terça-feira, 30 de dezembro de 2008



Esse quadrinho era pra ser publicado na edição da Mad sobre mangás, mas acabei estourando os prazos e ele ficou de fora... Snif!!

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Com o sorriso diz alegrias que as palavras desconhecem. Vai carimbando a vida de momentos que virão a ser lembranças boas, das quais um dia ainda vai rir. Sem perceber recolhe os próprios escombros, refaz o mundo de coisas boas em essência e acalenta o coração exausto de tanto abandono. Apaga o que era resquício de uma ausência permanente e desfaz a trilha de desamor derramado pelo caminho. Não é infeliz ao querer se livrar a qualquer custo daquilo que tanto lhe custou. Sabe que tudo isso é ainda maneira de exercer a perseverança sem que a tristeza a saiba. Quem sabe olhar pra frente não cai e se cair, cai pra cima. Tudo porque o coração quer continuar solto no embalo do próprio descompasso. E nesse carnaval de lágrimas e sangue, seguir dançando.

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

MAD


Ho,Ho,Ho!
Esta é minha estréia na revista Mad... Quem quiser conferir a bagaça impressa é só comprar a edição de Dezembro! Além desse quadrinho tem também um cartum de Papai Noel!!

Ps. Se vc tem problema de visão ou está ficando velho(a), clique no desenho para ver a imagem ampliada!

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Cinema

Bom, a monografia e pedreiros que não cumprem o combinado (minha casa sem telhado) tem tirado todo o meu sono e aguçado a minha ira... Então eu imagino essas asneiras para tornar a vida mais leve!

terça-feira, 11 de novembro de 2008

Hoje

Hoje, nenhuma canção no mundo faz mais sentido do que "Quem sabe?" dos Los Hermanos...

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Apesar dos pesares

Amei do jeito que acreditava ser o mais verdadeiro. Amei pontualmente. Amei na pálida esperança de que amar resolve. Amei para combater a própria covardia que reside em nós – em todos nós – e nos impede de tentarmos manter relações com os afetos abertos. Amei com toda força, com todo o amor que havia, escancaradamente, pra que não sobrasse amor nenhum.

Amei na frágil esperança de que amar resolve.

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

domingo, 12 de outubro de 2008

Não me defina em nada que você conheça. Eu sou bem mais que esse silêncio breve no qual você me figura. Não cabe em mim a gama de significados suficientes para me explicar. Não há pedágio que controle os sentimentos transeuntes que perpassam pelo meu peito. Você não sabe a metade, mas acredita que sabe tudo e mais um pouco. Vou te dizer: nem sempre eu ando para chegar a algum lugar, ando só por andar às vezes. Nem sempre estou feliz quando sorrio, sorrio pra não chorar também. Nem sempre fico calado por não saber sobre o que está sendo discutido, me calo para não mudar o rumo das conversas. É estranho tudo parecer óbvio demais, mas cada folha que cai da árvore com a força do vento tem seu motivo e sua hora certa para cair. Assim como cada coisa que dizemos, fazemos, compramos, amaldiçoamos, amamos, destruímos, subestimamos, acreditamos e procuramos sem perceber por que.

Não me defina em algo que você não conheça também. Há quem me identifique nas coisas. Há quem me desenhe nas cinzas a tempo do vento ou na areia a tempo da maré. Há quem afirme com toda certeza o que sou num contexto geral, e juram – de pés juntos – que têm a certeza, sem perceberem que a vida, por si só, já é uma busca incessante por certezas.

Acho que é porque minha inquietude perante a tentativa da vida de virar rotina azucrina. Porque eu sempre imploro para que me mostrem chegada e alvo, mas nunca, nunca me deixem ciente dos limites.

Não me defina.

domingo, 5 de outubro de 2008

No dia ideal, que já existe lá na frente, está todo mundo calmo e lívido. Os sorrisos em cada rosto não são extravagantes porque não há o engraçado, mas sim o satisfatório. Os rostos estão enquadrados milimetricamente para serem postos permanentemente na memória de cada um. Para que cada um os possa relacionar com outras lembranças e com a trilha sonora que quiser. E a lembrança é feliz porque ao vê-la de novo, assim, acordada, tomo consciência de que momentos como o de agora, em que palavras jorram como choro, hão de voltar esporadicamente. Só é preciso um sábado, uma tarde, um andar a pé sozinho, um descompromisso com o próximo segundo, um violão que se manteve afinado, mesmo estando abandonado por longos dias.

Só é preciso reencontrar-se consigo mesmo para ver além das coisas.

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Minha literatura não me serve se não houver dor pra curar. Não há entretenimento que mereça meu esforço literário se não for o de remediar a vida com palavras. Há quem escreva para provocar o riso dos outros, para instigar o sentimento de patriotismo, para delatar más ações, para engrandecer o ego alheio, para proporcionar auto-ajuda e outras muitas coisas sem valor, mas eu não. Eu só escrevo para sarar a mim mesmo. Minha literatura é auto-medicinal e qualquer tema que eu venha abordar – por mais que cause riso, orgulho, dúvida, medo ou alegria a outrem – não tem outro objetivo que não seja o de me remediar.

Certamente remedia-se aquilo que não se preveniu, e eu, propositalmente, deixo tudo acontecer para que seja preciso um remédio e para que a minha escrita, consequentemente, tenha o seu porquê de existir. Às vezes faço meu curativo com as mesmas palavras com que me corto.

Sem medir, sem mediar, sem despertar, sem me mover.

Eu quero uma solução para a minha condição.

Percebo minha escrita com o repúdio da lucidez, com a capacidade de julgamento ponderado, com a consciência da justa avaliação. Sei que o meu quase-tudo não é nada. Sei o quanto não se satisfazer com palavras e o quanto não saber sobre o infinitivo “escrever” dói. Posso pressentir o incômodo das vezes em que irá voltar a sensação de impotência diante dos escritos passados. É um sintoma que se antecipa como uma flor que cresce já sabendo ser o adubo que a terra espera.

“Ler mais, escrever menos”, se fosse fácil como parece já teriam resolvido meu caso. Doença sem cura? Talvez um caso que esteja se tornando clínico...

Mas mesmo assim eu continuo. Terapêuticamente.

sábado, 20 de setembro de 2008

ELEIÇÃO




Bom, pessoal... É isso aí.

Estou participando de mais um concurso e desta vez tem votação pela internet para escolha dos melhores trabalhos! Meu trabalho está entre os 20 melhores, agora é partir pra reta final... Ré,ré!!


O concurso é promovido pela FNAC e é um estímulo aos novos talentos do quadrinho nacional.


Conto com o voto e a torcida dos meus amigos e leitores deste blog!!


Ps. Dá pra ver que não tenho nenhum cacoete de político, né?Ré,ré!

Ps.: Quem é leitor(a) assíduo(a) deste blog, vai ver que se trata de uma adptação de um texto que publiquei aqui meses atrás.


trat

domingo, 14 de setembro de 2008

AO ACASO...

[Eu nunca percebi. Nunca mensurei a falta que você me fazia. Nunca me dei conta do vazio que existia no antes, da urgência que havia de eu te conhecer. Uma urgência desconhecida, um débito que o que o tempo e o acaso tinham comigo por não terem feito com que batêssemos de frente mais cedo.]

[Porque se tudo veio a acontecer agora deve haver um motivo. Porque talvez não tivéssemos a mesma aptidão um para o outro como temos agora. Porque as coisas acontecem no instante exato em que estamos sem defesa.]

[É como me sinto: desarmado diante da força do acaso, impotente frente à rajada de boas eventualidades que tem me acontecido. Desfruto dos prazeres de uma boa companhia e do diálogo sensato que ela me oferece.]

[Sei que aproveito melhor a existência porque o estado de transe em que imagino estar me permite medir o passar tempo não através de minutos, mas através de carícias, sussurros e sorrisos.]

[... e só mesmo tendo o estado de consciência ligeiramente alterado é que gastaria meu precioso tempo escrevendo essas coisas.]

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Dessa vez deu certo...

Depois de muita ralação e ensaios em horários e lugares inconvenientes...

Nonada: 3º lugar no Festival da Canção de Lagoa Santa – 2008 com a canção "Eu não sou daqui" e Prêmio de melhor instrumentista para nosso baterista, Tiago Alencar.








Tiago Alencar




Raul Mariano




"...eu vou fugir pra bem longe daqui..."



Guilherme Sigiliano




Wandick Senna



"A platéia"



Nonada


Nosso muito obrigado a todos os que compareceram ou que, mesmo de longe, estiveram pensando positivo.

"... banda nonada chegou com gasolina e colchão..."

Para saber mais: http://palcomp3.cifraclub.terra.com.br/banda_nonada/

sábado, 6 de setembro de 2008

Rua Boaventura

Rua Boaventura

Da janela do apartamento
Ele via surgir mais um dia cinzento
As cores e as alegrias iam na roupa da menina
Parada no ponto de ônibus
E os ônibus eram todos azuis
Da cor do dia que não se abriu
Da cor do céu que não sorriu
As cores e as tristezas iam presas na retina
Ele vai fazer um café?
Quem sabe? talvez...
Brincar com Letícia?
Ela ainda dormia, seus olhos de gata
Ainda sonhavam
Suspirava...
Ele sorria e pegava na tela de proteção
Sujava suas mãos com a fuligem
Puxava para os pulmões os pedacinhos da cidade
Ele não estava ali
Não estava ali
Estava ali
Ali




* mais uma letra esperando uma canção... Ré,ré

terça-feira, 2 de setembro de 2008

domingo, 31 de agosto de 2008

Modernidades

Outro dia morri de rir de um post da Ferdi que falava sobre a "inserção" das bandas de pagode na modernidade. Concordo com a crise de risos dela...rsrsr Acho que não há nada demais em falar das coisas novas, modernas... Mas quando o fizer, que seja bem feito. Aí em baixo segue uma letra do Jorge Ben Jor (a música é deliciosa) em que ele fala do rádio de um jeito simples e inteligente e, como o próprio Benjor diria, contagiante!!


Para Ouvir No Rádio (Luciana)
Jorge Ben Jor

Eu vou fazer uma canção singela
Prá você se lembar de mim quando ouvir rádio
Em ondas médias em ondas curtas
E freqüência modulada prá você se lembrar de mim
Quando ouvir no rádio
Mas se você não puder ouvir
Por falta de tempo ou por falta de rádio
Alguém há de passar cantando assobiando
Perto de você
Mas se depois disso tudoVocê não conseguiu ouvir
Porque não quis ou por algum problema
Subirei descerei o morro novamente
Como um guerreiro vencedor
Cantando o meu hino de amor
Luciana, Luciana, LucianaLuciana, Luciana


Ps.: Raul, vc tá devendo um post para falar do seu primeiro prêmio como compositor, camarada!!
Nada de modéstia, heim!!?

domingo, 3 de agosto de 2008

O caminho de Pisar Com os Olhos

O sapato sujo
A cara lavada
O amor no bolso
O pé na estrada
Sigo em frente quase sem querer
As muitas estrelas do céu
Dançam desorientadas sobre mim
De quando em quando um bar
E bebo goles de alívio
Tristezas e alegrias vão me acompanhar
Mas vou bem melhor
Vou bem melhor sozinho
Eu sei

sexta-feira, 25 de julho de 2008

Manual Cerebral News: Fofocas em tempo real.


* As especulações estão realmente fortes agora. Marcelo Camelo deve realmente lançar um disco solo até meados de 2009 (Viva!). Enquanto isso a Multishow começa a anunciar o lançamento de um DVD com o registro de um dos últimos shows da banda em recesso mais cultuada do país. (E existe outra, por acaso?)

* Bruno Medina está em turnê com Adriana Calcanhotto, na divulgação do excelente "Maré", disco lançado esse ano.

* Rodrigo Barba está tocando com uma pá de gente (quem tem banda sabe como é difícil arranjar bateirista), dentre elas o Latuya (projeto paralelo que o bateirista já mantinha antes dos Los Hermanos pararem.)

* Rodrigo Amarante, quem diria, está armando um projeto com ninguém menos que os Strokes. Na foto abaixo entre as meninas bonitinhas está Nick Valensi (primeiro à esquerda), guitarrista da banda. Ao baixar a foto (que está no Myspace de Nick) descobre-se que o nome do arquivo é "Xmas1". Veja você que o natal do rapaz parece ter sido divertido...

E enquanto nada acontece a gente continua esperando... esperando... esperando só... esperando o trem...

domingo, 20 de julho de 2008

Dou-lhe uma, dou-lhe duas...

Numa conversa recente com meu amigo Alves, falávamos sobre esse “fenômeno” pelo qual passa a indústria fonográfica mundial. A necessidade da produção em série para fazer funcionar a máquina mercantil da arte. A necessidade de haver música comercial em todos os gêneros existentes. O cuidado que NÃO se tem ao se rotular a música e o cuidado precisamos ter com os pequeninos, para que eles tenham o privilégio de experimentar, junto com o que lhes é oferecido hoje, um pouco dos sons que fizeram e fazem nossa cabeça. O que é comercial e o que não é? Tudo que é comercial é lixo? O texto abaixo (apesar das piadinhas) trata seriamente de um caso específico relacionado a essas idéias.


PROTESTO

É realmente incrível o poder de apropriação que a indústria exerce sobre o artista, e pra ser mais exato, sobre a arte de um modo geral. A modinha de lançar álbuns póstumos de artistas consagrados deve incomodá-los onde quer que eles estejam. Os exemplos são incontáveis: Cazuza, Cássia Eller, Raul Seixas, Gonzaguinha, Pixinguinha, Tom Jobim, Vinícius e é claro, o campeão - Renato Russo. Imaginem vocês que a última desse pessoal foi lançar um álbum do artista com as demos de uma gravação dessas que a gente faz em casa, pra não esquecer a música, no formato voz e violão, feito pelo próprio Renato em meados de 1982. Eu aposto com qualquer um que se o músico estivesse vivo isso não aconteceria em hipótese alguma. Primeiro pelo nível técnico da gravação, absurdamente ruim. E depois pelo fato de o álbum, além de não trazer qualquer novidade, ser batizado com o nome de “O Trovador Solitário”!?.

O coitado deve se retorcer de ódio no caixão só de pensar que pegaram aquelas suas fitinhas K7, guardadas ali na última gaveta do seu guarda-roupa, e as transformaram num CD que vai encher o bolso de uma galera! Sim, porque os fãs de carteirinha (que todo mundo sabe: não são poucos) vão comprar o disco e vão achar lindo “Faroeste Caboclo” começando num tom e terminando em outro. Não por causa de uma mudança de tom natural na música, mas por causa da distorção incorrigível da fita demo.

Que diabos levam uma gravadora a lançar um disco com as mesmas músicas que já saíram em outras quatrocentas e trinta e sete mil coletâneas lançadas anteriormente? E pra piorar numa versão violão e voz de quinta categoria? Se a intenção era difamar Renato Russo e acabar com a boa lembrança que ainda temos dele tudo bem. Demorei pra entender porque não estava bem explicado.

É revoltante ver gente fazendo dinheiro com a arte alheia depois que o verdadeiro artista já foi dessa pra melhor. É gente vendendo as cuecas usadas (e não lavadas) por artistas antes de morrer. Gente pedindo uma fortuna por um pequeno pedaço de papel higiênico que aquele ídolo pop usou pra limpar o rabo antes do seu antepenúltimo show. Gente se enriquecendo com leilões de bugigangas nas quais artistas encostaram por um milésimo de um segundo uma vez na vida. É justamente aí, nesses atos de suposta homenagem, que reside toda a falta de respeito com quem fez história.

Hoje em dia, sobretudo a nível de Brasil, tornou-se muito difícil “a vida” de pop-star-defunto.

Memorial

O texto abaixo é o trecho de um memorial que fiz para disciplina Prática de Ensino.
Deveríamos falar de nosso primeiro olhar geográfico, as primeiras impressões...


"Não me lembro bem como foi que de repente essa idéia se plantou na minha cabeça de menino. Menino... Acostumado com os pequenos verdes duros do cerrado no de redor da casa - os pés no chão, cabecinha nas nuvens. Brincadeiras de ir e vir. Buscar cajuzim, murici, sangue-de-cristo, pequi... Todos os sabores do mato eu sabia. Os bichos - sempre gostei mais de ver do que de matar.Tinha dó, inda hoje tenho. Adorava ver pica-pau voando seu vôo picado. Três batidas de asa e se fingia que caia no ar, pra depois levantar vôo de novo -e lá se ia o bicho voando no seu desajeito. Deselegância bonita. Tinha também as “trucal”, estas não se paravam muito por perto, não. Ariscas, passavam em bando no seu vôo cheio de silêncio e pressa. Os passarinhos tesoura apareciam mais pra Setembro, comecinho das chuvas. Caçavam com maestria as mutucas depois da invernada... Eu ganhava longas horas dos meus dias apreciando o “de fazer” dos bichos todos. Ah, eu gostava muito disso. E era assim, os dias se passando. A nossa casa só no reboco, ainda em construção -eu na frente do que seria a varanda olhando aquele mundo quintal. Resto de tardinha. E mãe me chamava pra entrar. Entrar, eu não entrava assim de primeira, ficava na porta e olhava o morro. É, e tinha o morro. O morro era o mundo? O morro me intrigava, não via o depois dele. O que viria? Tinha outro o quê? Eu lá sabia? E dei de pensar no morro... Todo dia imaginava o que havia de se esconder ali, por detrás dele. Mas nunca que via nada. Nuvem branca nublando minha mente. Pensava, Pensava... E então um dia, dei por solucionado o mistério. Descobri. Atrás do morro tinha uma onça. É, uma onça. Os grandes olhos de gato, bicho absurdo de grande, deitada preguiçosa numa moita de capim-meloso. Minha idéia de menino. Eu via. E me bateu uma vontade de subir o morro, topar com a felina. Eu podia... Passei o dia fazendo minha zagainha de bambu, que cortei no bambuzal do Bequinho. Ponta de canivete na frente, reluzindo. Arma de se matar assim de espeto, o bicho pulando por de cima de mim, e só eu furando o coração por debaixo do braço monstro dela. Ah, eu podia sim! À noite nem sei se sonhei, dormi num vendaval - a pressa de uma nova manhã. Acordei num pulo, e já me vi correndo no meio do mato. O cheiro da manhãzinha ainda ia alto, molhado. Fui subindo o morro, suor pingando na cara. Um casal de papagaios passou voando. Vi nem vi -só o morro e a onça cabiam no meu peito. E o morro foi se acabando. Fui chegando... E a zagainha tremia nas mãos. Foi então que vi-descobri, eu no alto do morro, lá do alto... Não havia onça nenhuma. Nenhum bicho de se pegar na luta. Só um mundo grande demais, de não se caber nos olhos, nem de se abarcar na alma miúda de gente criança. Imensidão muda. O mundo que se abria num quase infinito se fez meu... Os quintais e varandas haviam ficado pequeninos demais – como um menino.
E dei de crescer...

sábado, 12 de julho de 2008

Rosa

Este ano Guimarães Rosa estaria completando 100 anos. Faço esta pequena homenagem ao escritor e de quebra ao brother Raul e a nova banda dele, cujo nome é o mesmo do título da letra. Pretendo postar todo mês uma letra inspirada no sertão encantado de Rosa. Pra começar, a primeira palavra da obra prima do autor ...




Nonada

Não é nada não
É só meu coração batendo forte logo ali
Bem fora do peito
E eu não sei direito tudo que senti
Vendo o céu se abrir
Nuvem, rosa, seca - o sertão é logo ali
Em todo lugar que há de se existir

Não é nada não
É só meu coração batendo forte dentro aqui
Bem dentro do peito
E eu não sei direito tudo que senti
Vendo o céu se abrir
Nuvem, rosa, vento – o lugar a se partir
Coração sangrando até se consumir


Não é nada não
É só meu coração batendo forte ao sentir
O mundo no peito
E eu não sei direito tudo que senti
Vendo o céu se abrir
Isto é um novo jeito, uma nova forma de sorrir?
Nuvem, letra, rosa – o sol que nasce por aqui
Luz pra confundir?

Não é nada não
É só meu coração batendo forte até se abrir
Até rasgar o peito
Agora sei direito tudo que senti
Vendo o céu se abrir
Nuvem, rosa, sangue – o infinito cabe aqui
O sertão no peito
Coração batendo alto pra ninguém me ouvir

segunda-feira, 30 de junho de 2008

Junho

Junho

Alceu Valença

Eu sei que é junho, o doido e gris seteiro
Com seu capuz escuro e bolorento
As setas que passaram com o vento
Zunindo pela noite, no terreiro
Eu sei que é junho!
Eu sei que é junho, esse relógio lento
Esse punhal de lesma, esse ponteiro,
Esse morcego em volta do candeeiro
E o chumbo de um velho pensamento
Eu sei que é junho, o barro dessas horas
O berro desses céus, ai, de anti-auroras
E essas cisternas, sombra, cinza, sul
E esses aquários fundos, cristalinos
Onde vão se afogar mudos meninos
Entre peixinhos de geléia azul
Eu sei que é junho!

Alceu é um gênio e esta música é linda...
Já passei um inverno no nordeste, aquela chuvinha fina batendo na cara da gente... Por que é que gosto de tudo ao contrário (todo mundo idolatra o sol do nordeste)?
Ré,ré!

Poema contra a solidão

O silêncio que se materializou perverso
o silêncio que aboliu a canção
seja agora corrompido
tenha seu hímen obstruído pelo barulho poluído do meu instrumento.

o silêncio que encarnou o vazio
o silêncio que se fez interior
seja nesse instante dilacerado
por um ruído humano, sólido e rosado.

o silêncio e todas as peças imateriais que o compõem
derretam no fogo de qualquer microfonia
e formem um homem novo
feito mais de barulho que de silêncio.

segunda-feira, 23 de junho de 2008

MÚSICA PRA SALVAR O DIA

QUALQUER - Arnaldo Antunes / Hélder Gonçalves / Manuela Azevedo

qualquer traço linha ponto de fuga
um buraco de agulha ou de telha
onde chova

qualquer perna braço pedra passo
parte de um pedaço que se mova

qualquer

qualquer fresta furo vão de muro
fenda boca onde não se caiba

qualquer vento nuvem flor que se imagine além de onde o céu acaba

qualquer carne alcatre quilo aquilo sim e por que não?

qualquer migalha lasca naco grão molécula de pão

qualquer dobra nesga rasgo risco
onde a prega a ruga o vinco da pele
apareça

qualquer lapso abalo curto-circuito
qualquer susto que não se mereça

qualquer curva de qualquer destino que desfaça o curso de qualquer certeza

qualquer coisa

qualquer coisa que não fique ilesa

qualquer coisa

qualquer coisa que não fixe

quinta-feira, 19 de junho de 2008

EVAPORAR

O futuro tem, pelo menos, a vantagem de não ser o presente.

Apesar de imprevisível, inacessível e descolorido, ainda não uma realidade que doa no estômago. O futuro pode ser um alicerce para a projeção da miséria humana em toda sua infalibilidade ou uma verdade da qual não queiramos saber. Não importa. Basta se encharcar do agora que possuímos como um pano de chão embebido de lama para sentir o que eu estou falando. O agora me traz sentimentos que de tão interiores chegam a ser vazios: não descubro, pressinto.

Há que se entender tantos sinais a nossa volta. Tatear no escuro do mundo nossa imaterialidade. Entrar em estado gasoso, já que é assim que dizem que as almas se materializam. Mas no futuro a gente sabe que não existe alma. Lá, alma é mentira e uma mentira que convence mais do que qualquer verdade.

Olha só que verdade triste: por ter mais dinheiro do que os que passam fome já sou, de algum modo, desonesto. Sou um elo formador da corrente da desigualdade. Contribuo para o distanciamento consentindo. E mesmo no momento da covarde fuga sou capaz de me sentir bem: já providenciaram uma música para esse momento. Anestesiaram a dor de sermos o que somos e estarmos nesse mundo em forma de gente em vez de outra coisa.

A “verdade realmente verdadeira” é que a vida é cheia de problemas e a gente passa tempo demais tentando ser discreto. É preciso evaporar. Conseguir se transportar para o futuro, porque este, ao menos tem a vantagem de não ser o presente.

sábado, 14 de junho de 2008

ELA

Ela foi feita pra realizar desejos. É a solução para os meus sonhos não consumados. É um paraíso para as vontades da carne. É uma ordem irracional, um “carpe diem” da boca pra fora, uma profecia vã.

Eu nela sou eu mesmo? E o que há dela em mim, além do próprio mandamento de adorá-la em segredo e em silêncio?

Ela foi modelada com todo o zelo até no seu jeito de ser desleixada. Tudo que a compõe foi calculado para ser de meu agrado. Sim. Eu gosto das unhas com esmalte descascando, as unhas mal ruídas. Eu gosto do cabelo embaraçado, preso para disfarçar os nós e gosto das pontas ressecadas de cada fio, queimadas de sol. Eu gosto da calça barata e surrada, apertando matéria em espaço insuficiente.

Ela foi feita para, de alguma forma, eu despejar meu gozo. Mesmo que só em pensamento? só com o olhar? Nela estaria a amplitude absoluta do sentimento? Do desejar antes, gostar depois? Do “se amassar” antes de saber o nome? Nela estaria a significação da mediocridade inerente a mim? A justificativa para a tão condenada banalização do amor? Nela estaria a perdição que eu procuro? Há maneira de se perder em alguém? E o amor, já não é banal antes de existirem ela, eu e toda essa bobagem?

Ela é a porta menos estreita, escancarada, pedindo calada pra ser invadida. Serei eu, algum dia, o invasor?

Ela é a outra vida nessa vida. Tesão platônico.

sábado, 7 de junho de 2008

Ilustração/Quadrinho Sobre Desmatamento


Fiz esta ilustra para a Editora Dimensão... Achei que ficou "bunitinha" e resolvi postar!



Tô andando meio sem tempo, mas tenho escrito algumas coisas, em breve posto aqui!

Abs

quarta-feira, 4 de junho de 2008

FILOSOFIA BARATA


Tanta coisa acontecendo ao mesmo tempo. Ou é o tempo que acontece durante o correr das coisas? Não sei. Sinceramente não sei. Talvez sejam as duas coisas, ou talvez as duas coisas sejam uma só.



De que vale a intenção de saber mais sobre as coisas?



Se uma coisa existe, uma intenção existe.



Uma pedra existe.

segunda-feira, 2 de junho de 2008

POEMA DE QUALQUER UM



É impossível, meu amor
fugir da vida, contar o tempo, medir o mundo.
É esforço vão tentar saber de tudo.

É uma enorme bobagem
tentar fugir daquilo em que a gente não acredita



[A verdade mais falsa do mundo é
se olhar no espelho, todo dia de manhã]

Participar de acontecimentos e
resistir ao passar do tempo
não é uma virtude exclusiva.
É possível influênciar alguma
coisa no mundo mesmo passando despercebido.

Não se sinta derrotada só porque você
não tem certeza de nada do que você faz;
para ser mais feliz, não sinta.

Tenha fé na força do silêncio.
Já basta.

sábado, 31 de maio de 2008

CONSTATAÇÃO

Eu ganhei uma mesa, um computador, um carimbo no meu nome, um horário a ser cumprido e uma relação rigorosa de afazeres. Passei a usar (esporadicamente) sapatos e roupas mais “sérias”. Comecei a reclamar de coisas que outrora aconteciam, mas não faziam surtir qualquer ato repulsivo de minha parte. Entendi perfeitamente o que era a palavra rotina e descobri vivendo, muitos dos males trazidos por ela. Aumentei então minha coleção de vícios.

Acho que além de me tornar um adulto eu me tornei um homem-comum.

sábado, 17 de maio de 2008

UM TEXTO QUE VALE A PENA LER ATÉ O FINAL

MEU IDEAL SERIA ESCREVER...

MEU ideal seria escrever uma história tão engraçada que aquela moça que está doente naquela casa cinzenta quando lesse minha história no jornal risse, risse tanto que chegasse a chorar e dissesse — "ai meu Deus, que história mais engraçada!" E então a contasse para a cozinheira e telefonasse para duas ou três amigas para contar a história; e todos a quem ela contasse rissem muito e ficassem alegremente espantados de vê-la tão alegre. Ah, que minha história fosse como um raio de sol, irresistivelmente louro, quente, vivo, em sua vida de moça reclusa, enlu¬tada, doente. Que ela mesma ficasse admirada ouvindo o próprio riso, e depois repetisse para si própria — "mas essa história é mesmo muito engraçada!"

Que um casal que estivesse em casa mal-humorado, o marido bastante aborrecido com a mulher, a mulher bastante irritada com o marido, que esse casal também fosse atingido pela minha história. O marido a leria e começaria a rir, o que aumentaria a irritação da mulher. Mas depois que esta, apesar de sua má-vontade, tomasse conhecimento da história, ela também risse muito, e ficassem os dois rindo sem poder olhar um para o outro sem rir mais; e que um, ouvindo aquele riso do outro, se lembrasse do alegre tempo de namoro, e reencontrassem os dois a alegria perdida de estarem juntos.

Que nas cadeias, nos hospitais, em todas as salas de espera a minha história chegasse — e tão fascinante de graça, tão irresistível, tão colorida e tão pura que todos limpassem seu coração com lágrimas de alegria; que o comissário do distrito, depois de ler minha história, mandasse soltar aqueles bêbados e também aquelas pobres mulheres colhidas na calçada e lhes dissesse — "por favor, se comportem, que diabo! eu não gosto de prender ninguém!" E que assim todos tratassem melhor seus empregados, seus dependentes e seus semelhantes em alegre e espontânea homenagem à minha história.

E que ela aos poucos se espalhasse pelo mundo e fosse contada de mil maneiras, e fosse atribuída a um persa, na Nigéria, a um australiano, em Dublin, a um japonês, em Chicago — mas que em todas as línguas ela guardasse a sua frescura, a sua pureza, o seu encanto surpreendente; e que no fundo de uma aldeia da China, um chinês muito pobre, muito sábio e muito velho dissesse: "Nunca ouvi uma história assim tão engraçada e tão boa em toda a minha vida; valeu a pena ter vivido até hoje para ouví-la; essa história não pode ter sido inventada por nenhum homem, foi com certeza algum anjo tagarela que a contou aos ouvidos de um santo que dormia, e que ele pensou que já estivesse morto; sim, deve ser uma história do céu que se filtrou por acaso até nosso conhecimento; é divina."

E quando todos me perguntassem — "mas de onde é que você tirou essa história?" — eu responderia que ela não é minha, que eu a ouvi por acaso na rua, de um desconhecido que a contava a outro desconhecido, e que por sinal começara a contar assim: "Ontem ouvi um sujeito contar uma história..."

E eu esconderia completamente a humilde verdade: que eu inventei toda a minha história em um só segundo, quando pensei na tristeza daquela moça que está doente, que sempre está doente e sempre está de luto e sozinha naquela pequena casa cinzenta de meu bairro.

Rubem Braga

segunda-feira, 12 de maio de 2008

Eu também ainda brigo por sonhos...

Flores E Espinhos
Herbert Vianna
Nessa época do ano
Quando o frio vem chegando
E há menos flores que espinhos
Os dias perdidos
Vem a luz
Ainda éramos filhos
Éramos amigos
Até sermos engolidos
Pela vida sem brilho
Por nossos inimigos
Na rotina comum
E sou só um
Mas não sou um deles
Eu sou só um
E mesmo que pareça tolo
E sem sentido
Eu ainda brigo por sonhos
Eu ainda brigo
Ps.: E que friozinho bom nos trouxeram os ventos de Maio...

domingo, 4 de maio de 2008

Música Popular Brasileira

Dizem que depois que a gente entra pra universidade nosso senso de auto-crítica aumenta assustadoramente né? Pois é, deve ter dado pra perceber que já faz um tempo que eu não coloco aqui um daqueles meus textos piegas-humorístico-político-poéticos. Mas não é por vaidade não. É primeiro por falta de tempo (só Deus sabe o quanto tem me faltado) e depois por falta de coragem. A gente envelhece e vai ficando mais exigente... aff. Hoje, ao me deparar com essa obra-prima que vocês poderão assistir aí em baixo, percebi que auto-crítica demais é bobagem. O mundo é de quem tem coragem pra fazer. E, é claro, tempo.


LETRA:
O Metalcreu ele tem destruição..O Metalcreu tem é agressividade..O Metalcreu ele é muito mais fodão, e vai botando pra fuder em suas 5 velocidades. O Metalcreu ele tem destruição.
.
O Metalcreu tem é agressividade.
.
O Metalcreu ele é muito mais fodão, e vai botando pra fuder em suas 5 velocidades.

quinta-feira, 1 de maio de 2008

terça-feira, 15 de abril de 2008

Olha ali sou eu pendurado no fio desencapado do poste de alta tensão

Ainda não consegui imaginar um nome para esta letra que fiz ontem... Por isso o título é o exato momento em que terminei de fazer a letra.

Ps.: O título do post é um trecho da música "Pendurado", do Wado!

20:34 h

Adeus!!!
É tempo de me encontrar
Sei que tudo vem – querendo
Não digo isso por nós dois
Sei que o tempo está – correndo

Se tudo foge do lugar
Eu não devia estar – sofrendo
E deixo tudo pra depois
Se não sei o que estou – vivendo

Eu vou pra nunca mais voltar
E sei o que estou – dizendo
Faço parte do que foi
E não do que estava – sendo

Se tudo vem bem devagar
Vou divagar num – tempo
Um tempo antes de nós dois
Ver o meu amor –morrendo

quinta-feira, 10 de abril de 2008

MIL TRÊTAS E MIL TRUTAS

Fala Raul!!
O negócio é o seguinte... A Reitoria ainda tá "invadida" e no exato instante em que faço este post, tá rolando uma reunião aqui no IGC sobre essa bagaça! Sofro da síndrome de "Forrest Gump" e cheguei pouco depois que tava rolando estas trêtas aí... Já tinham prendido o rapaz e tal... Mas é isso aí mesmo, de um lado galera metida a Che Guevara e do outro um batalhão de toscos Capitães Nascimento. Tô meio sem paciência pra este tipo de coisa, provavelmente são os "trinta anos e este colchão"... Mas o fato é que não rolou tolerância nem de um lado e nem do outro, e como os argumentos dos policiais- vamos dizer assim- eram mais fortes, uma grande maioria de pseudo-revolucionários acabou levando a pior... Nada que uma cama bem quentinha em algum bairro nobre da cidade não resolva...Depois a gente só escuta o barulho dos alarmes dos carros: - *Pi@pi! E os cara vão tudo embora de carro importado, como diria o grande filósofo da Pós-Modernidade e jornalista *Cleanderson de Paula...

ESTOU CANÇADO DE VER ESTA GALERA, E MUITAS OUTRAS QUE PASSARAM, TENTANDO FAZER "REVOLUÇÃO" DENTRO DA UNIVERSIDADE! SÓ QUEREM FICAR DISCUTINDO ESTES TEMAS- DITOS POLÊMICOS- DENTRO DA CERTA SEGURANÇA QUE O CAMPUS OFERECE...SE NINGUÉM TIVESSE CHAMADO A POLÍCIA, O QUE TERIA ACONTECIDO É QUE O PESSOAL IA VER O FILME MAIS UMA VEZ ( EU ASSISTI NO ANO PASSADO, E NÃO ROLOU NENHUM STRESS) E DEPOIS FUMAR UNS BASEADOS. NADA MAIS...É DA MAIOR IMPORTÂNCIA ESTA QUESTÃO DA MACONHA E ACHO QUE DEVIAM PROCURAR UM LUGAR COMO A PRAÇA SETE PARA ESTAREM OCUPANDO E GRITANDO BEM ALTO: - LEGALIZE!!! MAS REITORIA É MUITO FÁCIL...É CHUTAR CACHORRO MORTO. A NÃO SER QUE SEJA MAIS UM ESTÁGIO DE VIVÊNCIA DOS CARAS, AÍ TUDO BEM!RÉ,RÉ!
DO OUTRO LADO TEM A POLÍCIA QUE ,DEPOIS DO FILME TROPA DE ELITE, ACHA QUE DEVE TRATAR TUDO NA BASE DA TRUCULÊNCIA E SAI DESCENDO O CACETE NA GALERA SEM DÓ, E OLHA QUE FIZERAM POUCO... TODO MUNDO TÁ CARECA DE SABER QUE NAS VILAS E FAVELAS A COISA É PIOR.BOM É MAIS OU MENOS ISSO AÍ. EU ESTOU MUITO CANÇADO DO PESO DA MINHA CABEÇA...

* Aquele som do alarme do carro
* PHD em picaretagem e outras artimanhas

sábado, 5 de abril de 2008

Virou bagunça?

Dessa vez foi o pessoal da UFMG, após a exibição de um vídeo sobre os benefícios da liberação da maconha. Os "omi" levaram todo mundo...



quinta-feira, 3 de abril de 2008

Manoelzinho da Crôa - layout

Este personagem foi baseado num trecho do livro "Grande Sertão Veredas". Ele era o passarinho que Diadorim mais gostava de ver... Se no livro ele era pura prosa/poesia*, aqui tem como meta a conscientização das novas gerações quanto à questão da destruição do Cerrado... É isso aí! * No caso do Rosa nunca dá pra definir...

domingo, 30 de março de 2008

Complemento

Pra completar o que o Alves comentou no último post resolvi postar o vídeo do Camelo com a criançada do bairro 6 de maio, no Rio. Bonito demais da conta...

Ah, doce solidão...

terça-feira, 25 de março de 2008

Quando Maio Chegar

Maio

Eu gosto de dias azuis
Eu gosto de dias claros
Ver no céu dançando os urubus
Nos seus céus de dias calmos

Sob o céu de dias azuis
Piso no chão sem nenhum alarde
Ver no céu dançando os urubus
Este céu de dias claros

Eu gosto de dias azuis
Os olhos bem abertos pra ver
Ver no céu dançando os urubus
No meu céu de dias calmos

quinta-feira, 20 de março de 2008

REVOLUÇÃO (!)

O vídeo é auto-explicativo. Só tenho que avisar que eu sou um dos atores coadjuvantes. Apareço atrás do protagonista (o grandalhão) em alguns momentinhos, antes do pau quebrar. Na hora em que todo mundo embola um no outro não vai dar pra me ver direito porque meu volume corpóreo é menor do que o dos outros "participantes". Como sair na porrada (ainda) não resolveu o problema, só restou a oportunidade de espalhar pra todo mundo essa obra de arte. CLICA! CLICA!

sexta-feira, 14 de março de 2008



2 anos. Parabéns Manual Cerebral!

(Obs.: E parabéns pra Maria Samara que hoje é o dia dela também!)

A falta de tempo é muito maior do que a vontade de escrever coisas legais aqui nesse dia especial.

A vida voa.

domingo, 9 de março de 2008

Fita Bruta - Wado e Realismo Fantástico

Ficamos na fita bruta
Que algum filha-da-puta derrubou
Não entramos na comédia
E é preciso fazer média com o maldito diretor
Dispensaram o contra regra
E é a banda quem carrega
Um pesado monitor
E esta é a maior censura
Está que não tem cura
Que nasce dentro do autor
É melhor ficar calado
É melhor virar de lado e
Desligar o gravador

Não entramos na novela
Nem precisa acender vela
Que o roteiro já fechou
Me disseram que é uma bosta
Mas que todo mundo gosta
Do mocinho sofredor.

Disco: Terceiro Mundo Festivo (2008)

quarta-feira, 5 de março de 2008

sábado, 1 de março de 2008

1973

Vereda Morta, o arraial, rua estreita só. As casinhas de um lado e do outro, divididas pela ruazinha de terra, parecendo leito seco de rio. No fundo, depois do pastinho, faz visão da vereda que dá o nome disso aqui. E a vereda é mesmo morta-assoreou, diz um doutor que veio aqui uma vez. Acalipal tomou conta. Planta que bebe rio, nascente, lagoa, o que há de água, toma! Bebe o mundo. Ali do lado da vereda tem o acalipal, do Seu Acácio Vianna. Foi esse que sumiu, esmilinguiu a aguinha da vereda daqui. Triste ver aqueles buritis tudo mortodefinhado, só as folha seca. Mas é fato, já se vê muito isso por essas bandas -as grandes matas de uma árvore só. Uma tristeza só, o capeta semeando sua colheita dele. A gente olha e entristece em calado. Aquela solidão verde a gente olha com olho de bicho do mato, sem saber oquê... Raposinha na encruzilhada. É um tempo diferente. Eu sinto muito isso, mas quase que nunca falo. Mas Anézia... Carinha dela, olhos de prestar atenção em tudo e em nada no mesmo demarcado de tempo. Reloginho de jabuticaba. Estas estórias que a gente não acredita, aqui tem muito. Tem Anézia. Tome assento, que lhe conto desta menina, que me salvou. Acredita? Salvou também Vereda Morta. Hum? O povo já se esqueceu. Eu nunca que esqueço. Menina santa-rainha, os olhinhos pretos. Tome assento.

terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

O Dia

Beba
Beba uma Coca-cola com Caetano
Pra esquecer
Pra esquecer o dia

E não te falaram do dia?
O dia ainda se faz cinza
No coração da América

Todos os dias
Todos os dias cinzas

Homens de terno na tv querem colorir
Com cores falsas as realidades daqui

Beba
Beba uma coca-cola
Enquanto águias e condores
Bebem do sangue que sai
Das veias abertas, um continente a sangrar


E os homens de terno a sorrir
Vão colorir com cores falsas
As realidades daqui

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

Um Retrato Na Parede


Esta tirinha do Drummond era pra ter acompanhado uma matéria que fizeram sobre mim no jornal "O Trem Itabirano", comandado pelo grande Marcos Caldeira. Acabou saindo na edição posterior, mas tá valendo!! Segue também a entrevista...
Você nasceu em Itabira. Viveu até quando na cidade?

Na realidade eu fiquei muito pouco tempo em Itabira, cerca de três meses. Assim que minha mãe se recuperou do parto voltamos para Itambé do Mato-Dentro, onde meus pais trabalhavam. De Itambé mudamos para Vespasiano e posteriormente para Lagoa Santa (cidade da Região Metropolitana de Belo Horizonte), onde moro até hoje. Resumindo saí da terra do “minério de ferro” e fui para terra para “terra do calcário”.

Chegou a estudar em Itabira? Onde?
Não.

Saiu quando? Por que saiu?

Meu pai conseguiu emprego numa cimenteira de Vespasiano e fomos morar lá, depois nos mudamos para Lagoa Santa que até hoje é menos poluída.

Quais são suas lembranças dessa época em Itabira? Algo o marcou em especial? Como foi sua infância em Itabira?

Humm?

Por que você desistiu de Itabira?

Acho que resposta de cima serve pra essa pergunta aqui...Ré,ré!

Hoje, como é seu relacionamento com a cidade? Ou não há relacionamento? Cortou na raiz?

Meu relacionamento com Itabira se resume as idéias que costumo trocar via msn com Emerson Rocha (cartunista daí). Fora isso não tenho muito contato, não... Até mesmo porque todas as minhas atividades profissionais estão ligadas a Belo Horizonte.

Tem muito tempo que não vem aqui? Quando foi a última vez?

Passei por aí em 2006, num trabalho de campo que fiz pela UFMG. È, um dia serei também Geógrafo...

O que é isto: ser um itabirano?

Ser Itabirano, pra mim, é ter um imenso orgulho de ter nascido em Itabira e de alguma forma fazer parte da história da cidade. Apesar do contato físico incipiente com minha terra natal, acredito que o fato de ter nascido aí forjou muito do artista que me tornei. Lembro-me que o primeiro livro de caricaturas que ganhei tinha uma do Drummond, que eu vivia copiando e exibindo para os meus amigos e falava assim: - Eu sou da terra deste cara! Este orgulho de ser de Itabira se mistura muito com o meu orgulho de ser aqui das Gerais, pertencer a estas montanhas...


Há diferença entre nascer em Itabira ou Guanhães, Ribeirão Preto, Guaxupé, Oslo, Nova Iorque, Belfast, Itambé...

Bem, Itabira não é uma “Cidadezinha Qualquer”, mas várias “cidadezinhas quaisquer” amontoadas num mesmo espaço. É uma cidade onde a mineiridade está em toda parte. Há um sentimento mineiro muito forte que paira no ar da cidade. Compete com o minério de ferro, ré,ré... É tem diferença sim...




Você recebe notícias de Itabira? Quais foram as últimas recebidas? Ou seja: o que você tem sabido sobre Itabira?

Não recebo muitas notícias, não... A última que recebi foi do Festival de Inverno que rola aí todo ano...

Você tem faturado prêmios em salões importantes, como o tradicional de Piracicaba-SP. Já está rico com isso?

Não... Não dá pra ficar rico vencendo salões, e a intenção nem é essa. É lógico que é gratificante (e também um estímulo) receber um prêmio em dinheiro, mas é bom saber que seu trabalho é reconhecido por outras pessoas. No meu caso, os salões de humor (além de me livrar de alguns agiotas) me ajudaram a melhorar o meu trabalho tanto no que se refere ao traço, quanto às idéias. Ré,ré... Isso porque ,quando eu não estava publicando para jornal nenhum eu continuava desenhando para competir em salões.

Qual desses prêmios foi o mais importante e por quê?

Vencer em Piracicaba é um grande feito para muitos cartunistas. Sem dúvida é o Salão que eu mais comemorei por ter vencido. No ano que ganhei, além de faturar o primeiro lugar na Categoria Tiras com o “Homem- Galinha”, fui segundo lugar na Categoria Charge. A felicidade veio em dose dupla. Já este ano vencer o Festival Internacional de Quadrinhos de Pernambuco na categoria charge foi muito importante também, eu já havia sido menção honrosa nos dois anos anteriores. E por falar em salão, acabei de faturar o primeiro lugar no Salão Internacional de Paraguaçu Paulista na categoria tiras. É, esse foi um ano muito bom...

Você trabalhou como roteirista para o Maurício de Souza. O que fazia exatamente e como foi essa experiência? Durou quanto tempo esse trabalho?

Bem, foi numa época em que eu não estava publicando nada por aqui... Vacas magras. Resolvi mandar alguns roteiros para avaliação e o pessoal da Maurício de Souza Produções gostou. Acho que da minha geração sou o cartunista que levou mais tempo para entrar na era virtual. Eu enviava os roteiros por carta, depois comecei a mandar por fax... Era uma luta. Comecei publicando aquelas tirinhas que saem no final das revistas da turma da Mônica, em seguida comecei a roteirizar estórias maiores. Meu primeiro roteiro a sair foi do “Papa-Capim”, depois vieram roteiros do Penadinho, Cascão, Chico Bento... Fiz muita estória legal! Acho que fiquei uns três anos e meio nesta batida, até pouco tempo atrás ainda era possível ver o meu nome nos créditos das revistas.

Você chegou a publicar no Pasquim21, extinto. Por que uma publicação importante como O Pasquim21, que dava bons espaços a cartunistas, não viceja no Brasil?

Eu publiquei nas duas últimas edições do Pasquim21, e era realmente um grande espaço para cartunistas de todo Brasil, faz falta. Já vi várias publicações de quadrinhos, charges, cartuns e humor surgirem e desaparecerem no Brasil. Acho que o principal problema é a questão do financiamento, não fica barato manter publicações de qualidade Patrocinadores e anunciantes são sempre difíceis de se achar. Para patrocinar humor então... É muito difícil publicar, mas ultimamente as Leis de Incentivo à cultura tem colaborado muito para viabilização de diversos projetos na área.

Você conhece os cartunistas de Itabira? Há o Genin, velho-de-guerra, o Lute, que tem parentes aqui, e o Laz Muniz, nova-erense radicado em Itabira, entre outros...

Conheço esta turma toda. O Genin eu fui ter contato mais por agora, mas já curtia o trabalho dele há um tempão-desde o tempo em que ele publicava no Diário do Comércio. O Laz eu conheci quando ele passou uma temporada em BH e publicava ótimos quadrinhos em revistas alternativas como a Grafitti. O Lute fui conhecer pessoalmente em 2005, o cara é sem dúvida um dos grandes cartunistas do estado e tem atuado também na consolidação da Associação dos Cartunistas de Minas Gerais. Conheço também o Emerson Rocha que chegou a publicar num fanzine que criei quando comecei a dar os primeiros passos nesta estrada torta do humor... Ré,ré!!
Aqui no TREM há uma pergunta-padrão, que fazemos a todos itabiranos que entrevistamos. Vai pra você também. Ei-la: o que você, como itabirano, já fez de bom em favor de Itabira? Ou pretende fazer, talvez...
Não tive muito contato com Itabira (pra não dizer contato nenhum), nunca fiz nada por Itabira, a não ser carregar com orgulho o nome do lugar onde nasci... Agora, pretender fazer é um desejo. Itabira é uma cidade muito rica culturalmente e talvez queira acolher de alguma forma este filho pródigo.
Nessa sua trajetória como cartunista, há algum fato engraçado-pitoresco, que mereça ser revelado aos leitores conterrâneos?
Já me quebraram o nariz por conta de uma caricatura... He,he!

O mundo está uma merda, pelo menos o mundo no Brasil. Você acha que se não fossem os cartunistas estaria ainda pior?
Acho que se não fossem os cartunistas seria mais difícil enxergar os absurdos do dia a dia com uma certa leveza e ironia. Mas não sei se cartunistas melhoram ou pioram mundo, depende muito do ideário de cada um. Tem cartunista que faz muita merda, não vê que está se utilizando apenas do censo comum, e segue fazendo apenas o que é interessante para o sistema mostrar... Analisam os fatos do cotidiano de forma muito superficial em detrimento da crítica.

Cartunistas , como qualquer outro cidadão, podem contribuir tanto para o bem, quanto
Para que servem os cartunistas e os cartuns?

Cartunistas não servem para nada. O que presta são os cartuns que fazem. Ré,ré... Os cartuns, como disse anteriormente, ajudam a enxergar o cotidiano de um forma irônica. Conseguem muitas vezes apontar os absurdos da vida que as pessoas, às vezes, não tem tempo, ou mesmo percepção para sacar. São uma “notícia romanceada” da vida real. Bem é isso aí.

quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

Diante do Carnaval


"... Ora pois, chegou o momento de cessar o trabalho e entoar o cântico e desmanchar o corpo em sacolejes convulsos. Teus ami­gos se dividiram em duas hostes: a que se retraiu para montes e praias, e a que, vestindo os disfarces mais leves, saiu por aí saracoteando e gritando. Entre as duas formas de viver o car­naval, ficaste sozinho e desarmado: no centro do acontecimento, sem participar dele."



"... O carnaval não mudou senão nas formas aparentes, e não tens direito de suspirar que naquele tempo, sim, era melhor, e hoje tudo é porcaria, da decoração aos sambas. O carnaval cres­ce e se agita dentro de cada um, seja ou não patrocinado pela Prefeitura, e dinamiza músculos e cordas vocais, restituindo ao homem um pouco da animalidade comprometida menos pela ci­vilização que pelo seu uso mecânico ..."



"... Entre o prazer e a abstenção, encontraste no carnaval este secreto encanto: é uma festa que a uns permite a extroversão, a outros dá ensejo de fugas marítimas ou campestres, e a ti ofe­rece o exercício da arte difícil e nobre de estar só."



(Trechos da crônica Diante do Carnaval, de Carlos Drummond de Andrade.)

sábado, 26 de janeiro de 2008

Xico Sá

E Xico Sá, fala pra "F"*... Um papo proveitoso!


Jornalismo embaranga

Rough cut da entrevista com o Xico Sá que sairia na F#5. Não está editada, acho que só fiz uma primeira revisão, tem os intervalos entre as trocas de fita discriminados e tal. Portanto tem quase tudo que a gente conversou. Pra ser honesto com vocês tirei um parágrafo porque não sei se o Xico queria que fosse em off e tal. Apesar do que digo lá no final do papo, acho que essa superou a do Fausto. Presentes o corpo editorial da F e a Marsílea, nossa gloriosa faz-tudo. Conversa gravada no bar Mangue Seco, com muitas cachaças e caranguejos, 10/06/2006.

Leo - Mas então, bananeira, cactos.. teve alguma outra etapa antes?
X- Depois veio cabra, caprino, porque eu era um otário. Os caras comiam porca, égua. E cabra é um bicho meio terno, que fica meio quieto no canto, esperando.. você passa a mão na cabeça e ela vem, não tinha muito trabalho. Eu era contra isso de sexo que tinha que suar e ter um trabalho da porra. Eu comia essas coisas que não davam muito trabalho, bananeira, cabra. Por isso que eu não comia mulher, que dava um trabalho da porra (risos). Eu fui comer uma mulher com 15, 16 anos, eu digo mulher conquistada com minhas próprias forças, porque eu comi puta depois. Foi bananeira, cabra e puta. Mulher foi quarta instância (risos).
Arnaldo - E troca-troca, rolou?
X- Claro que rolou. Tinha uma coisa escrota do troca-troca que nego fazia ... o grande drama do troca-troca é quem vai comer primeiro. Claro que quem come primeiro vai embora (risos). Não tem a menor chance de não ir embora, mas rolou pra caralho. Isso era num lugar chamado Sítio das Cobras – o nome é foda, emblemático- isso é perto do Cariri, perto do lugar em que nasci. Meu registro está todo errado, está como se eu tivesse nascido no Crato em 1964, e eu nasci em 1963. E eu não nasci no Crato, nasci em Santana do Cariri, nesse Sítio. Meu pai foi me registrar com 9, 10 anos de idade. Só quando foi me botar pra escola, aí errou tudo, hora, data..... Graças a Deus eu não posso fazer mapa astral (risos), me livrei da merda que alguém pode me dizer. Mas tá tudo errado, nego não ligava.... não tinha bolsa família. Agora tem que fazer o registro no dia seguinte ao nascimento, pra pegar esmola federal.
Arnaldo - O recenseamento nem chegava lá?
X- Tinha mas não importava... meu pai mora nesse mesmo sítio até hoje, ele nem tem carteira de identidade. Fomos morar em Juazeiro, mas ele não se adaptou um segundo da vida lá. Foi com a gente pra que pudéssemos estudar, largou minha mãe sozinha... ele dizia: "eu vou pra um lugar que chega conta pra mim?". Meu pai nunca pagou uma conta, velho.
Allan - Gênio!
X - É, mas vai dizer pra minha mãe que meu pai é gênio.... minha mãe o acha um escroto filho da puta.. são as razões dela, de mulher. Ele nos deixou em Juazeiro e eu tive que cuidar da porra toda quando completei 18 anos. Ela o acha um escroto, mas eu acho ele um gênio.
Allan - Você é o mais velho?
X- Sou. Tive que cuidar dos meninos, fui vender cereais e odiava isso. Até hoje eu odeio cereais brutos, aquelas sacas de pesar pra vender. E aquela porra de embrulhar? Eu odiava essa porra.
Marsílea - Quantos irmãos?
X - Sete. São seis e mais um menina que minha mãe criou.
Arnaldo - Se fosse mais um homem seria lobisomem, é isso?
X- É, seria....
Arnaldo - E você começou a trabalhar com jornalismo sendo consultor sentimental?
X - Comecei numa rádio de Juazeiro, chamada Rádio Vale do Cariri, que era um cara vizinho meu, um locutor, chamado Jevan Siqueira. O cara tinha um programa chamado "Temas de amor" às 22horas. Eu tinha 14/15 anos.
Leo - Mas isso foi depois da cabra, da puta? Quando foi isso?
X - Nessa época eu morava em Juazeiro, mas voltando ao sítio – que eu vou até hoje, porque rola uma afetividade foda. Isso foi antes da mulher, na puta, antes da mulher.
Leo - Quando você era conselheiro?
X - De 14 pra 15 anos eu fazia essa porra, mas eu não sabia o que era uma mulher e aconselhava homem com mulher. Apesar de nunca ter uma mulher na minha frente... Se fosse " Conversa com as cabras" (risos) ... "Temas de amor", mas amor de quem? Homem com bananeira? Homem com cabra? Eu não tinha a menor moral, era ficção pura. Na verdade eu fiz um poema, tinha uma mulher vizinha a nossa casa na rua Santa Luzia, em Juazeiro, chamada Conceição. Eu fiz o poema e mandei pro cara da rádio. Essa mulher era daquelas balzacas de interior que não dá pro cara, segura a buceta assim, 50 anos... Era o Nonato, um cara pedreiro que queria comer ela e ela não dava nem fudendo. Eles namoraram duzentos anos, aqueles namoros de interior. E eu fiz uma croniqueta, uma crônica, sobre a história de Conceição e Nonato no sofá. Como eu era vizinho do cara, eu falava em ajuda-lo no programa. Eu era doido pra comer a filha dele, Rosângela, que era gostosa. Depois ela abriu uma boate em Juazeiro chamada "dancing days", e a mulher dançava pra caralho e era muito gostosa. Tinha um irmão meio louco. Acho que tinha um filho dele querendo comer minha irmã. Era um incesto moral de interior. Mas essa família me interessava muito.
Arnaldo - Foi a primeira vez que você trabalhou com jornalismo então? Esse foi o link?
X - Foi, começou nessa história. Aí fui pro Recife porque nessa região do sul do Ceará, na minha geração, nego não tinha nenhuma relação com Fortaleza. Eles iam pro Recife. Era uma questão de afinidade e tinha uma coisa histórica, que em 1914 o padre Cícero brigou com o governo do Ceará e o sul do Ceará, o Cariri ficou meio uma Catalunha louca. Até hoje nego bota bandeira na porta defendendo a independência da região. Hoje nego também vai pra Fortaleza, mas tinha uma coisa.... Você pega os caras de Miguel Arraes, e todo mundo ia pra Recife e não pra Fortaleza. Juazeiro tem 70% da população não-cearense. É pernambucano, que é da minha família. Meu avó foi pra lá porque tinha uma briga em Floresta, de Novaes e de Ferraz e ele não queria que continuasse a merda com os filhos, então os levou pro Cariri.
Arnaldo - Eram duas famílias, Novaes e Ferraz?
X - É, eu sou Novaes. Meu avó levou a família para não continuar a merda. Aí teve que entrar a bosta de honra escrota de machismo ridículo, aí teve que voltar pro lugar. Deixou os filhos lá e voltou pra dizer que é homem. Essas coisas escrotas e que rolam mais ou menos até hoje. Hoje um dos meus maiores amigos é Kéops Ferraz. Nos encontramos um vez em São Paulo e comentamos que se tivéssemos lá teríamos nos matado sem saber. É meu maior amigo, só pra mostrar a imbecilidade dessa porra.
Arnaldo - E você começou num jornal de lá?
X- Não. Comecei a escrever essas porras de programa rádio.... Lá nego quer andar também, que é a melhor coisa do mundo, sair do lugar em que nasceu. Aí fiquei lá em pensão, depois fui pra casa de estudante. Melhor quando eu fui estatizado, tudo bancado pelo governo federal, virei um "Xicobrás". Era bandejão público, tinha bolsa na faculdade. Eu tinha uns 18 canos e era do caralho porque eu era um cidadão estatizado. A gente invadia a reitoria quando a comida piorava, era uma guerra fodida e do caralho, que nego hoje deixou isso muito barato. Quando o cara é preso não cobra uma regra de civilidade? Porque também na hora de educar, né? Hoje nego mata qualquer um e quando tem ficha na polícia já é desculpa pra matar. É uma escrotidão de Estado assassino filho da puta. Eu peguei, pelo menos, um Estado bancando meus peidos, meu pão com ovo de manhã, minha escola, minha existência. Só fui pra faculdade graças a essa porra, e era o mínimo que se cobrava na época. Hoje nêgo é cuzão, basta o cara roubar um galinha que já justifica ser morto. Uma escrotidão sem limite. Então graças ao Estado eu tive esse "Xicobrás" e foi do caralho. Pude estudar e beber cachaça com os caras interessantes. Porque a faculdade era uma merda, mas o encontro foi do caralho. Era Comunicação, mas eu também quis fazer Sociologia.
Marsílea - E quem era essa galera?
X- Bom, de quem está vivo... estudei com o Fred 04, que era da mesma turma, Renato L., que era do caralho, e um bocado de vagabundo assim... Meu grande ganho era na hora de beber cachaça, fumar maconha e andar com os caras e as meninas foda pra um cara que vinha matuto do interior. Em termos técnicos não aprendi porra nenhuma, mas tive uma história do caralho com pessoas foda. Bebia, fumava, mas pensava e lia coisa boa, e tirava onda. Fazia um jornal na época que se chamava "A peta", que é mentira num português arcaico. E era foda. Era um jornal de quadrinhos e textos doidos, esse foi o grande ganho, essa história de convivência. Não é a porra de Iluminismo, de faculdade de ter aprendido com o cânone, com a academia.
Arnaldo - Mas aí você virou um jornalista investigativo...
X- De merda inicialmente pra ganhar a vida. E ainda sou vez ou outro, ou quase sempre. Eu virei qualquer coisa do que tem que virar pra ganhar a vida.
Leo - Você foi direto pra redação?
X- Eu era um homem estatizado, eu era um "Xicobrás", então tive que pagar um pouco do cu público. Trabalhei um pouco na assessoria da universidade, na biblioteca... roubava livro pra caralho (risos).... Era aquela vida de bolsista de faculdade, aquela roubalheira, aquela coisa, meio pagando, meio consciente disso. No jornal da universidade encontrei uns caras bons pra caramba, bacanas. E depois fui ser revisor numa gráfica. Quando cheguei no Recife fui revisor numa gráfica chamada "Comunicarte". Foi quando eu adquiri esse pára-brisa aqui (aponta os óculos, risos), revisando coisa em corpo 6, balanço de usina em corpo 8. Primeiro isso, depois fui para um jornal de esportes chamado "Tablóide esportivo" que era uma puta de uma experiência legal, que era uma cooperativa dos caras mais antigos com cinco moleques, eu na época, mais cinco caras que tinham uma grana. Eu fiz uma história bacana, eu assinava a coluna chamada "Mamadu Bobó", que era um jogador africano. Era meio que tirando onda com o jogador. Me lembro do Betão, que jogou na lateral do Inter. O nome dele era Roberto Taylor (risos), que o pai era louco por Hollywoody, aí eu fazia essa coluna que era meio de tiração de onda com o jogador. Eu era setorista, cobria o Náutico, o Sport.
Arnaldo - E qual era o seu time?
X- Na verdade eu só torço pelo Santos, mas como eu mudei muito de cidade, em cada lugar que eu chego eu vou muito pra estádio, sou Sport no Recife, Casa em Juazeiro. Mas meus tios foram embora pro litoral paulista nos anos 60, então sou Santos. Eu odeio futebol, eu gosto do Santos, mas odeio Copa do Mundo, acho uma escrotidão. Eu odeio tudo que não seja o Santos, nem vejo os outro times. Acho ridículo os embates de futebol, Copa do Mundo.. gosto ou meio várzea ou Santos, não consigo gostar de outra coisa.
Arnaldo - E depois do jornalismo esportivo...
X - A polícia do "Jornal do Comércio".
Arnaldo - E naquela região é sinistro, né?
X - É uma bosta... como eu já tinha a viadagem da literatura, procurava ver Nelson Rodrigues e tal. Eu já tinha lido os caras, então já ia com esse filtro escroto e vagabundo, do classe medismo de ver uma certa arte. Mas tomar no cu a minha arte! Também tinha as matérias de comer gente, voltando o assunto. Era melhor dizer pra menina "é, Nelson Rodrigues fez polícia...", mas era um H do caralho, era um caô sem tamanho. Funcionava, mas era fraude pura. Eu devia ter uns vinte e poucos anos, acho que era pré-Miguel Arraes, antes dele voltar do exílio. Mas nada disso com precisão. Aí vocês vão ter que pesquisar no Google. Alias, foda-se o Google! Não me venham com essa senão eu não posso mentir, ô viado (risos)! Só dou essa entrevista com a permissão livre da mentira. Eu sou um homem flexível, minto pra caralho.
Arnaldo - Depois você virou um cara...
X - Virei um idiota (risos). Tive uns acertos de matéria por sorte e cachaça. Mas eu não tinha essa obsessão jornalística, eu queria ser um escritor, nunca quis ser um repórter.
Leo - Mas mesmo nessa época você continuava escrevendo, você tinha coluna em algum lugar, produzia alguma coisa?
X- Mas nego vai roubando sua alma quando você vai entrando pro mundo.. você vai vendendo sua alma, até com a própria desculpa da sobrevivência, não tem jeito, você vai sendo levado. É um idiota e burro, e tá numa redação. Porque jornalismo é a arte de emburrecer o homem e a mulher. É a arte de enfeiar a mulher e emburrecer o homem. Então essas meninas lindas chegam na redação e com dois ou três pescocinhos elas estão horríveis, cara (risos). Mata qualquer possibilidade de existência mais ou menos inteligente e de gostosura (risos). E não é a coisa física de estar gordo, isso não tem a menor importância. É o olhão de emburrecimento de redação. Notícia, plantão... Isso é uma idiotice. Por isso eu não quero ter filho, se for pra virar jornalista eu mato ele antes. É sério! Os caras se acham os fodões, mas são os mais burros da humanidade. Eu falo porque gastei minha alma da redação.
Marsílea - Mas você sentia isso no inicio?
X- É igual a cachaça, você sabe que derruba mas vai indo... É escrota a pretensão, o moralismo do jornalismo, a forma como acha que vai resolver o mundo. Não tem nenhuma qualidade no jornalismo, talvez seja a única coisa sem qualidade, velho. Eu tenho um primo que conseguiu enriquecer com merda, aqueles limpa-fossa. E todo mundo tirava onda com ele. E eu tô escrevendo uma novela, um romance, tomara que um dia eu consiga, querendo ser um Charles Dickens dos pobres, uma coisa assim, o cara ia na boléia com o cara e o pai metia o suga-merda lá. E o lindo é que a mãe dele tinha prisão de ventre (risos). E o cara enriqueceu com a bosta. Eu tô escrevendo uma coisa a partir dessa história do meu primo.
Leo - Você lê jornal?
X- Eu leio pra enganar os próprios jornais, mas eu não aconselho pra nenhuma família (risos)... afaste o seu filho da faculdade de jornalismo porque é emburrecedor. É melhor ser Marcola do PCC do que ser um jornalista. O jornalista não vai ter uma grande narrativa, não vai ser um escritor. Também não vai poder contar uma grande história, não vai poder porque o dono não vai deixar. Ele vai ser merda.
Allan - O mais escroto dos jornais é a pretensa imparcialidade...
X- Nunca houve isso, cara. Você escreve o que o dono quer, em qualquer lugar. No Pharol de Petrolina, na Vanguarda de Caruaru, na Folha de São Paulo, na Folha, no Estadão, Veja, você escreve o que o cara quer. Aí tem as brechas, quanto mais importante você é, mais você escreve o que o patrão quer. Por isso eu resolvi ser mais merda, depois de duzentas demissões, eu tenho o caminho mais confortável hoje que é ser menos importante para os jornais. Ou como uma tira, é menos importante, mas acaba dizendo mais do que quer. Ou faço uma crônica espremida no caderno dos esportes e acabo dizendo mais da minha vida e existência... porque você é mais livre. Quando você é mais importante, que é a ilusão de quem é editor, não sei o quê, você vai tomar no cu e escrever o que nego quer e diz. Carlos Heitor Cony escreve o que mandam, velho. Ou então levam pito e deixam de escrever.
Arnaldo - Quando você foi para o jornalismo já tinha uma singularidade literária e tal, e boa parte dos seus ídolos, Graciliano, etc, também tramparam em jornal. Graciliano fazia revisão...
X- É um cara que gosto pra caralho.
Arnaldo - Como você conciliou isso, trabalhar no jornal e ter os ídolos muito mais independentes?
X- Não tem escolha é meio entre a cachaça e a pobreza, você vai. Não tem trajetória. É lindo depois que morrer ler a biografia, mas não tem escolha porra nenhuma. Não é nada glamouroso, é uma merda.
Arnaldo - Não tem nenhum orgulho dessa época, das coisas que você conseguiu?
X- Claro que não.. mas me fez ganhar dinheiro. A entrevista com PC Farias...mas nada disso serve pra nada. Sabe o que vale nessa porra de existência? É a narrativa de aventura, é o Gulliver que sobra, é quando você espreme tudo e tem uma narrativa de aventura da vida, aí é Caninos Brancos de Jack London, é você perdido numa selva qualquer, não é objeto de um jornalista. No tempo de PC Farias eu fui pra Maceió e cheguei a ficar quatro meses lá. Aí, tava ali no Othon... a minha missão era para a Folha de São Paulo...
Leo - Não tinha uma coisa de ficar meio dischavado, pra não despertar muita atenção, como era?
X - Como eu tinha acesso ao cara, por razão louca de cachaça...
Leo - Conta primeiro a história, como você conheceu o cara?
X - Eu conheci porque quando a imprensa ficava atrás de advogado, de fulano Oficial de Justiça, eu fui pra Maceió e me enturmei com o mordomo. Diziam que eu comia o mordomo, Joel. Porque ele tinha uma motocicleta e eu passeava com ele em Maceió, o cara me falando na brisa ao vento... (risos). Dizem que ele virou maître num hotel em Brasília... o que é a merda do repórter de hoje, é que eles desprezam esse oitavo escalão. Eu colei nesses caras lá, nos guardas, nos cachaceiros que moravam perto do PC, nas lavadeiras, faxineira que trabalhava com ele. Chegar no Joel foi um salto, o mordomo.... a Folha mandava não sei quantos mil caras pra Londres, eu poderia ter sido oportunista e pedir pra ir também, alegando que PC estava lá, ou pedir pra ir não sei pra onde... eu tive missão também pra Tailândia e Bangcoc, as terras da massagem de doze mulheres... tentei ir do aeroporto para o hotel e foi a coisa mais difícil da minha vida. Eu falando o inglês do Crato (risos), os caras sem falar inglês nenhum... aí eram dois irmãos taxistas e eu tentando ir pro hotel, e os caras me levando pra putaria. Até uma hora em que eu tive que dar uma olhadinha, né? Não tinha como não comer gente.. era o único lugar que não tinha como não comer gente. Tudo que Crato não me deu, Bangcoc deu, velho (risos).
Arnaldo - Mas e o PC?...
X- Eu tava falando dessa coisa de não acreditar em fonte, hoje é só Google e banco de aspas. Ninguém gasta sapato, ninguém vai pra rua. E se você chega contando história da rua, nêgo não dá bola. Os editores idiotas perguntam o que isso tem a ver com a realidade, quando é a realidade que foi esquecida. De verdade, eu acho que o jornal vai acabar, eu torço por isso. Antes do papel higiênico eu limpei muito cu com jornal. Eu torço pra que o jornal acabe porque não tem mais sentido... Você pega os portais.. a não ser Allan, Adão, Laerte e o horóscopo, não tem mais nada... A notícia tá no dia anterior e a capa, a foto, é a mesma. Ou o jornal encontra um meio de contar história, que ele perdeu a vontade de contar história, de botar o repórter pra viajar. Hoje jornalismo é de agenda, o cara que vai ser ouvido na CPI às 16 hs. É projeto de agenda, não tem nada que signifique a vida real de nenhum de nós, é agenda.
Arnaldo - Aí você começou a se juntar com o pessoal do mangue beat e aí todo mundo começou a ter mais projeção pro resto do Brasil...
X- Não, não.. nem eu nem eles. Isso foi porque eu morava em São Paulo e os caras iam na minha casa. Eu ajudava, no que podia, na assessoria de imprensa. Eram amigos, eles chegavam lá em casa pra ficar lá. Minhas namoradas ficam putas porque a gente não podia mais fuder direito.
Leo - Mas você já os conhecia antes?
X- Fred, o Chico eu conhecia um pouco e depois... era do mesmo conglomerado do crime.. na boa, eu caí no jornalismo porque não tinha outro jeito de ganhar dinheiro, mas eu queria ser um escritor louco. Eu queria ser um Henry Miller, pra dizer o mínimo. Jornalismo era o caminho, mas eu não tenho uma construção de carreira jornalística, eu não acredito nisso, caí nisso, e ganhei dignamente, comprei uma casa pra minha mãe lá em Juazeiro, me agradece até hoje, isso foi do caralho. Comprei muito ácido por conta de bons salários, mas nunca foi a minha... até hoje, voltando lá pra consultoria de rádio, eu escrevo conselho pra revista UMA, pra revista de mulher, pra ganhar dinheiro, mas não é jornalismo. Se eu pudesse ter um reencontro com o jornalismo eu mandava tomar no cu. Pobre tem duas profissões literárias no Brasil, jornalista ou advogado. Mas escolha, nunca. Eu queria ser Henry Miller e me fodi. Você acha que eu queria estar em plantão na casa do PC ou na porta da polícia federal esperando não sei o quê? Não.. eu queria escrever "Trópico de câncer". As biografias são editadas e limpas, mas a vida é só angústia e frustração, velho. Aí vem um filho da puta como o Ruy Castro e deixa todo mundo lindo e gênio. Mas é tudo escrotidão e cachaça. A vida é confusão, é merda, é Pimenta Neves. Aí depois vem as edições, o calendário e resolve qualquer bosta, as histórias ficam lindas. Isso serve pra todo mundo. Não há biografia boa, ela é salva.
Arnaldo - Aquele Nova Geografia da Fome é do caralho, mostrou pro jornal que você pode fazer uma matéria investigativa, barata...
X - Tem dias em que só me sinto bem quando acabo de trabalhar e vou tomar minha cerveja tranqüilo, olhar uma mulher... Eu não tenho orgulho da escrotidão. Tem hora que eu acerto uma frase, e é do caralho. Normalmente bêbado e de madrugada, de manhã eu já acho uma bosta. Todo homem é gênio de madrugada. O único momento de gozo, velho, é quando uma mulher toca uma punheta ou esse segundo de auto engano bêbado, depois vai ser uma bosta e ninguém vai ligar. Mas eu acho lindo essa hora da merda, por isso comecei a acreditar mais no auto-engano, escrevendo algo às quatro da manhã, bêbado achando que aquilo é a História da Infâmia do Universo, aí no dia seguinte você vê que é uma merda. Tudo nessa gana de achar que é genial e depois desconstruir, porque é você ou um outro que vai fazer isso. Eu acho que não tem engano mesmo, é tudo angústia e aflição, a vida vai ser sempre isso. Salvo o quê? Buceta, puteiro, cachaça. Aí a merda, a existência é tão filha da puta que não dá corpo pra você segurar isso para o resto da vida. Aí você não vai mais atrás da buceta, da cachaça porque tem artrite. Eu gosto muito de um anúncio de artrite que é um tiozinho balançando uma criança no parque, aí num momento ele sente a perna. A vida é isso, um anúncio de artrite, velho.
Allan - Eu li uma entrevista que você estava transando com uma menina que dada ao contorcionismo e numa câimbra ela achou que você era um acrobata...
X- Eu acho que a grande novidade do mundo hoje é falta de potássio e broxada. Que novidade há na grande foda? E essas meninas novas, fazem tudo que elas reclamavam da gente, deixam toalha molhada em cima da cama, fazem uma bosta geral no seu quarto. Mas nesse dia aí eu tava com uma câimbra monumental, aí levantei a perna e desci como naquele filme do Hitchcock, "Intriga internacional", e aí foi a consagração, mas o que era..
Leo - ..você gritando de dor...
Arnaldo - E aquela cena genial do Beto Brant no cinema, do filme "Um Crime Delicado"...
X- É velho, aquilo eu gostei muito de fazer. Eu virei o homem-baga do cinema nacional, né? Os amigos chamam, vamos beber...
Arnaldo - Você é amigo de todos esses caras que estão fazendo um puta cinema agora....
X- É.. agora eu fiz um punheteiro, dessa eu gostei. Eram uns dez punheteiros e nenhum levantou o pau, inclusive eu (risos)...
Allan - Era pra bater punheta mesmo?
X- Era, a gente tentava... mas ninguém conseguiu. Era uma cena, e o Cláudio Assis, que é um ignorante.... O filme é o "Baixio das Bestas", é a história de uma menina de um posto de gasolina que o avô vende pros caminhoneiros baterem uma punheta pra ela (risos). Ele cobra um real.... Pô linda, depois até bati uma punheta para ela, já em casa, mas na hora porra nenhuma. Era eu e mais uns nove animais lá do Recife e a gente tentando e envergonhado, com a mão dentro da calça, mas sem querer mostrar o pau, maior merda, velho. E a mulher lá, linda, linda, gostosa... E era no quintal de uma Igreja. Agora veja o animal, colocou a menina lá no.. no nordeste chamamos de oitão da Igreja, nua, linda. Quando ela tirou o roupão, uns peitos da porra, buceta, tudo direitinho e os dez lá... a gente lá... já tinha bebido pra caralho... dez e nenhum...
Arnaldo - Aquela piada do Adão, "falência múltipla dos órgãos"....
X - Na ficção a gente tava pagando ao avô dela pra pagar punheta, erámos dez... e nada....
Leo - Mas essa cena ficou no filme?
X- É, vai rolar uma punheta frustrada. Mas é linda... não se engane com o que sair no cinema (risos), eram dez homens broxas com uma mulher gostosa da porra, muito gostosa... Veio da Paraíba. O problema é que a gente é amigo do pai dela, eu e Claudão. De madrugada ligamos pra ela nos desculpando, dando a nota fúnebre, venho por meio desta, dizer que não foi culpa de vossa senhoria a broxada monumental em público (risos)... Foi a pior coisa que eu fiz depois de 8 ½ de Fellini (risos).
Arnaldo - E o blog ("O Carapuceiro"), você manda todo dia... você acha legal essa coisa?
X- Tento que é pra recuperar o tempo da bananeira perdida..
Arnaldo - É lugar pra comer mulher então?
X- Não, essa coisa de comer mulher não é tão objetivo assim. É que eu sou tão feio que quando eu como uma mulher vira notícia (risos). Se um cara lindo come uma mulher é um rodapé de página, mas se o feio come uma mulher e ela é linda, aí é manchete.
Arnaldo - Você já comeu alguma celebridade, alguma mulher que seja assim...
X- Comi porra nenhuma. Eu odeio celebridade... E dá azar comer uma mulher pra quem você já bateu uma punheta antes (risos)... eu nunca fiz uma punheta pré-crime, porque dá um azar da porra.
Arnaldo - Li que você gosta de namorar.... você é um cara pra casar?
X- Eu caso, mas eu não sei explicar...
Leo - Mas você fala que é pra casar, diz que quer convivência... casamento tem futuro?
X- Tem no sentido de eu gosto de você pra caralho, vamos fuder e beber cachaça junto no boteco, ler umas coisas....
Leo - Mas até que a morte nos separe não existe?
X- Não...
Allan - Você teve um momento, começou aquela coluna Macho na Folha e aí ...
X- Essa coisa de eu no jornalismo é um engano duplo, de quem me contratou e de quem eu fui servir, porque eu nunca fui um jornalista de verdade. Eu caí nesse mundo e aceitei, mas eu nunca quis ser um repórter, um jornalista. Quando eu vim de Juazeiro eu queria ser apenas um filho da puta, escroto e bebedor e que exista de forma humana. Acho que no jornalismo os caras que adoram ser denuncistas... esses caras não têm moral pra porra nenhuma. Eles roubam uma nota e são tão escrotos quanto o Lula.
Arnaldo - E jornalistas que você acha exemplares?
X- Tarso de Castro que já morreu, Fausto Wolff, esses caras honrados, e claro que falando isso você não vive, tendo quarenta e poucos anos. Nêgo desconfia, mas como eu tô cheio de trabalho pra fazer, foda-se. Mas eu acho que esses caras são foda. Eu sempre fui um bundão, de uma certa maneira, de quando no estado de miséria, eu negociei a vida inteira... Mas eu invejo esses caras que dão porrada. Eu já escrevi pra revista de cachorro, gay, mulher, doido, menino... Mas tem uma hora em que se você pudesse não escreveria. Hoje mesmo eu acordei numa ressaca miserável e tive que mandar a porra de uma crônica da Copa pra Folha. Eu não sabia que porra ia escrever. Eu tinha dado uma volta com o Mário Bortolotto, tinha encontrado o filho da puta lá no Planeta, lá embaixo.. aí eu não me lembrava como tinha encontrado com ele, então vi uma porrada de bandeira do Brasil e escrevi: "a pátria de shortinho verde-amarelo" ... É uma merda ganhar a porra dessa existência e os escrotos não falam. O grande épico da humanidade, o grande Ulisses é não encaretar, essa é a maior dificuldade do mundo, porque a gente cai numa cilada. Primeiro você se acha louco, acorda e se dá conta que mal consegue escrever o texto... Mas ao mesmo tempo o que me move, o que me faz escrever de alguma forma é toda essa putaria. Então a gente vai morrer disso, desse dilema escroto. Uma Quinta eu escolhi não beber, que é um momento raro durante séculos, aí mandei meio Lexotan e já tinha mandado uns quartinhos – porque eu acho que o bom da droga é você ir pras drogas menores – pra não beber. A gente tem q respeitar nossas próprias agonias, nossas próprias angústias, e é muito difícil respeitar e ter coragem pra isso, porque implica outra pessoa, filho, existências... é uma merda.
Arnaldo - Você inclusive falou que é contra o Viagra...
X- Se a mulher não me respeitar pela broxada ela vai me respeitar porquê (risos)? Existem mulheres malas pra caralho, nada que uma grande broxada não resolva também (risos). Uma broxada monumental resolve muita coisa pra sua vida, você manda embora muita coisa que você não quer. Queria agradecer a vocês por recuperarem minha memória. Tô virando meio Proust, meio gay...
Allan - E aquela história de dar pra traveco e sentir os peitos nas costas..
X- Eu nunca dei, nunca deixei o pau entrar, mas deixei enconstar. Mas é lindo velho, peitinho aqui é lindo. Olha, o maior travesti do mundo, o mais lindo de todos se chama Marcinha, da praça Roosevelt. Ela tá na Alemanha agora, me mandou um mail dizendo isso. Essa é a mulher mais linda do universo. O que rola é a falta de medo, a diversão. Passar perto e ela mostrar os peitos, uma coisa de amor, até porque ela precisa ganhar a vida.
Arnaldo - E aquela cena do "Crime Delicado" foi com um travesti...
X- Os caras falaram que eu sou um cara da noite e que meu personagem ouve as meninas e vai pro bar...
Arnaldo - Porque nego te tira de machista, mas você, pelo contrário...beija a mão total..
Leo - É um esquema Bukowski, tudo para elas abaixarem as calcinhas?
X- Dizer isso ficou meio caricato, né? É apenas um cara que demorou a chegar nas mulheres e depois que chegou quer tirar o atraso. O sudeste em geral fala que o nordeste pega muito subsídio, eu quero o meu em bucetas. É uma escrotidão o que os caras falam, porque o sudeste também fode o nordeste, e somos escrotos, a FIESP é uma escrota, a Firjam é uma escrota, e se tem subsídio eu quero o meu em buceta.
Arnaldo - E você já foi ameaçado, já teve uma treta foda com um poderoso?
X- Tem nego que é mais poderoso, mas é anônimo. O que é perigoso de fazer matéria investigativa: empreiteiro, que não seja de grande empreiteira, que não é burro. Você pode esculhambar com o ACM por duzentas horas, não acontece nada.
Leo - Você não falou da suruba com o PC...
X- O PC, velho, que era o inimigo número um do Brasil, o cara tava lá fora, naquela coisa fudida. Mas quando eu ganhei o cara pra ter a entrevista dele, foi tomando whisky. Primeiro na cidade de São Paulo, eu cheguei e ficamos tomando whisky até às quatro da manhã, e depois disso, tanto faz ser PC, como Allan Sieber, Lou Reed, Nick Cave, virou bosta a humanidade, qualquer porra, nivela, vira a mesma coisa. A existência é isso! O que eu achei extremamente humano nele, e lindo é que num puteiro em Curitiba, eu tava atrás dele, e ele escolheu a mulher mais feia. Eu tava com duas mulheres no colo, dias galeguinhas lindas da porra, era uma morena e uma loira, pra ser meio projeto Benetton (risos). E PC, velho, pega a mulher mais feia do puteiro, rouba o Brasil e é generoso na hora de colocar uma mulher no colo, velho. Genial! A mulher toda largada.. ele me ganhou nesse dia. Há uma generosidade no fim da linha. Por isso que eu odeio jornalista, porque nunca julga a existência interna, são os caras filhos da puta com as mulheres, na rua, roubam onde puder... Mas achei de uma humanidade linda colocar uma mulher aparentemente baranga – porque não existe baranga - colocar no colo e ser feliz.
Arnaldo - Aí tem aquela frase, de que o poder é o maior afrodisíaco...
X- O poder do mundo é a buceta, velho.
Arnaldo - Inclusive, como foi aquela sua matéria no puteiro da Jeanne Marie Corner, como foi essa porra?
X- Eu tive sorte, porque a mulher é do Crato, ela podia ser minha tia, mas não é. Quando eu falei que era do Crato abriu-se a porta, o mundo. Contou muito eu ser do Crato.
Arnaldo - Você comeu as meninas?
X- Acho que todo jornalista, todo repórter é idiota, inclusive eu naquela matéria, mas o bom do jornalismo é você mostrar que por vias totalmente transversas pode narrar mais a história do que um "disse ontem o presidente.." tomar no cu, porra! É burrice ter de narrar o mundo por isso. Não é bom pra vender jornal, não é bom pra nada. Nem o caretismo gosta. Outro dia vi uma matéria do Fernando Henrique encontrando com o Serra, e o Alckmin, aqueles escrotos da Opus Dei. Eles foram a um daqueles restaurantes fodidos em que você paga R$900 por um conhaque. Quem fez a matéria não disse o que eles comeram, só estavam ali para dizer a escrotidão que eles estavam provocando, que político escolhe aquele lugar pra jantar. Aí já se mata a existência, e pode ser pra Lula, pra qualquer um. Porque você colocar essa simbologia dos lugares que as pessoas freqüentam que é a bosta, é nisso que está a história. Nem que tenha o lado careta, mas que tivesse ao Domingo uma matéria que contasse a crônica da semana de um lugar. Mas é só "disse ontem". Velho, nenhum entrevistado vai se confessar. Eu odeio essa matéria de Brasília pra Trip, eu não entrevisto ninguém, ou eu tô de lado ouvindo... entrevistar gente, você já gera a frase dele. Velho, cola na mesa vizinha e vai beber. Eu odeio entrevistar gente, eu prefiro mentir.
Arnaldo - Eu achei que nego fosse te dar porrada porque...
X - Os caras mandaram uma porrada de coisa horrorosa, mas tem uma coisa muito clássica em São Paulo que é mandar uma carta com merda. Isso eu recebi nessa matéria. Isso é um clássico, existe em São Paulo há vinte anos no mínimo. Você pode até descobrir quem é, né? Pega uma impressão digital de cu... isso é homossexualismo em estado livre. Eu amo homossexualismo, desde que eu não dê, porque no interior quem come não é viado.
Arnaldo - Mas e agora, você tá escrevendo alguma coisa pra publicar?
X- Tô tentando dar um truque, mas com muita dignidade.
Marsílea - E o seu trabalho na Editora do Bispo?
X- Eu sou sócio, não capitalista. Eu sou sócio na parte do trabalho.
Marsílea - E do conteúdo?
X- Que conteúdo? Do trabalho. Eu chego tão ressacado que nem sei se aquilo é conteúdo. Pela primeira vez na vida eu tô trabalhando com a única mulher que entende minha ressaca, eu chego seis horas da tarde ressacado e ela diz, "vamos beber mais". Essa é a mulher de verdade. Nossa história só existiria assim... Senão não teria sociedade. E ela é a coisa mais monstruosa no sentido de entender minha ressaca...
Marsílea - Vocês se conheceram num trampo?
X - Eu namorei a filha dela. A única pessoa que me deu alguma coisa na vida, uma mulher do caralho. Eu chego lá na hora em que eu quiser, essa mulher sabe o que é um homem ressacado, do fundo do coração dele.
Allan - E a gaveta do Peréio?
X- Aliás eu vou pedir ajuda pro velho. O livro é tão louco, vamos fazer algo juntos, velho. Ele (aponta o Allan) desenha.
(...)
Arnaldo - A gente brigou com o Fausto na última F. E foi uma merda, você chegou a dar uma olhada na revista?
X- Todos nós somos uns bostas de uns viados. Fausto Wolff tem um passado mais glorioso, ele tem mais razão de brigar com vocês. O cara é alguém que eu respeito, que acho .... o cara é muito foda, velho.
Leo - Mas ele tava meio amargurado com a parada do jornal...
X- Mas todos nós somos, velho. Se tocarmos a sanfona do ressentimento, velho, ela toca por duzentas horas.
Arnaldo - Mas você tem alguma bronca de algum lugar em que você trabalhou, você gostaria de falar aqui, publicamente?
X- Eu acho isso pequeno pra esculhambar com os patrões... claro que eu vou falar, com muita dignidade, se algum amigo meu me chama pra testemunhar na Justiça do Trabalho, é claro que eu vou falar, mas não vou me arvorar. Eu me acho muito mais importante que esses caras, eu como mais mulher sendo mais feio, mais pobre. Não me interessa, cara. Mas acho que ele tem razão. Dono de jornal sempre vai ser escroto porque querem ser Deus, querem o vento a favor deles, mas não é isso que acontece. O vento, velho, é a favor de qualquer um. Eles querem ser donos do vento, querem comprar a brisa.
Arnaldo - E quem são seus ídolos? Vale qualquer um..
X- Marcola do PCC, Lampião. São caras que movimentam a história, seja pro bem ou pro mal. Eu amo esses caras que mostram que a história está viva, seja os estudantes lá da França, seja o Bruno Maranhão. Esse é um grande homem, fez uma quebradeira filha da puta. Esse é um doido da Casa Grande, da burguesia que vai lá e bota fogo no Congresso. Eu amo esses caras que mostram que a História está viva.
Arnaldo - E o governo Lula?
X- Eu acho que é uma merda pro que esperavam, mas eu quero que a Opus Dei geral do Alckmin tome no cu.
Arnaldo - Mas rola uma decepção grande?
X- Rapaz, nunca um homem no Brasil fez uma campanha limpa. César Maia é o maior ladrão, Garotinho...
Leo - Você vota?
X- Eu já votei umas duas ou três vezes na vida... Eu votei no Lula no primeiro turno e no segundo não porque eu tava trabalhando. O Lula é uma merda, mas nunca direi que é um escroto. Entre ele e Alckmin.... essa Dona Daslu, voto Lula sem nem crítica, sem pensar. Eu sei que político é uma bosta. Minha crítica foi nos anos 80.
Leo - Alguma coisa salva o Lula no seu conceito?
X- Não, nada. É apenas igual a Fla X Flu, eu quero que Geraldo Alckmin se foda, só por ser por honra, pronto. Eu sei quem são meus inimigos, e esse cara não é do meu mundo, é da Opus Dei.
Leo - O Alckmin foi quem deu proteção aos seqüestradores da filha do Silvio Santos. Ele deu garantia de vida e o cara morreu duas semanas depois, no presídio.
X- Cara, vamos colocar a história do Alckmin na roda, eu tenho um cuidado da porra com o moralismo....
Leo - O Collor era um desses casos de playboy, tinha caso até de estupro..
X- Nesse caso eles seguram até hoje. Mas pra não ser moralista é isso, quando é fodido botam no cu do cabra, quando é autoridade aí tem o maior cuidado.
Arnaldo - Tem um tempo que você fala o que pensa. Em alguma oportunidade você já achou que falou demais?
X- Hoje em dia não mais, velho. Eu arrumo confusão hoje em porta de bar com segurança, às vezes os caras são até amigos, mas não é meu objetivo. Não saio de casa pensando nisso. Eu tenho uma coisa insuportável que é a tese, por exemplo, eu adoro falar que o Chico Buarque é um compositor de merda, literatoso e num lirismo chinfrim que não é muito bom. E as meninas ficam nervosas. Tenho tese da semana, das estações, eu tiro onda, velho. Eu uso óculos, não brigo fácil (risos). Já arrumei muita confusão, já apanhei muito e nem sabia se estava batendo. Nunca tive um soco autoral (risos). Em confusão de noite eu já briguei pra caralho, é um clássico da minha existência. Mas eu saio de casa pra vingar a bananeira, eu sou que nem terra de cemitério, gosto de comer gente, velho (risos).
(...) MUDANÇA PARA 3ª FITA.
X - Não quero ler nada, velho. Eu quero que você me melhorem até.. se puder radicalizar ali, me fazer mais merda ainda... Isso aqui não existe velho. Só um otário diz essa porra.
Arnaldo - Só não pode ser melhor que a do Fausto...
X- Fausto é meu ídolo... Eu amo o cara, velho...
Leo - Às vezes que a gente foi conversar com ele foram do caralho. A gente ligou o gravador.. aquele dia mais pesado... rolou uma parada mais amarga mesmo...
X- Aquela entrevista é linda, velho.. Eu li todas as entrevistas...
(...)
Marsílea - A gente queria te levar para o apartamento, mas achou que podia ficar chato.
X- Tudo bem.... filhos da puta... P.S.: fui injustiçado. Bota um P.S., vocês gostam mais do Fausto do que de mim... não, eu amei.. a seqüência é o medo e o amor pelo cara, velho. É um dos maiores jornalistas que eu admiro no Brasil, velho... Eu amo esse filho da puta, eu li tudo o que esse homem escreveu, velho....
Arnaldo - Nesse dia foi muito bom...
Allan - Foi complicado...
Arnaldo - Foram 3 garrafas de whisky... Muito bom você ver ele acelerado...
Leo - Uma pergunta que a gente não fez na entrevista, mas onde você estava quando Chico Science morreu?
X- Eu estava em Recife, eu tava com Lula no apartamento dele, perto do cara mais feio do mundo... bebendo... O Chico tinha virado um bosta porque é humano, o sucesso... vai pro estrangeiro e tal.. mas ele tinha feito as pazes com a gente, porque a gente tava muito puto com ele, e tinha tocado uma noite linda de jungle... ele era viado e gostava de jungle, eu me amarro em jungle, velho... mas a gente tava muito puto com ele, porque em Recife ninguém tem bom humor com ninguém, a gente guarda ressentimento.. a vida.. todo mundo é Fausto Wolff em Pernambuco.

* F - Revista capitaneada por Arnaldo Branco, Allan Sieber e Leonardo