem não conhece, vale a pena correr até unidade das Lojas Americanas mais próxima e pegar esse tesouro.


Filosofia
Noel Rosa

O mundo me condena, e ninguém tem pena
Falando sempre mal do meu nome
Deixando de saber se eu vou morrer de sede
Ou se vou morrer de fome
Mas a filosofia hoje me auxilia
A viver indiferente assim
Nesta prontidão sem fim
Vou fingindo que sou rico
Pra ninguém zombar de mim
Não me incomodo que você me diga
Que a sociedade é minha inimiga
Pois cantando neste mundo
Vivo escravo do meu samba, muito embora vagabundo
Quanto a você da aristocracia
Que tem dinheiro, mas não compra alegria
Há de viver eternamente sendo escrava dessa gente
Que cultiva hipocrisia

terça-feira, 7 de novembro de 2006

Chuva

Tenho medo das coisas que caminham na chuva
Mas trago um temporal dentro do peito
Vários mundinhos num só lugar nenhum
Onde foi parar você dentro de mim?
Eu sei?
Vai, não liga pra minha tristeza, não
Ainda estou "passarim de asa quebrada"
Mas, um dia, vou voar no meio desta chuva
Sem molhar meu coração de lágrimas
E pousar sereno em suas mãos

sábado, 4 de novembro de 2006

Momento...



Sabe aqueles momentos na vida de um cara em que ele pensa - ou pelo menos tenta - ser Chico Buarque? pois é...

quarta-feira, 25 de outubro de 2006

avião

fiz esta canção pra você voar
tranquila
nas asas do vento
seu coração "calmar"

quando a cidade aparecer no chão
e você sorrir e lembrar
das coisas que nem sei se vão ainda dentro de você
solta seus cabelos
deixa o vento te levar
e vai

sábado, 21 de outubro de 2006

VOCÊ

Você que sai de casa de manhã, cheia de disposição pra reencontrar as mesmas pessoas e executar novamente as mesmas tarefas, sentada na mesma cadeira do mesmo escritório. Você que sabe que essa disposição vai ter expirado por completo às 17:30 pelo fato de você tanto ter se empenhado nessa sua profissão de resolver problemas. Você que tem que correr todo dia pra chegar ao ponto do lotação antes do lotação, e às vezes até contar com a boa vontade do motorista que, por costume, espera um pouco por você antes de dar a partida.

Você que tem que estudar à noite e chegar à sala de aula sempre ofegante e no momento exato do término da explicação; quando o professor pede exercícios sobre o que acabou de explicar. Você que em fins de mês – às vezes, por todo o mês - não pode ir até a lanchonete na hora do intervalo da aula, pois tudo o que tem na carteira é a conta exata da passagem de volta do lotação.

Você que às vezes atrasa no banheiro na volta do horário de almoço ou no meio da aula, só pra poder chorar um pouco. Você que também descobriu que o ser humano tende a ser sozinho e se assustou quando percebeu que também estava seguindo essa tendência.

Você que acredita em democracia, socialismo, milagres, vida em outros planetas, amor verdadeiro (mas não eterno), Deus. Você que não acredita em horóscopo, outras vidas, fantasmas, diplomas, televisão. Você que sonha com independência financeira e pensa em financiar o próprio apartamento sem contar pra ninguém, nem para seus pais. Você que sonha em conhecer outros países e apesar dos pesares continuar morando aqui.

Você que tenta sempre enxergar além, que minimiza os defeitos dos outros fazendo com que eles se sintam bem. Você que pensa que a pessoa pela qual você espera também já te espera ansiosa, sem saber que vocês vão se encontrar em muito pouco tempo. Você que não descarta os fumantes (mesmo que seja um pseudo-fumante que fuma três cigarros por ano e se arrepende depois de cada um com medo de se viciar), porque sabe que cada um precisa de um subterfúgio. Você que não liga pra manias, mas foge de modismos. Você que não tem um estilo definido para se vestir, mas sempre está em metamorfose.

Você que quase sempre ouve mais do que fala, mas em algumas poucas vezes fala demais só pra desabafar e depois de ter falado sente aquela vontade enorme de morrer. Você que como toda e qualquer criatura do sexo feminino vivente na face da terra possui seus defeitos: opta pelo menos prático, carrega na bolsa coisas inúteis só para ter dor na coluna depois por causa do peso, demora muito para escolher entre mais de duas coisas seja lá quais forem as coisas, gasta sempre mais do que o salário que ganha e compra coisas sem a menor utilidade para a própria vida só porque são bonitinhas, engraçadas ou coloridas.

Você que não repudia a idéia de ter mais de dois filhos e não usa argumentos clichês como o de que vai ficar muxibenta e capenga. Você que tem vontade de viver por muito tempo; ficar bem velhinha e poder ver as gerações passando por você. Você que vai aceitar os percalços da idade sem problemas. Desde que você tenha audição pra ouvir música - como sempre adorou a vida inteira - até seu último dia, tudo bem. Você que sabe que é difícil ser feliz, mas não desiste de ser de jeito nenhum. Você que supõe o céu num olhar e tem a varinha mágica pra revirar meu destino, desenhar comigo um projetinho de vida.

Você que se chama Maria, Joana, Lúcia, Fernanda, *Paula, Carolina, Virginia, *Samara. Você que vai ter um nome que com certeza vou adorar repetir. Você que existe em qualquer lugar aqui por perto.

Me diga onde está você!




* Qualquer semelhança com a vida real não é uma coincidência.

quarta-feira, 11 de outubro de 2006

quinta-feira, 5 de outubro de 2006

Micro-Romance

Sim. Aquela noite foi curta demais. A rapidez das coisas boas - vide o gozo. Eu naquela de ficar ali deitado na cama, ao som das balas ice-kiss que ela quebrava nos dentes. Crac!!! Isso era o que eu mais gostava de ouvir. Sua impaciência, depois um beijo. Eu sentindo seu gosto nas mãos, seu perfume tocando meus olhos, ventania que entra pelo ouvido - sussurros. E o tempo passando translouco. Ora passado, ora futuro, confusão no pensamento. Ah, e esse relógio que não quer parar , morte aos ponteiros, eu pensava. Pra quê o sol? Pra quê o dia? Então me escondia na escuridão de suas ancas... E ela me olhava e ria.

sexta-feira, 29 de setembro de 2006

ABRIGO




Onde habita o segredo
De ser sem mostrar pra vida
Chegou o novo pescado
Presente do dia-a-dia
E os filhos chegam correndo
Pro encontro com os pais e barcos
Que no esplendor dos sorrisos
Se aliviam como o mar

E os pés ficam marcados
Na trilha feita na areia
Caminho até o abrigo
De todo contentamento
Ali não vive tormento
O mar acalenta a vida
A calma vem com o vento
E o pão de todos os dias
Como um milagre não cessa
Sempre se deixa encontrar

Sem saber que é parte grande
Dessa engrenagem que move
O peixe que é alimento;
É animal de estimação.

No mar que mata a sede
Do sol que queima o asfalto
Onde ainda andam a margem
Os pescadores vigiam:

Janelas bebem o vento.
Homens sonham com o mar.

Ao encontrar o pescado
A vida toda é um sonho
Quase tudo é garantia
A maré traz o amanhã
Pois tudo que há nesse mundo
É menor que o oceano
Que reflete sobre a terra
(luz) sem encontrar conclusão

Onde habita o segredo
Um muro divide a vida
O dia de cada dia
Sempre renasce com o sol
E sempre estão separados
O mar e o resto do mundo

Os pescadores de um lado;

Os pecadores do outro.

quarta-feira, 27 de setembro de 2006

O RIO

Por entre veias de pedra
Corre o sangue sujo, que vejo agora
Ele escorre, invade
O mundo que não gira como o meu
Reflete o céu sem estrelas da cidade
Segue manso e sem meandros -seu caminho
Vai despejar peixinhos mortos no mar
E dormir

segunda-feira, 25 de setembro de 2006

VINHETA

Minhas rimas estão ficando cada vez mais fáceis e curtas. Mas, tudo bem...

Quando Meu Coração Parou

Você na rua
Eu te desejo pra mim
Você na lua
Flores no meu jardim
Você na sua
Pedacinho do fim

sábado, 23 de setembro de 2006

Outra vida


A vida ensina uma vez pra que a gente aprenda. E ela é rude. Não mede a dor que vai causar, não se importa se a lágrima vai cair. Faz do que era bom o pior. Faz pior: bate na cara para que não precise fazer de novo, para que a lição seja passada uma vez só e surja o efeito necessário. O problema é quando a gente não aprende de primeira, quando somos ignorantes o bastante pra não entender o que é simples demais.

O amor usado à revelia se machuca demais durante o percurso, enche-se de brechas, deixa espaço para o egoísmo entrar. É preciso cuidar do amor. Ser careta, covarde se for preciso. Negar a certas coisas para que as estruturas não se abalem. Negar a si mesmo, para ser no outro o resto que te falta. Entender que frases bonitas como essa aí atrás são dificílimas de cumprir na vida real. E acima de tudo, perceber que a fidelidade sob qualquer circunstância é a força motriz para a longevidade com a qual todos sonham.
Peço à Luzinha-do-parecer-que-tudo-vai-voltar-a-ser-como-era-antes que apague sua luz. Agora!
Peço vida nova. Por favor.

terça-feira, 19 de setembro de 2006

SAMBA RASO

Se preciso for
Transformo o real em fantasia
Pra anunciar o dia
Que eu deixar de te amar

Se preciso for
Vou quebrar a simetria
Pra ser só o que eu queria
Ser só eu neste lugar

Se preciso for
Transformo dor em poesia
Pra matar a nostalgia
Que me faz sempre voltar

sábado, 16 de setembro de 2006

DE VOLTA

Depois de mais uma temporada remexendo nos velhos ossos do passado ( cantarolando o "Poema de Maria Rosa") o velho moço acordou e viu a cidade. A torre da igreja, o cemitério, as meninas no seu vai e vem de "cidadezinha pequena". Viu o sol nascer no poente-peripécias da kombi. As unhas pretas de terra não o incomodavam, só a saudadezinha de ver aquele mundinho rupestre morrer no branco dos seus olhos mais uma vez. Partir. E ele voltou pra casa, quis desconhecer as coisas da sua vida. Só pra lembrar pelo avesso novas e antigas estórias...

quarta-feira, 13 de setembro de 2006

Parece até mentira...


Nos EUA, o uso de medicamentos como entorpecentes já tomou uma dimensão tão grande que o número total de usuários de analgésicos, tranqüilizantes, estimulantes e sedativos para esse fim já ultrapassa 6,3 milhões – mais que o dobro dos consumidores de cocaína do país.

O impacto do abuso desses remédios é sentido nos pronto-socorros. Em 1999, 2 milhões de pessoas foram hospitalizadas e 140 mil morreram devido a efeitos de remédios prescritos por médicos, enquanto o número de mortes causadas por todas as drogas ilegais foi de 5 a 8 mil.

É um paradoxo: ainda há muita dificuldade para usar drogas ilegais como remédios, mas quase nenhuma para usar remédios como drogas.

(Superinteressante - edição 230 - Set/2006)

domingo, 10 de setembro de 2006

Genótipo




A força da continuação,
ereção hereditária da natureza,
faz arvorar pelos pés
e enraizar pelas mãos
os resquícios de nós mesmos
vindos de nossos antepassados.

Os cromossomos adubam o sangue
com seus genes imutáveis.

Um dia os sangues se misturam
e um genótipo novo surge
em meio ao caos.

Na mesma instância
em outro ser
genes já cansados de adubar o sangue;
decidem adubar a terra.

Destino e contingência andam lado a lado,
quase de mãos dadas
num silêncio só.

Saber essa verdade
é tão grave quanto saber da canção latente
que espera a vinda de um momento maior;
alegria da concepção.

Descubro: é a terra que cava em nós princípios de finalidade.

quarta-feira, 6 de setembro de 2006

TODAS AS LETRAS

Esta letra ainda não está totalmente pronta... Mas resolvi colocá-la na mira dos olhares atentos (e também dos incautos) que passeiam por esse blog, só pra ver no que dá.


Todas as letras

Como é que posso esquecer seu rosto?
Todas as letras da nossa canção?
Se o seu amor ainda é uma seta
Atravessada no meu coração

Meu coração que batia depressa
Vontade e ânsia de te encontrar
Pra te trazer de novo pra essa festa
Que guardo -muda- dentro do olhar

Como é que eu posso esquecer seu gosto?
Se seu desgosto carrego nas mãos
Que vivem cheias desta tua ausência
Para sempre atadas pela solidão

segunda-feira, 4 de setembro de 2006




Agora eu sei
Não é mesmo verdade
Não somos de verdade
Não passa de vontade.

Espírito é matéria.

Lacunas habitam meu corpo.

Meu corpo não passa de adubo que a terra espera.

quinta-feira, 31 de agosto de 2006

A SEDE DO PEIXE

A sede do peixe (Para o que não tem solução)
(Milton Nascimento e Márcio Guedes)

Para o que o suor não me deu
O fogo do amor ensinou
Ser o barro embaixo do sol
Ser chuva lavrando sertão
Qual Aleijadinho de Sabará
E a semente das bananas

Para o que não tem solução
A sede do peixe ensinou
Não me vale a água do mar
Nem vinho, nem glória, navio
Nem o sal da língua que beija o frio
Nem ao menos toda raiva

Para o que não tem mais razão
A calma do louco ensinou
A dizer nada

Para o que não tem mais nada
A calma do louco ensinou
A dizer razão

terça-feira, 29 de agosto de 2006

UM LUGAR


Diamantina-MG

Foto tirada no Campo de Geomorfologia. Diamantina longe do centro histórico, ainda mais bela.
Esse sorriso de pedra...

domingo, 27 de agosto de 2006

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"Lançamos este chamado desde o Quilombo dos Palmares, inspirados na força da luta de Zumbi, para construir a frente de esquerda (PSOL - PSTU - PCB), e proclamar a candidatura de Heloísa Helena à Presidência da República."
Essa é a primeira frase que se lê no site do P-SOL (Partido Socialismo e Liberdade). Confesso que me emociono com a retórica de gente assim. É ler e se deliciar com ideais de liberdade e igualdade que parecem ser trazidos de hollywood de tão fantásticos. Na página da canditada representante da coligação: "Coração Valente - Heloísa Helena para presidente"
O problema é que pra acreditar numa proposta que chega a ser lúdica, é preciso ser muito inocente. Nem o Cristóvão, que até o presente momento era meu candidato (diga-se de passagem que só por causa do sobrenome) e parece um personagem dos Ursinhos Carinhosos, de tão bonitinho e simpático tem proposta tão impalpável. Fazer a revolução educacional é tão difícil - mas ao mesmo tempo tão possível - quanto a reforma agrária.
O que a Helo está deixando na cara pra todo mundo, é que ela e o esquadrão sem-noção do P-SOL vão querer fazer radicalismos nesse nosso país. Dá pra enxergar por trás de tudo que eles dizem um quê de loucura como: não pagar a dívida externa, dar autonomia ao MST e afins, peneirar as filas de aposentados e pensionistas do INSS, etc.
De que tudo isso é necessário e de que seria ótimo se alguém o fizesse não há dúvida. A questão vai um pouco além, e a coisa aperta é quando a insanidade dos pretendentes a governar o barco é muito grande. Dentre os tantos que se propuseram a pegar o leme dessa vez, eu digo que ainda sou devoto do Lulinha. Não vou ser rude a ponto de considerá-lo o "menos pior", mas é que ele, o nulo e o branco estão numa disputa acirradíssima pelo meu voto.

quinta-feira, 24 de agosto de 2006

terça-feira, 22 de agosto de 2006

Álvares de Azevedo


Trecho do poema "Eutanásia", de Álvares de Azevedo, que quadrinizei faz um tempo. O cara é um dos poetas que mais curto. O legal desse quadrinho é que ele foi feito com aquelas antigas "canetas de engenheiro". Tinha que parar toda hora para desentupir a bagaça. Mas o quadrinho saiu.

segunda-feira, 21 de agosto de 2006

Era pra publicar esta letra no Domingo, faria mais sentido. Mas como as coisas para mim insistem em andar em caminhos tortos, vai na Segunda mesmo. Essa letra é uma homenagem ao brother Raul e sua (típica) "melancolia de Domingo". Acho que quem usou primeiramente esse termo foi a Sam- genial... Quando virar música, o finalzinho dela vai ter como música incidental a canção "Domingo", dos Titãs. Vai ficar legal...

Canção de Domingo

Hoje é domingo, Raul
É chegada a hora
De ligar a tv
Ou se entristecer com a aurora

Hoje é domingo, Raul
Eu sei...
A solidão dói bem mais que a demora
De ver o dia morrer
E você pensa:
O que fazer agora?

Hoje é domingo, Raul
Cadê seu violão?
Toca uma canção
Canção de domingo

sábado, 19 de agosto de 2006


Procurei entender os sinais
suspensos entre as colunas
e as fechaduras. Empenhei-me
em esclarecer os recados
apressados de socorro,
o tambor lacerado das paredes.
Decifrei os grafites dos banheiros
públicos, as inscrições puídas
no lenho, os volantes
recebidos no trânsito.
A vida com erros de ortografia
tem mais sentido.

Ninguém ama com bons modos.

Fabrício Carpinejar (As Cinco Marias - Bertrand Brasil)

quinta-feira, 17 de agosto de 2006

Mais uma letra...

Você Passou

Abri os braços
Chuvinha invisível da noite que me molhou
Vou...
Só eu na rua
Sou eu na sua

Você passou
E eu nem sei se sorri
Você passou
E eu nem sei se sofri

Abri o peito
Pra mostrar meu coração
Mas ele não estava ali
O músculo alforriado disse não
Partiu, vai longe daqui

Eu quis chorar
E enxugar as lágrimas com as pétalas
Das flores que te dei
Eu quis voltar
Mas, o caminho já não sei

Você passou
E eu não estava aqui
Você passou
Dentro de mim

quarta-feira, 16 de agosto de 2006

Time

Aí estamos. O time que compôs o Manual Cerebral enquanto projeto musical.

Uma banda de rock. No quarto da irmã do Léo, a Manu, que teve a boa vontade de emprestar seu nobre aconchego para que pudéssemos ensaiar.

Da direita pra esquerda: André (baixo), Marquito (vocal), Eu, (guitarra), Léo (batera) e agachado na nossa frente o Geremias (teclados).

Só faltou o Alves na foto, mas é que ele não estava presente nesse ensaio, apesar de que com certeza estava torcendo por nós...

Valeu pela força galera! Espero que possamos continuar com a mesma vontade dia após dia!

terça-feira, 15 de agosto de 2006

Semente


Passei semanas me dedicando a um projeto que parecia ser real - ou pelo menos palpável.

De tudo se fez esperança. Pensamos que aconteceria.

Não.

De nada vale a mensagem, o espírito que acompanha o som, a voz que sobe e que desce conforme mandam instrumentos.

Não.

Fomos apenas atores. De tanto olhar as luzes, as pupilas se secaram.

Por tanto tempo mudo, a garganta dilatou.

De tanto cultivar o sonho na cabeça, a semente morreu antes de germinar em outras cabeças.

(Mas a semente brotou dentro da gente.)

quarta-feira, 9 de agosto de 2006

Bobagens

Parece bobagem, mas costumo tentar entender as tatuagens que costumo ver por aí. Ir antes do desenho. Descobrir ou mesmo imaginar as pequenas as estórias gravadas na pele. Sempre passa por aqui uma menina que tem uma tatuagem de borboletas nas costas. Tem dias que ela passa com essas blusinhas de alcinha, felicidade estampada no rosto. As borboletas nas costas parecem que vão voar. Céu azul por toda parte. Há dias que passa com uma blusa ocultando o desenho, carinha fechada, noite escura. O negro repouso do casulo. Fico pensando na alma de borboleta da menina, suas asinhas de se contar estórias. Essas bobagens, fico pensando...

segunda-feira, 7 de agosto de 2006

A Morte do Poeta

Pode sorrir agora
Eu matei o poeta
Sei que ele te incomodava
Por muito tempo foi assim

Sorria!!
Matei o poeta
Não houve grito, nem lágrimas
O poeta morreu calado
Nenhuma gota de sangue
Sujou minhas mãos

Poetas morrem assim como nascem
Sem muito estardalhaço
Nenhuma notícia no jornal
Sem ninguém perguntar na pracinha
Passarinho voando longe sem dar aviso

É... Matei o poeta
Ninguém mais o vê, só eu
Ele está sentado ali no sofá
Fuma seu cigarro Souza Paiol
E sorri...
Seu sorriso irônico

quinta-feira, 3 de agosto de 2006

Um Pedaço do Escuro




Escuro. Meu corpo colado no dela numa dança cega. Acho sua orelha com uma leve mordida. Gemido. Minhas mãos tocando seus pêlos, minha boca procurando seus seios. Sinto que ela sorri, mas dos seus olhos não sei nada. Estão fechados ou abertos fitando a noite do quarto? Não sei. Na verdade não importa, só quero estar dentro dela... Encher o quarto de nós dois.

quarta-feira, 2 de agosto de 2006

domingo, 23 de julho de 2006



É domingo, são 16:58 pm e não há nenhum dos meus contatos on-line. Todos devem estar fazendo alguma de coisa de real que a vida deve ter oferecido e estou aqui. Eu e meu computador. Parece que até meu violão não quer nada comigo hoje. Sobre estar sozinho eu sei. O mundo gira paralelo a mim.

sábado, 22 de julho de 2006

Farejando o Passado

É isso aí. Na próxima semana estarei na cidade de Matozinhos-MG, participando de escavações paleontológicas junto a uma equipe da USP. Uma experiência totalmente nova para mim...Essa coisa de tentar enteder um pouco da pré-história do Brasil, através de vestígios de eras passadas. No caso, estaremos trabalhando numa gruta que registra vestígios da megafauna que viveu na Região de Lagoa Santa. Sempre quis me aprofundar(literalmente) neste assunto e agora surgiu uma boa oportunidade de ter uma experiência empírica na área. Na medida do possível, vou postar aqui alguns relatos do campo.

quinta-feira, 20 de julho de 2006

(in)CONCLUSÃO


(As dívidas e as dúvidas disputam um espaço maior agora. A que vencer vai se tornar prioridade impreterível).

Existe muita coisa que ganha e perde importância com o passar do tempo, mas perceber isso é que é o difícil. Quando se dá conta, aquilo que era importante já não existe mais, ou aquilo que não valia nada passa a permanecer o tempo todo sob sua atenção.

Quem define o que – ou o que define quem - vale a pena entrar em voga?

Daí o questionamento, do questionamento as descobertas, das descobertas os pensamentos, dos pensamentos as conclusões.

Dentre as conclusões mais importantes que um cidadão pode adquirir, se destaca o conceito de limitação. Mais do que isso, a humildade do indivíduo em admitir sua limitação. É ver aquilo que é absolutamente intangível e aceitar que esquecer daquilo é a melhor forma de se conformar.

Agradeço: Obrigado, Oh Bom Deus, porque me destes uma mente sã, e a ciência plena de que existem coisas que nunca pude, não posso, e jamais vou conseguir ter ou fazer por mais que eu queira. Dou-te graças, porque me permitindo perceber essa verdade, posso destinar minhas forças e meu tempo a atividades mais úteis em prol da minha própria edificação, ao invés de ficar tentando fazer coisas impossíveis. Obrigado por me dar essa condição que tu destes a poucos até hoje, pelo menos é o que tenho percebido.

Agora alguém, exceto Deus, me responda: Há disputa mais inconclusiva do que aquela travada entre as dívidas e as dúvidas?


terça-feira, 18 de julho de 2006

Uma Canção

Escrevi esta letra hoje, achei meio piegas. Mas o que posso fazer?

A Estação

Se o amor vier bem devagar
Grita logo, que ele vem
Não demora muito pra chegar
À essa hora já pegou o trem
Vem correndo, vai te encontrar
Vai trazer de novo o seu "alguém"
Desfazer as horas, e o lugar
Ao te chamar de novo:
"Vem meu bem"!

sábado, 15 de julho de 2006


É bom saber que o mundo é grande quando não se tem ninguém.

É um consolo imaginar que em algum lugar por aí existe alguém que cabe certinho nos moldes que o destino preparou pra você e portanto pode viver ao seu lado, e que esse alguém também procura alguém igualzinho a você, que se veste como você, que fala como você, que tem as manias que você tem. Ou seja, é acreditar que sua cara metade está perambulando por qualquer canto do mundo e que a possibilidade de vocês se encontrarem e viverem um amor feliz e eterno existe.

Sinto vontade de sair a procura desse alguém as vezes, mas já aprendi que fazer planos é o exercício mais vão a que alguem pode se dedicar.

Prefiro acreditar que o próprio destino vai resolver isso pra mim.

quarta-feira, 12 de julho de 2006

POR INFLUÊNCIA DO MEU PAI


O ano era 1987, e esse foi o primeiro livro de desenhos que ganhei. Presente do meu pai. O livro tava emprestado com um amigo meu das "antigas" e, eu nem lembrava mais que ele existia. Resistiu bravamente ao tempo e as traças, só pra me encher de saudade de um tempo bom que, como já dizia Thaíde, não volta nunca mais.

terça-feira, 11 de julho de 2006

AMOR-PERFEITO



Parei pra pensar: Por que será que é tão difícil se desprender de um amor antigo?

Deve haver uma resposta bastante objetiva, mas nesse contexto há sentimentos demais entrando em choque, há pensamentos demais procurando lugar seguro.

O medo de iludir (e de se iludir, por que não?), a dúvida em saber se você quer ou não estar fazendo aquilo, não saber se a vida está andando pra trás ou se é você que está tomando atitudes espontâneas, querer que o tempo esteja submisso a você para que você possa voltar nele toda vez que quiser.

Às vezes é meu próprio egoísmo que me põe na lona, e pra me reconstruir só serve o orgulho. Pelo menos esse estado me permitiu fazer a grande descoberta de que o amor mais imperfeito não é menos amor. Talvez demorasse uma vida inteira pra que eu descobrisse isso, mas não, aconteceu agora. Bonito. O amor se realiza na esfera de sua própria contingência e por isso é que vale tanto...

Posso até ter ido longe demais, mas, chegar até a porta da certeza e voltar ao alicerce da dúvida faz a gente elevar o pensamento, mesmo que nada do que eu tenha dito aqui tenha me ajudado a encontrar resposta.

Por que será que é tão difícil se desprender de um amor antigo?

domingo, 9 de julho de 2006

O TREM DA VIDA


Esse desenho é um trecho de uma HQ que estou fazendo. No caso, a estória de um maquinista cansado com a monotonia do percurso que é obrigado a fazer todos os dias. Sempre passando pelos mesmos lugares, pegando as mesmas pessoas, as mesmas paradas... O engraçado é que hoje, andando pela beira da lagoa, senti esse mesmo cansaço, essa vontade de abraçar o nada. Será que o trem da minha vida vai descarrilhar também?

quarta-feira, 5 de julho de 2006

Cem Palavras para descrever o momento...


Lô- ônibus-escola-papo-noite-caminhos-perdas-danos-veredas-ali-pato-formato-pedaços-benjor-estrelas-meninas-sorrisos-livro-carro-partir-andar-mínimo-mais-som-chão-flor-futebol-amanhã-espera-cactus-ausência-camaradas-músicas-longe-desenho-mão-violões-lagoa-calma-sereno-hermanos-vidas-latrinas-solidão-chuva-diamantes-verde-pedaço-correr-cinquenta-sertão-alguém-alguma-hora-qualquer-devagar- acordar-meio-sonho-meia-azul-voltar-cidade-sete-segundo-relógio-tempo-quebrado-pia-coração-contorno-mente-ilusão-cerebral-para-nasci-manual-amor-quase-fatal-algoz-sol-madrugada-sorriso-garota-pegada-beijo-escapa-passeio-sob-pedras-roseiras-tambor-bate-cara-semblante-novo-amigo-velho-travessia.

domingo, 2 de julho de 2006

Adição


Boas novas!
Daqui pra frente o Manual Cerebral vai contar com mais uma cabeça. É, o meu brother, parceiro de várias canções, letrista, chargista, pai de família, pensador, humorista e geógrafo (nas horas vagas) vai entrar pro barco e me ajudar nesse projeto.
Evandro também é o fundador do Fololog "Alves Comics", no qual ele publica seus trabalhos como desenhista...
Bom, não vou falar muito sobre o cara para que todos possam conhecê-lo ao longo do tempo, e se é pra somar, que venha depressa!
Seja bem vindo Alves!

domingo, 25 de junho de 2006

Letra de música


É sempre bom quando a gente se surpreende com as coisas casuais. Mais legal ainda quando você se pega fazendo algo que sempre condenou como atitude, julgando aquilo como um gesto totalmente Imbecil. E Imbecil com "I" maiúsculo.

Hoje eu estou postando um letra de música aqui no blog.
Por milênios eu achei isso completamente ridículo. Agora eu vejo que isso pode valer. Desde de que seja real pra você. Esta letra especificamente "parece que foi feita pra mim", (essa frase também é infantil-adolescente-ridícula) e ao se casar com a melodia então, torna-se perfeita!
Tá aí:

É de Lágrima (Marcelo Camelo)

É de lágrima
Que faço o mar pra navegar
Vamo lá!Eu não vi, não, final
Sei que o daqui
Teimou de vir, tenaz assim
Feito passarim

É de mágica
Que eu dobro a vida em flor
Assim!E ao senhor de iludir
Manda avisar, que esse daqui
Tem muito mais amor pra dar.

sábado, 17 de junho de 2006

4:25 PM


Sempre escrevendo em pautas
E andando por linhas tortas
quando garantem que o torto
não é o caminho errado.
Espero que mesmo assim
vivam bem mais que você
os que assim como eu
não entenderam a história
(cheia de pontos finais.)

Eu quero a cor dos sorrisos
que vão perder todo branco
e vão ficar amarelos
com o reflexo do tempo
e a soma dos nossos sonhos
não vai ser o peso morto
que é agora nesse começo
e parece não existir
(não há conclusões por perto)

O vício de estar sozinho
é quase sempre consolo
não há problemas a menos
quando se tem companhia
mas arrebentar correntes
fica mais fácil a dois
rompe o ferro escravizado
a união de duas forças
(e o silêncio está escasso)

É preciso dormir na rua
e se embriagar uma vez
não para esquecer do mundo
mas pra vê-lo de outra forma
lucidez não é o bastante
bom senso não faz sentido
quando se busca o sentido
em estado absoluto.
(quem garante o amanhã?)

Difícil é acreditar
que acontece por acaso
que essa pulsação contínua
ainda que desritmada
continue sem motivo
pulsando inconsciente
para que um sono futuro
(traga um sonho de presente)

Já que as veias não se fecham
e o coração não se cansa
e a cabeça ainda resiste
e os pés querem pisar
que nunca falte o sangue
transborde até derramar
que até o fim venha com isto
pra quem quiser descansar
(é que a vida é um imprevisto.)

sábado, 10 de junho de 2006

Poesia para todos

Não sei. Acho que em inglês a universalidade da poesia de Drummond fica ainda mais encarnada, mais palpável. Talvez agora se minimize minha indignação e eu entenda o porquê dele não ter sido eleito "O Mineiro do Século". Carlos era um cidadão do mundo.



Shoulders Hold Up the World

Comes a time when “my God” isn’t said anymore.A time of absolute purification.A time when “my love” isn’t said anymore.Because love came out all useless.And eyes don’t cry.And hands only do rough work.And the heart is dry.
Women knock on the door in vain, you’ll never open it.You kept to yourself, the light went out,but in the shadows your eyes gleamed enormous.You’re all right, you no longer know how to suffer.And you expect nothing from your friends.
Old age coming doesn’t matter much, what’s old age?Your shoulders hold up the world,and it weighs no more than a child’s hand.Wars and famines and discussions in buildingsonly prove that life goes onand that everybody hasn’t been freed yet.Some delicate folks who think the spectacle is barbaricwould prefer to die.Comes a time when dying doesn’t get you anywhere.A time when life is an order.Just life, without mystification.

sábado, 3 de junho de 2006

Notações


As algemas que nos prendem são de ouro.
A fumaça que polui o ar está camuflada na inocência (dentro da bolinha de sabão)
Nosso sonho é um espantalho que virou cerrado, mas no pôr-do-sol tudo é muito bonito.
Interromperam o diálogo do mendigo com o vira-lata,
sob o sereno da madrugada! (mas isso acontece aqui).

Elegeram um médium como “O mineiro do século”, alegando
que ele havia sido importante por se comunicar com os mortos
e dar seus recados a seus familiares ainda vivos, enquanto o poeta - que não foi eleito - podia tocar o futuro com as mãos.

E o futuro está prontinho, formatado, só esperando pra acontecer.
E o presente não consiste da verdade que eu buscava.

O nosso tempo abomina flores, faz das vestes expressão primordial.

E esse caminho, onde vai findar?

domingo, 28 de maio de 2006

Manhã de Domingo

Domingo de manhã passou pela rua um boi.
Seu passo escravo, sua cara de rei, seu jeito manso de ser boi e
contemplar a liberdade que não existe nem se
quer por um dia inteiro, mas no pouco que dura é maior que
todos os dias, é grande o bastante pra lhe deixar descobrir
que o asfalto também é chão, e que revirar o lixo é mais
fácil que procurar por capim.

No cotidiano urbano, segue o boi vira-lata, que passa pelo açougue
e faz o sinal da cruz (em pensamento).

Seguindo sempre a sina. Balançando o sino num aviso inútil.

Andando devagar, sem se deixar ir pela pressa da cidade.



Domingo de manhã a vida cheira a estrume e piche sob a luz do sol.

segunda-feira, 15 de maio de 2006

Eu sempre vou esperar pelo sorriso raro nas segundas-feiras de manhã.
E acreditar que a vida na sua brevidade vai me oferecer boas opções.
Vou me conformar ao descobrir que o querer ser é anestesia da nossa própria
consciência contra a verdade cruel de que somos absolutamente limitados.
Vou até me contentar quando lembrar que percebi antes de muitos
que pouco importa se cantamos certinho, sem sair do tom.
O que vale é o que é dito.
Melhor continuar tentado entender um pouquinho de tudo que acontece ao redor.
Enxergar as coisas simples de onde emanam forças que transformam coisas maiores.

Vou acreditar que o céu não é tão alto, e que eu sou muito leve.
Leve como uma pena.

sábado, 6 de maio de 2006

Palavras de tempos atrás...

ESPERA

N’algum lugar do futuro,
alguém já corrompeu minhas verdades:
Nada posso fazer senão viver o que vier.
Eu vou continuar cavando o chão,
furando buracos em que nem se
quer vou me esconder. Acreditar
que minha esperança dure mais um ano.
Não morrer de sede.
Conquistar coisas tão descartáveis
quanto meu próprio destino.
Perder todos os poucos amigos;
saber das alegrias poucas que hão de vir
e, ainda assim (que pena), não poder viver
para as contemplar.

quarta-feira, 3 de maio de 2006

O início do fim...


Ontem a noite eu cheguei em casa – cansado, pra variar – depois de mais um dia longo de trabalho e estudo. Liguei a TV e sem medo, fui trocando de canal pra averiguar nosso saboroso menu de programas depois das onze. Antes que vocês perguntem eu já vou dizendo: eu não acompanho o “Programa do Leão”, mas não sei como uma estranha força que tomou minhas mãos fez com que eu não conseguisse mais mudar de canal depois do que vi...

Eram três gostosas de fio dental, com uma camisa branca de algodão e sem sutiã. A moral da brincadeira era os caras espirrarem água com uma pistolinha de plástico na altura dos seios das gostosas para que a camisa se molhasse, ficasse transparente e eles pudessem ler a frase que estava colada no acima dos seios delas. Quem conseguisse ler a frase por inteiro primeiro sagrava-se o campeão.

Fiquei pensando: esse tal de Leão deve estar investindo pesado pra tentar ganhar do Gugu, do Datena, João Cléber e/ou Otávio Mesquita e afins...

Depois ainda aconteceu uma prova onde os caras tinham que comer olhos de cabra, testículos de búfalo, amídalas de rinoceronte e mais uma pá de merdas desse tipo. Engraçado era quando eles faziam aquelas caras super naturais do tipo: “Ah, isso aqui até que é gostoso, eu não tô achando ruim não gente, imagina...” obviamente depois daquilo o cara deve ter ou cagado até alma ou vomitado até as tripas, mas isso não vem ao caso.

Pensa só: mulher pelada sempre deu e sempre dará audiência no Brasil, mas comer porcarias gosmentas e excrementos animais? Isso é o fim!

Enfim, cheguei a conclusão de que alguns apresentadores de TV estão levantando um verdadeiro império da baixaria depois do horário nobre e disputando com todas as forças o posto de rei dos números do Ibope.

Desliguei a TV e fui “tentar” dormir.

sexta-feira, 28 de abril de 2006

Mais e mais...



Se nos faz bem, acaba por ser útil. Mais uma então.

...e a felicidade real presente na "verdade" cruel.


Verdade

A porta da verdade estava aberta,
mas só deixava passar
meia pessoa de cada vez.

Assim não era possível atingir toda a verdade,
porque a meia pessoa que entrava
só trazia o perfil de meia verdade.
E sua segunda metade voltava
igualmente com meio perfil.

E os meios perfis não coincidiam.

Arrebentaram a porta.
Derrubaram a porta.
Chegaram ao lugar luminoso onde a verdade
esplendia seus fogos.
Era dividida em metades diferentes uma da outra.
Chegou-se a discutir qual a metade mais bela.
Nenhuma das duas era totalmente bela.
E carecia optar.

Cada um optou conforme
seu capricho, sua ilusão, sua miopia.

Carlos Drummond de Andrade

terça-feira, 25 de abril de 2006

Por um dedo de prosa


Nada mais propício para uma postagem longa do que a fala comprobatória da própria falta do que falar.
Ninguém mais propício do que C. D. A. para assumir essa incumbência. Lê-lo outra e outra vez e novamente emocionar-se...

Hoje não escrevo

Chega um dia de falta de assunto. Ou, mais propriamente, de falta de apetite para os milhares de assuntos.
Escrever é triste. Impede a conjugação de tantos outros verbos. Os dedos sobre o teclado, as letras se reunindo com maior ou menor velocidade, mas com igual indiferença pelo que vão dizendo, enquanto lá fora a vida estoura não só em bombas como também em dádivas de toda natureza, inclusive a simples claridade da hora, vedada a você, que está de olho na maquininha. O mundo deixa de ser realidade quente para se reduzir a marginália, purê de palavras, reflexos no espelo (infiel) do dicionário.
O que você perde em viver, escrevinhando sobre a vida. Não apenas o sol, mas tudo que ele ilumina. Tudo que se faz sem você, porque com você não é posspivel contar. Você esperando que os outros vivam para depois comentá-los com a maior cara-de-pau (“com isenção de largo espectro”, como diria a bula, se seus escritos fossem produtos medicinais). Selecionando os retalhos de vida dos outros, para objeto de sua divagação descompromissada. Sereno. Superior. Divino. Sim, como se fosse deus, rei proprietário do universo, que escolhe para o seu jantar de notícias um terremoto, uma revolução, um adultério grego - à vezes nem isso, porque no painel imenso você escolhe só um besouro em campanha para verrumar a madeira. Sim, senhor, que importância a sua: sentado aí, camisa berta, sandálias, ar condicionado, cafezinho, dando sua opinião sobre a angústia, a revolta, o ridículo, a maluquice dos homens. Esquecido de que é um deles.
Ah, você participa com palavras? Sua escrita - por hipótese - transforma a cara das coisas, há capítulos da História devidos à sua maneira de ajuntar substantivos, adjetivos, verbos? Mas foram os outros, crédulos, sugestionáveis, que fizeram o acontecimento. Isso de escrever O Capital é uma coisa, derrubar as estruturas, na raça, é outra. E nem sequer você escreveu O Capital. Não é todos os dias que se mete uma idéia na cabeça do próximo, por via gramatical. E a regra situa no mesmo saco escrever e abster-se. Vazio, antes e depois da operação.
Claro, você aprovou as valentes ações dos outros, sem se dar ao incômodo de pratocá-las. Desaprovou as ações nefandas, e dispensou-se de corrigir-lhe os efeitos. Assim é fácil manter a consciência limpa. Eu queria ver sua consciência faiscando de limpeza é na ação, que costuma sujar os dedos e mais alguma coisa. Ao passo que, em sua protegida pessoa, eles apenas se tisnam quando é hora de mudar a fita no carretel.
E então vem o tédio. De Senhor dos Assuntos, passar a espectador enfastiado de espetáculo. Tantos fatos simultâneos e entrechocantes, o absurdo promovido a regra de jogo, excesso de vibração, dificuldade em abranger a cena com o simples par de olhos e uma fatigada atenção. Tudo se repete na linha do imprevisto, pois ao imprevisto sucede outro, num mecanismo de monotonia... explosiva. Na hora ingrata de escrever, como optar entre as variedades de insólito? E que dizer, que não seja invalidado pelo acontecimento de logo mais, ou de agora mesmo? Que sentir ou ruminar, se não nos concedem tempo para isso entre dois acontecimentos que desabam como meteoritos sobre a mesa? Nem sequer você pode lamentar-se pela incomodidade profissional. Não é redator de boletim político, não é comentarista internacional, colunista especializado, não precisa esgotar os temas, ver mais longe do que o comum, manter-se afiado como a boa peixeira pernambucana. Você é o marginal ameno, sem responsabilidade na instrução ou orientação do público, não há razão para aborrecer-se com os fatos e a leve obrigação de confeitá-los ou temperá-los à sua maneira. Que é isso, rapaz. Entretanto, aí está você, casmurro e indisposto para a tarefa de encher o papel de sinaizinhos pretos. Concluiu que não há assunto, quer dizer: que não há para você, porque ao assunto deve corresponder certo número de sinaizinhos, e você não sabe ir além disso, não corta de verdade a barriga da vida, não revolve os intestinos da vida, fica em sua cadeira, assuntando, assuntando...
Então hoje não tem crônica.
Carlos Drummond de Andrade.

domingo, 23 de abril de 2006

Tudo pelos ares...


Eu não tenho nem um tipo de fanatismo por presidentes loucos, mas tenho me sentido quase obrigado a fazer essas últimas postagens no manual. Hoje eu resolvi trazer um outro maluco (e esse é maluco mesmo!) que comanda o Irã, um dos países mais problemáticos do Oriente.
Mahmoud Ahmadinejad, eleito na última eleição presidencial do país, é no mínimo um cara corajoso. Entretido em projetos de aperfeiçoamento das usinas que produzem combustível nuclear, o cara já declarou aos EUA que o Irã não tem o menor propósito de limitar o projeto a experiências que não incluam urânio (ingrediente principal na fabricação de bombas nucleares).
É claro que isso gera uma preocupação global por ser algo realmente sério, mas o lado bom de tudo isso é saber que mais uma vez G. W. Bush vai molhar as calças de medo. Se existe alguém que pode ser usado como cobaia para o experimento de uma B.A., esse alguém são os EUA.
É incrível ver países de economia tão pequena usufruindo de tão alta tecnologia - pena que mais uma vez usando-a para o mal.
Eu fico pensando: enquanto inspetores internacionais de agências de segurança mundial, como a AIEA, a ONU e mais um renca de zeladores da paz estão passando noites em claro tentando descobrir um forma de deter esses extremistas que surgem de tempo em tempo, o próprio Bush e o Ahmadinejad devem estar na privada, cagando e pensando o que fazer pra destruir mais rápido um ao outro.
Nós somos só telespectadores. Vítimas, mas telespectadores.

quinta-feira, 20 de abril de 2006

"Carreira" de sucesso


O rapaz simpático aí do lado é ninguém menos do que o homem que quer fazer da Bolívia o maior fornecedor de matéria prima para fabricação de cocaína no planeta. Juan Evo Morales Ayma é seu nome. Morales é o atual presidente do país e líder do movimento esquerdista boliviano cocalero, uma federação de agricultores que tem por tradição o cultivo de coca para atender um costume milenar da nação que é mascar folhas de coca. De origem ameríndia, da etnia aymará, o cara é um dos indígenas mais famosos da história da Bolívia.

Fã declarado de Fidel Castro, pelo fato do cara ser figura evidente na oposição à política norte-america, Morales não poupa argumentos em seus discursos e propõe que o problema da cocaína seja resolvido do lado do consumo.

É claro que o cara está mais que certo.

Primeiro porque o patrimônio cultural dos povos andinos (e de qualquer outro povo) é parte inseparável da cultura boliviana e não uma simples regulação de uma convenção estrangeira, e segundo porque por mais que a Bolívia possa se tornar uma potência mundial cultivando papoula (e essa possibilidade faz G. W. Bush se mijar de medo) não é direito de país algum definir as regras a serem seguidas por todos os homens.

Cocaína é uma droga ilícita, viciante e prejudicial à saúde, certo? mas coca-cola também é uma droga, viciante e prejudicial à saúde. A diferença é que coca-cola é lícita. Merda!

terça-feira, 18 de abril de 2006

Apocalypse Please!



Ontem se completaram 10 anos desde o massacre de Eldorado dos Carajás. Todos os jornais mostraram as manifestações do MST criticando o comportamento dos militantes que mais uma vez protestaram e até saquearam caminhões num protesto por rodovias em nove estados do Brasil. Eu tenho apenas uma pergunta: será que a imprensa esperava que eles se reunissem, se abraçassem e cantassem músicas em homenagem aos companheiros assassinados?

O MST reivindicou um novo julgamento para 142 soldados, cabos e sargentos absolvidos pelo Tribunal do Júri em dezembro de 2004. Já o coronel Mário Pantoja, condenado a 228 anos, e o major José Maria Oliveira, condenado a 158 anos, respondem em liberdade concedida pelo Supremo Tribunal Federal (STF) ao recurso contra a condenação.

O fato é tão sério e evidente que há pessoas do mundo todo protestando. Um grupo de entidades de defesa de direitos humanos e ligadas à América Latina promoveu nesta segunda-feira em Washington uma passeata para lembrar os dez anos do massacre. No Brasil todos viram mais uma vez, pelos arquivos dos telejornais, as cenas da luta armada. Novamente todos agiram com a mesma indiferença, como se o incidente tivesse acontecido ontem.

O que revolta é saber que todos os dias surgem sindicatos e movimentos novos, com militantes novos com problemas novos para serem resolvidos, mas o problema da reforma agrária que é muito maior, mais velho e consequentemente mais importante do que qualquer um desses, ainda está por resolver.

É duro ter que enxergar a impunidade gritante presente nesse acontecimento, mas nós estamos num país onde o Ministro da Justiça está sendo investigado por suspeita de envolvimento em crime de quebra de sigilo bancário ao mesmo tempo em que a Kelly Key ganha um disco de ouro no Domingão do Faustão. Nessas horas em que as aberrações surgem todas de uma vez eu penso que quando o fim do mundo chegar, o Brasil vai ser um dos primeiros a ir pelos ares.

O que vai nos exterminar primeiro? A guerra ou a mediocridade?

segunda-feira, 17 de abril de 2006

Fala


Olá meus caros!
Recebi nessa Páscoa recém findada várias manifestações a respeito do manual por parte de meus (fiéis) leitores. Uns me disseram sobre a necessidade de alimentar esse blog, outros protestaram. Pediram que eu guardasse para mim minha filosofia.

O fato é que a liberdade de expressão ainda é o maior tesouro que um cidadão brasileiro pode ter, convenhamos. Se eu privar o mundo de conhecer meus pensamentos não vou me sentir satisfeito.

O desabafo vale mesmo pelo desabafo. E enquanto isso os cães ladram.

quarta-feira, 5 de abril de 2006

Retrocesso


Opa!
Já havia um tempo que eu não dava as caras por aqui. Acho que por carecer cada vez mais de tempo, tive receio de escrever qualquer merda e comprometer a qualidade do conteúdo do manual. Percebi que era bobagem essa preocupação porque primeiro: ninguém (ou quase ninguém) lê o que eu escrevo, e segundo: qualquer um que passe por aqui não tem paciência para ler o texto até o final.
Um amigo me disse que eu deveria trabalhar mais com imagens e menos com palavras, pois isso faria o conteúdo do blog ser mais convidativo. Então eu expliquei que a intenção era justamente o contrário: usar apenas uma figurinha e deixar toda idéia a ser transmitida pela postagem reservada para para o texto, que também resolvi publicar usando "courier", uma fonte feia que camufla a beleza das palavras.
Hoje mesmo eu iria deixar uma postagem sobre um cara na china que estava vendendo terrenos na Lua, e o pior: tinha muita gente comprando...mas aí eu fiquei revoltado com umas coisas que aconteceram aqui e resolvi deixar pra outro dia...

quinta-feira, 23 de março de 2006

Brasil, mostra a sua cara...


Vamos lá:
1° - Eu não estou aqui pra tentar debilitar o mais potente veículo da indústria cultural brasileira.
2° - Não estou tentando entrar para o hall dos elitistas acadêmico-intelectuais, até porque a intenção aqui é falar para todos, para a massa.
3° - Saiba: A TV é um lugar de exibição narcísica, é uma máquina narcísica que fabrica narcisos.

Eu sei e você também sabe que os que comandam a TV partem do pressuposto de que seu papel não é o de educar ou elevar a cultura do telespectador, mas ao contrário, imbecilizá-lo.

Não foi sem sentido que Freud reconhecia que o negativo das neuroses era a perversão. O ser humano - alguns mais que outros - gozam em ver outros através do buraco da fechadura, o que a psicopatologia chama de voyerismo.

Tudo bem, somos reféns de nossas pulsões, no sentido freudiano, que nos empurra mais para o sexo que para o amor, mais para a violência que para a paz, mais a quantidade de estímulos visuais sedutores que pela qualidade de programação, enfim, os dominantes da mídia sabem por que investem mais em ilusão que em verdade, e se nós também temos consciência disso, erramos por opção, certo? Errado!

É preciso analisar a eticidade do espírito capitalista selvagem que comanda a mídia nacional como também entender por que faz sucesso no ser humano: sexo, violência e bisbilhotagem da vida alheia. Eu ainda acho que esse "instinto" incontrolável de saber e acompanhar a intimidade do próximo é fruto de uma educação influenciada pela própria TV. Suspeito até mesmo que há alguma coisa de comum na grande audiência por esses programas e no grande número de fiéis da Igreja Universal do Reino de Deus ou outra religião que sabe fazer o show da fé de faz de conta.

O certo é que, antes de tudo, devemos ficar alertas para o verdadeiro big brother (falo da ficção "1984", de George Orwel) que é o império das redes de comunicação como é a própria televisão regendo nossas vidas e nos pressionando a abandonar o nosso desejo e ser o desejo deles.

Aí vai a minha humilde teoria:

Não existia paradigma porque gosto era igual a bunda: cada um tinha a sua, no entanto, a televisão tem nos oferecido tantas outras bundas que a gente sabe mais se tem gosto ou se tem bunda...

A solução? mandarmos todas as emissoras de TV tomar na bunda!

terça-feira, 21 de março de 2006

Nossa microeternidade




Eu sei, o homem é condenado a ser livre.

Com essa afirmação vimos o peso da responsabilidade de sermos livres e frente a essa liberdade, a gente se angustia porque a liberdade implica em escolha, que só o próprio indivíduo pode (ou não pode) fazer.
Muitos de nós paralisamos e, assim, achamos que não fomos obrigados a escolher. No entanto, a não ação, por si só, já é uma escolha.

Você se pergunta: Ah, então eu devo respeitar as pessoas que optam por vegetar o resto da vida e apenas produzir lixo e ocupar espaço no mundo?

A escolha de adiar a existência, adiando os riscos para não errar e gerar culpa, é uma tônica na sociedade contemporânea. Arriscar-se, procurar a autenticidade, é uma tarefa árdua, uma jornada pessoal que o ser deve empreender em busca de si mesmo.

Ao penetrar na escola do pensamento e desmembrar sem receio o que há de compreensível na filosofia barata a qual nos submetemos aqui, podemos ver o quanto somos impiedosos uns com outros. Há quem garanta que não há motivos para estarmos aqui, e que a terra é um planeta que existe sem razão, sobre qual a importância de cada um no mundo e o objetivo da criação...e agora?

Bom, eu não quero tentar dar respostas demais para esse tipo de assunto, até porque eu também coleciono interrogações e procuro não me influenciar por questões existenciais. Apenas acredito que o remédio para o mundo sempre foi e sempre será o simples ato de amor ao próximo.
(O próprio caminho é o convite e eu começo por onde a estrada vai.)

quinta-feira, 16 de março de 2006

Será possível?



A probabilidade de um acontecimento ocorrer é definida como o quociente do número de eventos desejados pelo total de eventos possíveis.

Hoje eu acordei meio filosófico. Não sei se isso faz mal, mas quando acordo assim vejo com mais facilidade o lado frágil de quase tudo. Vejo a própria morte mais palpável, pairando pela rotina do nosso cotidiano, atrás da porta, debaixo do tapete. A gente pensa pouco nisso, uma tendência normal, e acreditamos que qualquer acidente fatal seria fruto do acaso, ironia (ou crueldade?) do destino. Mas o que provoca o acaso? Que força age em favor dessa eventualidade sem por quê?

Já calcularam a chance de se ganhar na mega-sena, de você ser atingido por um raio (ao redor da terra caem cerca de 100 raios por segundo), de um objeto despencar do 30° andar de um prédio e cair sobre sua cabeça e de uma infinidade de coisas impossíveis acontecerem sem motivo. O mais impressionante é que de um ponto de vista defensivo, a possibilidade de você ser o próximo acidentado existe, e não pode ser descartada. Quem garante que num belo dia, no caminho da sua casa até padaria da esquina, alguém não resolva jogar uma melancia 16 kg do último andar do prédio pelo qual você está passando em frente e essa fruta atingir você em cheio?

Até recentemente, era comum creditar-se a decisão de qualquer evento aos deuses ou alguma outra causa sobrenatural. Simplesmente não havia espaço para uma abordagem que atribuísse ao acaso, e tão somente a ele, essas ocorrências. "A Humanidade precisou de centenas de anos para se acostumar com um mundo onde alguns eventos não tinham causa... ou eram determinados por causas tão remotas que somente podiam ser razoavelmente representados por modelos não-causais." (M. G. Kendall)

A Teoria das Probabilidades nasceu, mais precisamente falando, das tentativas de quantificação dos riscos e de avaliar as chances do azar, e pode acreditar, não é difícil vítima dele.

Então saiba: cada passo é um risco, mas não se preocupe, morrer é difícil.

quarta-feira, 15 de março de 2006

Caminhada


João ia atrasado (o atraso ia sempre com ele). Era longe o serviço. Fazia palavras cruzadas ou dormia. O que desse. Dormiu. Sentou na frente. Não importava se podia ou não sentar ali. Primeira curva, primeiro ronco. A bala escorrendo pela boca aberta. Boca grande. Gente entrando mais que saindo. E o ônibus inflando. Um cego, um manco, uma grávida. Outra grávida e uma criança no colo. Um, dois, muitos velhos. Estendidos, equilibrando. Pessoas indo acordar o mundo. E João. Abriu os olhos, era chegada a vez. Levantou o corpão. Depressa. Esbarrou no velho. Tropeçou na grávida. Derrubou a bengala do cego. Desceu. Abriu outra bala, jogou fora o papel, na calçada. De o primeiro passo. Caminhou. Um verdadeiro cidadão.
É como abrir um livro velho. Caminhar por caminhar, ao léo de suas vontades, pode se tornar uma revisita, ou reflexão, à própria vida. Andando pelas ruas, é possível ir se integrando à sua paisagem, fazendo parte de sua respiração, entrando na cadência de sua própria pulsação, tendo uma visão tão refrescante das árvores ladeando a caminhada, querendo até mesmo ser árvore.
Caminhando, pode-se vislumbrar outro destino, e num momento maior, levar todas as dores para um tempo que nunca existiu...

terça-feira, 14 de março de 2006

Reinvento


"É ressaca de carnaval no Brasil. Você vai para a folia? Muito legal. Aproveite bem. Conheço um monte de gente bacana que fica o ano todo planejando a festa, com aquele friozinho na barriga de quem antecipa uma explosão de prazer, uma oportunidade única de transgressão, de desligamento temporário da autocensura e das convenções sociais.
Algumas dessas pessoas são de fato criaturas dionisíacas. Gente que está sempre pronta a sugar da vida tudo o que ela tiver para dar. Gente alegre, para cima, que adora sorrir e fazer sorrir. São as cigarras do mundo. Uma turma que não se poupa, não guarda muitas preocupações nem enfrenta grandes crises morais. Seu foco nesta vida, afinal, é muito claro: sentir prazer, gozar muito, provar os sabores, dar risada.
Algumas das pessoas que vão cair de boca neste Carnaval, no entanto, não são dionisíacas, não têm essa leveza de alma nem esse desapego todo em relação a limites. Ao contrário: são pessoas que tentarão exorcizar na festa os pesados fantasmas que carregam consigo. Buscarão, de preferência longe de casa, do trabalho, dos amigos, numa cidade que fale outro sotaque, em meio ao clima de irrealidade e de exceção desses quatro dias, romper na marra e a fórceps com os grilhões do seu superego, com as regras caretas que regem a sua conduta diária, com o opressor senso de decência que lhes define.
Conheço mulheres travadas, de todas as idades, com medo da vida, de amar, de entregar a sua alma a alguém, de abrir verdadeiramente o seu mundinho para a felicidade entrar, que neste Carnaval tentarão desesperadamente extrair de dentro de si algo que não são. Garotas solitárias sairão seminuas debaixo de um abadá - como se isso fosse trazer para perto delas alguém de verdade, alguém com "a" maiúsculo. Moças infelizes sairão arreganhadas dentro de um shorts mínimo - como se a superexposição das suas carnes pudesse compensar a reclusão dos seus espíritos; como se recusar o papel de beata (que lhes dá ojeriza) pelo papel de devassa (que lhes enche de medo) pudesse lhes operar um milagre na auto-estima.
Só que nada disso resolverá os grilos dessas mulheres Ao contrário: esse vôo cego as torna ainda mais frágeis. E os seus grilos, mais evidentes e insuportáveis. Quem está insatisfeita consigo mesma deve procurar ajuda e não se auto-imolar em praça pública.
Não estou aqui fazendo um juízo de valor sobre soltar a franga. Quer soltar a sua na multidão? Divirta-se! Você tem o direito. Como qualquer outra mulher poderosa, interessante e independente. Como qualquer homem. Cair matando e curtir adoidado pode ser, sim, o maior barato. Desde que esta seja uma saída autêntica para você. Desde que você se sinta bem, que isso lhe faça feliz de verdade e que tenha a ver com quem você é lá no fundo.
Eis o meu ponto: tudo é lindo e permitido quando se é espontâneo e quando ninguém sai machucado. Se você é uma bacante maravilhosa, uma caçadora dos tesouros escondidos dentro da indumentária masculina, beba o Carnaval de canudinho - junto com todos os prazeres que o folguedo puder lhe oferecer. Tudo certo. Não há vergonha nenhuma nisso.
Mas se você não é exatamente uma ninfomaníaca, se é um pouco mais romântica ou se está num outro ritmo de vida e num outro astral no momento, não precisa posar de serial killer sexual. Com muita freqüência a gente toma atitudes pensando no impacto que vão causar na visão que os outros têm da gente. Mas é importante pensar um pouquinho também no impacto que seus atos vão ter na visão que você tem de si mesma, na relação que você tem consigo. Não force a sua barra em nome de um padrão de comportamento - que pode ser o de todos mas que talvez não seja necessariamente o seu. E tudo certo. Não há vergonha nenhuma em se respeitar, em se aceitar, em ser quem você é.
"With Or Without You", uma música belíssima do U2, tem uma estrofe em que Bono lamenta repetidas vezes: "And you give yourself away". (Que eu interpreto como "E você se entrega por aí".) É um pouco essa sensação que eu tenho ao observar o comportamento sexual autodestrutivo de algumas mulheres. (É curioso como boa parte das mulheres escolhe a cama para se flagelar.) Ultrapassar os limites do bom senso - que são individuais, portanto só você poderá dizer quais são os seus - é sempre uma atitude de autodepreciação, de desvalorização e de desrespeito de você por si mesma.
A esbórnia, enfim, pode ser uma bênção para quem souber usar. E um copo de vinagre para quem não estiver muito segura do que está fazendo ali. Na dúvida, fica a sugestão: só enfie o pé na jaca se você souber direitinho como tirá-lo incólume de lá depois."


Então eu vos exorto: aonde queres chegar?