segunda-feira, 31 de dezembro de 2007

2007 me gusta muito!!

Este ano que se encerra, foi muito especial pra mim. Foram várias conquistas no campo do trabalho e diversas premiações em salões de humor pelo Brasil. E hoje ao dar minha passadinha habitual pelo site Brazil Cartoon me deparei com a notícia que, ao lado de grandes desenhistas, eu havia sido um dos destaques do ano!
A relação tá no link abaixo!!
É isso aí!!
Um abração pessoal!!
http://humor.uol.com.br/album/talentos_2007_album.jhtm

sábado, 22 de dezembro de 2007

Iluminado

Existem pessoas iluminadas no mundo. Há quem consiga converter sentimentos em som. Uma dessas pessoas é Andy McKee. Eu - na minha pequena experiência musical - nunca vi nada parecido. A música se chama Nakagawa-san. É uma daquelas melodias que quando você ouve o tempo parece parar. Sem igual.


Longa vida aos que buscam fazer música de verdade.

(Inspirado no Blog do André)

segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

Caso conjugal


Malvina era alta, branca, tinha olhos castanho-claros e cabelos pretos como a noite. Não possuía vícios além do vício da precaução: pensava que cuidado em excesso a privaria sempre de desgostos na vida, distúrbios da saúde, constrangimentos nas relações sociais.

Conhecera Benedito num lugar extremamente incomum, do qual não se lembrava mais e para o qual nunca havia dado qualquer importância. Chegou a hesitar inúmeras vezes antes de aceitar definitivamente o tímido pedido de casamento lhe feito pelo simples rapaz.

Benedito era pobre, baixinho e mal instruído. Um indivíduo sem lugar no mundo. Aprendera com a própria vida a julgar o certo e o errado, e a optar – segundo a conveniência – pela opção que lhe prometesse mais sucesso.

(Juntos, Benedito e Malvina renderiam a elaboração de romances, crônicas pomposas, verdadeiros contos que, ao contrário deste, fariam jus a beleza de suas histórias).

Possuíam personalidades que desobedeciam ao significado dos nomes que carregavam: Malvina, de má não tinha nada. Pelo contrário, só sabia fazer o bem, pensar o bem, querer o bem para os outros. Era capaz de mentir, assumir culpas de outras pessoas, render discussões até as ultimas conseqüências só para que um inocente não fosse condenado. Repugnava a injustiça. Jamais aceitara a desigualdade própria do mundo. Pensava sempre que, somando forças e conservando esperanças, seria possível mudar as coisas um dia.

Benedito já era um sujeito pronto para amaldiçoar a qualquer um que, distraidamente, lhe desse um pisão de pé na fila da padaria, ou lhe desse um esbarrão na calçada. Carregava um tipo particular de maldade consigo. Julgava as atitudes de todos aqueles que o rodeavam. Condenava pensamentos que fossem contrários ao seu conservadorismo. Era autoritário, metódico e, mesmo que inconscientemente, preconceituoso. Nem o pobre Fusca, um vira-lata amarelo de pequeno porte que Malvina havia trazido para casa depois de encontrá-lo ainda filhote, na rua, num dia de chuva, escapava de suas pragas:

- Vira-lata infeliz! Se tivesse consciência da insignificância da própria existência se enfiaria na frente de um caminhão em alta velocidade... E Fusca o olhava nos olhos, com um olhar de compreensão. Como alguém ouve e absorve o peso de cada palavra de maldição. E de certo era o que acontecia. Fusca compreendia, como é comum a todo cão entender, o que Benedito dizia.

A vida para o casal não era difícil. Malvina era funcionária pública efetivada. Conhecia sua repartição melhor do que a si mesma, melhor do que sua casa, melhor do que seu marido. Dos anos dedicados ao trabalho não esperava nenhum reconhecimento. Sabia que daquela sala cercada por quatro paredes de divisórias beges nada de melhoria para sua vida poderia surgir. No entanto, não se preocupava. Não corria riscos de ficar desempregada como grande parte das mulheres da mesma idade. Já não tinha ânimo algum para prestar outro concurso público para um órgão mais importante que lhe oferecesse um cargo melhor. Não pretendia ganhar mais porque a força de acomodação que vive impregnada no cotidiano já havia sugado por completo a sua mais saudável ambição. Não pretendia ganhar mais porque não tinha idéia de com o que gastar. Qualquer bem que ela desejasse ou precisasse adquirir caberia dentro das mesmas prestações através das quais ela havia comprado tudo o que, até então, possuía na vida.

Benedito, pelo contrário, sabia bem o que queria. Já havia tomado tantos calotes e dado tantos outros que não fazia mais conta do tempo ou dinheiro perdido. Passara a maior parte da vida apostando em negócios que deram errado, mas jamais desistira da idéia de ficar rico com o comércio. Já havia aberto lojas de tudo o quanto fosse mercadoria, nos mais variados pontos onde o comércio se aquecia. Tudo em vão. Sua vida se resumia em tentativas que eram alimentadas pelo fracasso. Talvez por isso a próxima tentativa fosse sempre mais repleta de esperança. Talvez pela sua inquietude e persistência no próximo negócio ou até mesmo pela sua dedicação e amor ao trabalho, se justificasse seu comportamento enquanto marido. Nunca quisera ter filhos. Nunca dera a Malvina a chance de contra argumentar nas discussões sobre o assunto, à tardinha, depois do trabalho.

Já se havia passado mais de nove anos de união e a relação do casal parecia estar bastante saturada. O tempo fez com os dois o que faz com todo mundo. Mostrou todos os lados, todos os ângulos do ser, sem cortes. Mostrou, de um para o outro, as cicatrizes feitas por eles mesmos, as esperanças mortas, escritas como um dístico na testa do outro. O tempo, esse estraga-prazeres, levou as poucas surpresas embora. Revelou que o que havia por descobrir já havia sido descoberto. Até mesmo o “por fazer”, que carregava um caráter de obrigação, perdeu o peso. Como uma parede de sala por pintar, que o passar dos anos acaba amarelando e o amarelo se torna uma cor de conformação, uma cor de “deixa como está que é melhor nem mexer”.

- Malvina, o que é que você tanto lê nesses panfletos, criatura?

- Não são panfletos, Benedito. São editais de concursos públicos federais. Acabaram de ser publicados. Por que é que você também não dá uma olhada? Pode ter coisa que te interessa aqui...

- A única coisa que me interessa é o comércio, você sabe.

- Sei sim. É por isso que sua vida continua assim. Estagnada.

- Estagnada não! Para se atuar no comércio é preciso ter tino pra coisa. Faro apurado e

acima de tudo sorte! ...o que tem me faltado ultimamente é a sorte, mas paciência! Nenhum grande empresário ficou rico da noite para o dia. Comigo não vai ser diferente.

- Nada na sua vida vai ser diferente, Benedito! Nunca! – disse Malvina já com os olhos cheios d’água e em elevado tom de voz...

- Você não consegue pensar em mais nada além de trabalho! (continuava) Já estamos juntos há quase dez anos e você se comportou por todos os dias durante esses dez anos da mesma maneira! Como alguém é capaz de ser tão frio? Nunca tivemos um filho! Nunca viajamos! Nunca nos relacionamos com outros casais! Nunca nos divertimos de verdade! Nunca aproveitamos a companhia um do outro como deveríamos!

- Malvina, o que é isso? Você nunca agiu assim. Você nunca se queixou.

- Pois agora eu estou me queixando. Eu estou botando pra fora tudo o que estava engasgado! Tudo o que tortura da rotina me fez assumir...

E ao passo que dava ênfase a seu sincero desabafo, Malvina se desmanchava em lágrimas e soluços. Era como se a necessidade de dizer algo verdadeiro, mesmo que o verdadeiro fosse doloroso, se fizesse maior do que a necessidade da estabilidade conjugal que sempre fora, (e essa era uma culpa conjunta) visivelmente, uma prioridade para os dois. O diálogo daquela noite deveria se tornar um divisor de águas na relação dos dois, um novo ponto de partida para uma relação mais proveitosa, um recomeço.

Benedito ficara realmente pasmo com a reação de Malvina ao passar dos dias. No fundo ele jamais esperaria que tal atitude viesse a acontecer tão cedo. Depois de algumas horas de absoluto silêncio, ao abrir a porta do quarto e sussurrar: “Malvina, meu amor, você já está melhor?”, o que ele ouviu foi um seco:

- Sim, apenas traga-me um comprimido para enxaqueca que amanhã preciso acordar disposta para o expediente que começa cedo.

sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

Requiém Do Pequeno

Te falta o gesto largo, a ébria poesia
Te sobra a pequeneza, as pequenas certezas
Como Agenor dizia
A vida não te intoxica enquanto contas trocados
Não vês o anzol e a linha da vida que passa ao teu lado
Te falta subir ao mais alto, te falta descer ao mais baixo
Te sobra a maldita prudência, alegrias compradas a prazo
Ao invés de viver, sobrevives, sacrificas o essencial
Não choras de dor em finados, não gritas de amor carnaval
Cometes então, que surpresa!O sacrilégio final
Não vês a fugaz e humana beleza e sonhas em ser imortal

Ps.: Ganha um doce quem adivinhar de quem é esta letra...

segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

quinta-feira, 22 de novembro de 2007

DECLARAÇÃO

Você incorporou meu jeito de ser, como um objeto que vai se humanizando ao contato da gente. Você passou a usar os meus jargões, as minhas piadas repetidas, as minhas gírias, o meu sotaque. E quando você começou a usar “Verdana 10” só porque essa era a fonte que eu mais usava?

Agora eu vi que, contraditoriamente, foi você quem saiu ganhando. Nessa brincadeira foi um tanto de você que acabou se impregnando em mim. Ou então, sem perceber, você saiu levando um pedaço meu; covardemente.

quinta-feira, 27 de setembro de 2007

Eu não sou daqui

Como prometido há meses atrás, mais músicas para download. Essa se chama "Eu não sou daqui" e foi escrita já há algum tempinho...

(É interessante ouvir a música num fone de ouvido porque essas caixinhas tradicionais de computador não emitem o grave direito e você não vai conseguir ouvir o som do contra-baixo. A não ser que você tenha caixas de home theater no seu PC.)

EU NÃO SOU DAQUI

Eu não sou daqui, eu sei
Eu não pertenço a este lugar
P’ronde eu devo ir, não sei
Eu sei que eu não devo ficar

Onde está o abrigo mais seguro pra eu poder morar?
Mandem construir um muro impossível de saltar.

Hoje eu vou dar uma festa
e não vou convidar ninguém
E ninguém vai perceber
que eu estou longe de mim também;

Já faz tanto tempo que venho tentando me encontrar;
me perdi sozinho e sem caminho,
onde eu vou caminhar?

Eu vou fugir pra bem longe daqui
Pra onde nem eu mesmo possa estar
Eu vou fugir pra bem longe daqui
Pra um mundo onde ninguém possa me encontrar.

Meus amigos dizem que se eu não mudar, acabo só;
Mas que vida é essa que me priva do sonho maior
Que é seguir o rumo que encontrei para ser o que eu sou
E andar mesmo sem saber pra ver até aonde eu vou.

Eu vou fugir pra bem longe daqui
Pra onde nem eu mesmo possa estar
Eu vou fugir pra bem longe daqui
Pra um mundo onde ninguém possa me encontrar.

Clique aqui para baixar!

sábado, 22 de setembro de 2007

Mais uma canção

Diamantina

Diamantes cortando corações
De dentro pra fora
Ninguém vê –Nem sente
Seu sorriso rupestre

Nos bares de uma porta só
Nas ruas estreitas
Estas ladeiras que vão dar no céu
Seu sorriso rupestre

Toco o velho violão com os olhos
Como sempre toquei
Minhas mãos tocam
Você
Como nunca toquei
Saudades de um tempo que ainda não veio
De ver no meio do azul
Seu sorriso rupestre

sábado, 15 de setembro de 2007

Triste é não entender a matemática literária que o sonho mais querido nos impõe. É não enxergar um triângulo dentro do outro, na geometria barata que nos escraviza. Triste é compreender a exatidão do mundo; e, ainda assim, buscar se alicerçar no seu lado mais humano.

Triste é saber a tristeza que há de chegar logo, com a noite; e não poder domá-la, mesmo que por amizade e apego; como um domador doma os leões. Triste é não saber desinventar o medo que nos invade, faz morada em nós; se reproduz por dentro, e nos faz seguir serenos, como um rio.

Triste é viver a lucidez imbecil da vida: perceber entre as frinchas das gavetas avisos e previsões; tendo que esperá-los acontecer por não haver forma de se desmaterializar e estar fora do plano terrestre por uma mínima fração de segundo.

Triste é poder contar o tempo que sobra sem fazer juízo do tempo que falta.

Triste é esperar pelo que já aconteceu acreditando que irá acontecer de novo.

Triste é ter um texto inteiro feito apenas por palavras rudes e infiéis, palavras desobedecem ao significado que carregam, vão contra o próprio sentido até perderem sensibilidade. Sem nada sentirem.

Triste é pensar no pouco valor que há nas palavras que jogamos para fora de nós, na tentativa de forçarmos nossa continuação (tentando existir através delas) nas gerações que virão.

Triste é não saber medir. Triste é não conseguir duvidar.

Triste é suplantar a vida com alegria de mentira. Triste é pular carnaval, ser parcela de multidão, se dissolver, homogeneizar-se.

Triste é olhar pra realidade e ver que a vida não passa de uma função do 1º grau.

Triste é repetir no mesmo texto, por centenas de vezes, a palavra vida. A palavra vida é triste em qualquer contexto.

Triste é ouvir o poeta gritar: “Eu posso amar quem eu quiser!” e saber que o poeta é triste.

Triste é não dar a mínima para as pessoas que pensam que você escreve demais sobre coisas tristes.

Triste é se enganar mudando apenas as fronteiras de lugar. Triste é perseguir a inteligência salutar.

Mas triste mesmo é acreditar no, sonhar com e esperar pelo: teletransporte.

sexta-feira, 14 de setembro de 2007

A Falcatrua!


A banda Falcatrua (BH) disponibilizou em seu site todo seu álbum de estréia para download

Falcatrua e o Pau de Arara Espacial é um disco inteligente, carregado de uma brasilidade particular, que poucas bandas carregam. O disco é um daqueles trabalhos que fazem você acreditar que (ainda) vale a pena fazer rock no Brasil.

Divirtam-se!

segunda-feira, 3 de setembro de 2007

A Rotina dos Sonhos...

Festival da Canção de Lagoa Santa/MG - 14/08/2007




"Arte na Praça " - 03/08/2007 (Praça Dr. Lund - L.S.)


Agosto... mês que vai deixar saudades...


segunda-feira, 20 de agosto de 2007

As Estranhas Sereias


Mais uma letra...

Ela Não Disse Nada

Ela não disse nada
Ela brincou com os vãos
Entre as palavras
E se mandou

Ela não disse nada
Nem sim, nem não
O vazio que se projetou da sua boca
Fez calar tudo ao redor, como uma oração

Ela não disse nada
E agora quem caminha em silêncio
Sou eu
Carregando no peito o estandarte da mudez
Sem nada no peito para bater

terça-feira, 14 de agosto de 2007

Bonito!



Aí está uma daquelas surpresas que de tão inesperadas fazem você repensar sobre o que é possível nessa vida.

Não há muito o que dizer sobre a participação de Marcelo Camelo no acústico Sandy e Júnior, a não ser: que lindo!

Musiquinha bonita, essa. Estou pensando até em comprar o disco. Acreditem.

segunda-feira, 30 de julho de 2007

É na praça, é de graça!

Para quem quiser conhecer o Manual Cerebral na sua versão mais sonora a oportunidade é nessa sexta-feira, dia 03/08/2007. Tem show de graça na Praça Dr. Lund, aqui em Lagoa Santa a partir das 20:00. Desta vez a prefeitura deu uma dentro. Vai ser uma noite fantástica com shows de três bandas excelentes. Está todo mundo convidado!

(Se Deus quiser não vai chover...)


Quem viver ouvirá.


Apareçam!

quarta-feira, 25 de julho de 2007

Idioma

Eu não perdi a vontade de escrever.

Admito minha falta-de-palavra com o mesmo pesar de um pai que deixa faltar comida na mesa de casa; porque vez ou outra encontro um verbo vivo e dele não sei o que fazer. A carência fortifica a medida em que se percebe que o mais propício talvez seja procurar não a melhor palavra para se expressar, mas sim o melhor silêncio. O silêncio que é sólido. O silêncio que diz.

Mesmo nessa minha condição de homem-sem-assunto é difícil imaginar que emane de mim qualquer linguagem que não seja sonora, mas acho que a falta de palavras também é um idioma.

segunda-feira, 2 de julho de 2007

Pensamento Solto no Céu

Eu...
O urubu...

Não sei se já postei isso aqui, mas o bicho que mais gosto de ver voar é o urubu. Silêncio dele no alto do céu. Nestes meses de inverno-o céu azul-vale deitar no chão olhar pra cima e deixar o coração rodopiar como e com os urubus...



quinta-feira, 28 de junho de 2007

Duas Canções



DEIXA O SOL

Deixa o sol morrer
Que a noite quer chegar
Preta sem saber
Do astro- rei- solar

Deixa escurecer
Terra, céu e mar
Que ele vai saber
Qual caminho andar
Ir subterrâneo
Encontrar mil outros corações

Deixa a lua sorrir no céu
Deita em minhas mãos
Porque já é hora de dormir
Sonhar com as estrelas
Que ainda estão por vir



PARA COMEÇAR O DIA

Fecho os meus olhos
Para começar o dia
Para ver por dentro de mim
Onde guardei seu sorriso

Seus olhos sob seus óculos
Suas janelas sob seus olhos
Seu silêncio vai por detrás das janelas
Eu sei

Ah, quem diria?
Já não tenho marcas no pescoço
Aquele dia,lembra?
Mas ainda penso em você
Você...

quarta-feira, 20 de junho de 2007

ACONTECIMENTO

O sangue dos bodes e dos touros
seca no Antigo Testamento.
O maná e a vara dentro da urna
de ouro
desaparecem. Na planície
balouça unicamente
o berço
de feno, concha lumiada
pelo clarão do Paráclito
que é justiça e consolo,
com uma cruz dormindo entre cordeiros.

Nova palavra - Amor - é descoberta
nas cinzas de outra igual e já sem música.

Desde então, fere mais a nostalgia
do sempre, em nosso barro.

Carlos Drummond de Andrade

segunda-feira, 11 de junho de 2007

Escapada

Quem nunca viajou durante uma aula, que atire a primeira pedra...
Isso aí era pra ser anotações de Métodos da Análise Geográfica... Era pra ser.

terça-feira, 29 de maio de 2007

Pais e Filhos


Este cartum é uma homenagem aos meus dois garotos espertos, Yuri e Gabriel (em ordem de levadeza)!!

* Depois da coruja, o papai coruja!!

segunda-feira, 21 de maio de 2007

CORUJA


As coisas não são mais coisas

Posso sentir o mundo

Mundo vai nas pontas das asas

Frio


O horizonte se expande

O que é pequeno se alarga em vermelho

Eu sei ver os detalhes

Por isso quase que sempre choro nestas horas

Quero acompanhar meus pensamentos

Mas minhas asas são de não voar


Vejo no primeiro clarão

A luz se apagar como um ruído

São seis da manhã

E não sei do amanhã

O depois...


Nenhuma árvore pra descansar os pés

Volto sozinho para casa

Silenciosa casa, os meninos dormindo

Ponho meu coração pra deitar com eles


Aí meu pensamento voa passarinho

Como sempre há de ser...



* Acho que isso podia se chamar também "Onde descanso meu coração"

** A ilustração da coruja eu já havia feito há um tempão, mas vale- e muito- pra meu sentimento de hoje...









segunda-feira, 14 de maio de 2007

Letra e música

A canção “Ninguém ali” é um dos frutos dessa nossa brincadeira de tentar fazer música. A letra é do Alves e a música é minha. Foi gravada aqui em casa, com aparatos tecnológicos baratos e produzida por nós mesmos. Agora que tudo está devidamente registrado, resolvemos disponibilizar o arquivo em mp3. Tá aí:

NINGUÉM ALI

Lá fora a rua vazia em si
E os corações sobre as calçadas
Penso nas noites que vivi
No que passou, o que sobrou do nada.

Não é possível terminar assim
O nosso amor, a nossa estrada
Ninguém ali foi ver o fim
Ninguém chorou de madrugada

E o seu diário continua aqui:
Nenhuma página rasgada
E as suas dores não senti (eu sei)
Eu acordei na hora errada

Quando parei e decidi
Eu quis correr pelas escadas
Trazer você de novo aqui
Dois corações sobre as calçadas

E o seu diário continua aqui:
Nenhuma página rasgada
E as suas dores não senti (eu sei)
Eu acordei na hora errada

Para baixar a música clique aqui

quarta-feira, 9 de maio de 2007

Novidade

Já que o assunto é Los Hermanos, e está todo sentido uma mistura de raiva com tristeza pelo fato dos caras estarem parando, eu venho trazer uma pequena "anestesia".

Rodrigo Amarante está com uma música nova transitando pela web. Trata-se da bela "Evaporar", canção que ele gravou no último disco do guitarrista carioca Lanny Gordin.

Para baixar é só clicar aqui

Podem me agradecer agora.

segunda-feira, 7 de maio de 2007


Recesso por tempo indeterminado. Essa pequena frase deixou muita gente preocupada. A banda anunciou no último dia 23 que vai paralisar as atividades por um tempo e não há previsão para lançamento de novo disco. A esperança é que haja, durante o "período ocioso", trabalhos paralelos pipocando pela web, já que não dá pra imaginar nenhum dos 4 barbudos fazendo alguma outra coisa que não seja música.

Bruno Medina, tecladista da banda estreiou uma coluna no site da globo (Instante Posterior), onde pretende escrever com regularidade, diferentemente de seu primeiro blog, o Instante Anterior.

Fica, então, a esperança de que tudo volte a normal rapindinho, e a gente volte a se encantar com boas canções. É... pode ser que a maré não vire, mas pode ser também que tudo seja como era antes. Pode ser que a vontade de fazer música com o coração renasça dentro de cada um. E que nossas vidas voltem a ser regadas por músicas carregadas daquele sentimento bom que a gente bem conhece.

(Enquanto isso, a vontade que está faltando em uns e outros está sobrando na gente.)

Pieguices à parte, somos todos hermanos.

quinta-feira, 3 de maio de 2007

O FIM ERA OUTRO

Vendo o ultimo post de Dezembro de 2006, penso que Rauzito tem vocação pra profeta. Se não acertou no texto, o título ele acertou na mosca...
Ré,ré...

quinta-feira, 26 de abril de 2007

PEDRA BRANCA

Hoje, escutando Itamarandiba, me lembrei que há um tempo atrás tinha escrito esta letra aí. Deu vontade de postar e então...

Pedra Branca

Pedra de amolar
Pedra de jogar
Pedra de tocar
O meu coração
Para outro lugar, muito além de lá
Pedra Branca

Triste é o meu olhar
Ao te ver passar
Seus cabelos pretos, muito além de lá
Pedra branca

Céu azul passou por mim
E nem sei se sorri
Só sei de você, nos meus olhos pretos
Muito além de lá
Pedra Branca

segunda-feira, 23 de abril de 2007

Nossa classe


Ser um guitarrista canhoto é ser um sofredor. É incrível a escassez de modelos de qualidade no mercado nacional. Os modelos left-hand são fabricados em proporções muito menores e consumidos em sua maioria no próprio EUA, onde estão as maiores fábricas. “Se eu fosse americano minha vida não seria assim” já diria Ed Motta.

O fato favorecedor que me serve de consolo é a lista de canhotos que venceram por não se limitarem às dificuldades e persistirem no sonho de fazer música:


Paul McCartney:


Hoje, com 65 anos de idade e fôlego de menino, o cara ainda continua fazendo jus à fama que possui: lança em média um disco por ano, está sempre compondo novas canções e faz shows incansavelmente - mesmo não precisando, afinal ele é co-fundador da banda de rock mais popular que já existiu na face da terra e poderia viver tranquilamente administrando a fortuna que conseguiu fazer, além de encher o bolso com tantos tributos, coletâneas e homenagens feitas aos Beatles.

Jimi Hendrix:


A foto acima é auto-explicativa. É um pouco difícil discorrer com originalidade sobre quem foi e o que Hendrix representa na música contemporânea. O simples fato é que o sujeito REINVENTOU a forma de se tocar guitarra e depois dele o rock (pra não dizer “o mundo”) nunca mais foi mesmo. Resumindo: é Deus no céu e Jimi Hendrix na terra.
(Se bem que agora não dá pra saber ao certo onde ele está... talvez no céu também, solando entre as estrelas...)

Toni Iommi:


Já ouviram falar em Heavy Metal? Pois é, o pai dele se chama Anthony Frank Iommi. Nasceu em 1942, na Inglaterra. Começou a tocar guitarra aos 12 anos e alguns anos depois viria a se unir com mais três amigos, dentre eles um tal de Ozzy Ousborne, e formar uma banda de rock cujo nome viria a ser Black Sabbath. Nada de anormal até aí, não fosse o formato em que as músicas eram concebidas. Graças a Toni, as canções eram mais pesadas do que qualquer coisa que alguma banda havia feito antes. O canhoto criou os riffs mais obscuros e fantasmagóricos que alguém já havia ousado fazer, e só depois dele é que o Metal se tornou uma vertente oficial do rock e assim vieram safras de bandas que trouxeram nomes como Iron Maiden, Metallica, AC/DC, etc.



Kurt Cobain:


Louco, viciado, depressivo, suicida, mas muito criativo e, é claro, canhoto. Essas seriam as definições que caberiam perfeitamente para tentar entender quem foi Kurt Cobain, líder do Nirvana. Apesar de todo o sofrimento pelo qual Kurt passou aqui e a forma como morreu, sua imagem ficou eternizada. É certo que todos os músicos dessa lista deixaram ou estão deixando seus nomes escritos na história da humanidade, mas o de Cobain, devido à forma como ele conseguiu ressuscitar o espírito quase morto do rock nos meados da década de 90, vai ficar salvo em negrito, sublinhado e em caixa alta.


Omar Rodriguez Lopes:


Esse mexicano magrelinho aí já está sendo considerando por muitos críticos o Jimi Hendrix do novo milênio. Por quê? É só pegar o “De-Loused In The Comatorium” (último disco da banda dele: o The Mars Volta) pra ouvir que você vai entender. O disco já nasce com toda uma aura mítica a seu redor, sintetizando o modo como a banda soa a maior parte do tempo: hard rock com um passado punk, provido de enxertos de polirritmia, jazz fusion clássico e pirações dub. É uma bagunça desconexa, que em algum ponto aterriza sobre a própria cara. Todos os estilos musicais apreciados pela banda são costurados num modelo único e bizarro, disfuncional e alienante como as peças de arte mais inquietantes de algum modo se prestam a ser. Como se fosse indicativo de sua amplitude e intenção, o disco é denso, inóspito nas primeiras audições. Um verdadeiro laboratório onde a guitarra sofre as mais impensáveis metamorfoses sonoras. Originalidade em estado puro.

Edgar Scandurra:


Não dava pra esquecer desse super guitarrista que merece lugar de destaque por ser brazuca (e canhoto, é lógico). Scandurra, como todos sabem, é guitarrista do Ira!, banda paulista dona de clássicos do rock brasileiro que influenciaram a mim e à juventude de muitos “amigos mais velhos” que tenho. Além do Ira, Scandurra ainda tem um projeto paralelo chamado “Benzina” (nome sugestivo ?) que mistura música eletrônica e muita guitarra. Dentre os canhotos citados aqui, ele é um dos mais habilidosos e, contraditoriamente, o único que não inverte as cordas da guitarra pra tocar, o que torna a execução da música algo ainda mais cabuloso. Enfim, é talento que não acaba mais.


E viva a minoria!

segunda-feira, 16 de abril de 2007

Pétalas

Descobri. Sou assim também...

Pétalas (Nando Reis)

Sou um homem que tem sobre a pele
pétalas
que tem sobre as unhas espinhos
cobrem o coração tantos nervos
sobram aos olhos delírios

Sou um homem que tem como portas janelas
de quem como a fome
carnívora
dorme na escuridão dos milagres
e cresce na geração dos seus filhos

e a mãe trago em mim também
sem sua mão, vou buscar caminho
no amor que desfaz meu ódio
nos meus olhos, retrato vivo

quarta-feira, 11 de abril de 2007

Animal

Hoje um pica-pau-anão me acordou por volta das cinco da matina. Estava procurando o seu café da manhã no pau-terra que fica bem em frente ao meu quarto. Levantei meio cambaleante e fui conferir se era mesmo o minúsculo passarinho. E lá estava ele compenetrado na sua tarefazinha. Devia chamar pica-pau-despertador. Já sem muito saco pra voltar pra cama fiz um café e fui até o quintal espiar as larvas de serra-pau (uma espécie de besouro que tem o nome mais sádico que já ouvi). Fora serem transparentes, o que possibilita ver seus órgãos internos, elas até que são bonitinhas... Tem umas perninhas engraçadas que não servem pra nada, tipo perna de top model - aquela secura. A casa (e gourmet) delas é um mourão velho que servia como varal. Eu ia jogar o mourão fora, mas “criei dó” como se diz por essas bandas e resolvi preservar esse estranho berçário no quintal. Dei também uma espiada na moradora que mais incomodo aqui em casa. Uma perereca (nome que considero feio, mas que sempre me traz boas lembranças) que mora em uma bromélia que tenho. Como a planta acumula água, preciso trocar a cada semana essa água que fica retida. Aí... Tira perereca - coloca perereca num vidrinho de maionese - lava a bromélia - coloca perereca na planta de novo... Um saco. Eu, se fosse ela, já tinha me mudado à muito tempo; e ela, se fosse eu, provavelmente não teria uma bromélia. Como já eram quase sete horas fiquei esperando passar o casal de papagaios que dá as caras por aqui neste horário. Passou um só, sozinho. Devem ter brigado. Papagaios além de serem monogâmicos, são muito temperamentais. Pensem só no que isso pode dar... A tristeza dele (ou dela) dava pra ver de longe. Amanhã quero ver se o casal volta, e passa aqui com aquela conversa de papagaio deles. Quase na hora de ir trabalhar... Procurei algum urubu no céu, porque gosto de ver urubu voar. Gosto desde menino. Aquela calma. Mas hoje não vi nenhum, não. Peguei o ônibus das oito, ou foi ele quem me pegou? Nestas horas penso como bicho. O Ônibus vem e engole as pessoas todas, e depois sai cagando gente cidade afora. Gosto de pensar como bicho...

terça-feira, 3 de abril de 2007

Escrevi o texto abaixo há mais ou menos duas semanas, quando as águas de março realmente fechavam o verão. Pode ser que não faça tanto sentido agora. Ou pode ser que faça muito sentido.

...


Há um medo de seguir a sina que é sentenciada quando se percebe que um dia de chuva não te tira da rotina, mas de faz cair em outra rotina: a que você criou para os dias de chuva. Há uma busca profunda por respostas nesses momentos breves de sensibilidade apurada em que você, numa atitude não menos rotineira, pára e começa a pensar no que está fazendo aqui, interagindo, aceitando, contribuindo, produzindo, solúvel, ainda.

Você se olha: és razoavelmente jovem, não tens vício algum (pelos menos vícios prejudiciais à saúde), tens saúde estável, moradia estável, posição estável no grupo social em que está inserido, (até situação financeira estável você tem!) e tanta estabilidade te incomoda.

O momento presente é confortante e estável. Não obstante, a rotina do dia de chuva (menos presente, mas não menos rotina) te permite perceber que um ar mais umedecido e tristonho faz seu lado melancólico florir. O dia pede um livro e muitas horas para leitura, pede um violão afinado, pois o primeiro acorde já vai trazer uma canção bonita e propícia, pede comida mais mineira do que a de todos os dias, pede leite e biscoitos. (mesmo sendo a cadeia das horas pequena demais para a realização de tudo que é pedido nesse dia).

A aura de nostalgia também é uma aura de proteção; pois o sol não dá as caras ao longo do dia e sua pele, se falasse, agradeceria por isso. O cair da noite não anula os desejos, ao contrário, traz o sono mais proveitoso que se pode ter. E as conclusões típicas da noite, se não chegam, não pioram em nada sua vida: podes sonhar com as coisas inconcebíveis que talvez você nem tenha desejado tanto, mas que com certeza você nunca terá.

Há ainda um quê de introspecção nas coisas mais fugazes, e por perceber isso apenas nesses momentos, você se sente um idiota inculto e medíocre que vive caindo em armadilhas criadas pelos seus semelhantes. A trapaça também vive presente em quase tudo, mas isso você já sabia, e ainda assim fingiu não ver.

No fundo você sempre soube que a vida não tem cura, e que o cantar do qual você fez alicerce pra edificar o mundo feito à maneira mais simples, com as coisas que você acreditava, não pôde ser ouvido. E sabe que se você for mais sincero do que otimista, vai descobrir que não pode ser ouvido por quase ninguém.

O que é que figura esse estado?

Se for um sentimento desconhecido é provável que alguma coisa diferente aconteça e algo seja modificado nos arredores. Se não for, a porta do comodismo vai ficar mais larga e é possível que o medo inerente aos dias de chuva passe assim a ser rotina (e deixe de ser medo).

segunda-feira, 26 de março de 2007

O QUE VOU FAZER

Tudo que quero fazer depois desta canção
É quebrar meu violão
Jogar pro alto os mil pedaços do meu coração

Tudo que quero fazer depois desta canção
É não deixar nenhuma rima rimar no meu peito
E esquecer você, pode ser?

Quando tudo silenciar dentro de mim
O que vou fazer é dizer sim para o novo
O que vier depois de você
O fim

sexta-feira, 23 de março de 2007

SUPER BACANA!

Que beleza! O texto "1973" do Alves foi publicado na edição de ontem (22/03) no jornal "O TEMPO", na coluna blogdepapel.com

Agradecimentos especiais à nossa companheira Liliane Pelegrini, por estar colaborando tanto com a disseminação das boas palavras mantendo esse espaço cultural tão útil e valioso (valeu Lili!).

Para conferir o texto com o layout do jornal e perceber como o Alves está realmente ficando famoso, basta clicar aqui

E sinceramente, isso não é o máximo?

sexta-feira, 16 de março de 2007


Se faço um verso tardio
Que anula minha expressão
Sei que me torno vazio

Se faço um verso vazio
Que diz palavras em vão
Tento me enterrar no chão

quarta-feira, 14 de março de 2007

1 ano!


Hoje o Manual Cerebral completa 1 ano de vida. Exatamente numa tarde do dia 14 de Março do ano passado essa brincadeira aqui começava.

Tentaremos continuar mantendo o trabalho dessa tripulação que busca colaborar com a tentativa de difundir boas idéias por aí.

Em breve (e talvez mais breve do que vocês possam imaginar...) traremos surpresas boas para compartilhar com todo mundo.

Parabéns pra nós!

Até.

segunda-feira, 12 de março de 2007

Correlações




Pesquisando sobre quem foi Paulo Freire e sua real importância para a educação popular no Brasil, sobretudo na proposta de alfabetização de adultos, descobri de cara que sobre sua obra havia um número maior de textos escritos em outras línguas do que em nossa própria língua.

Felizmente, essa parte triste da história foi compensada com a mais bonita das recompensas que me foram trazidas por essa humilde empreitada. Uma frase de Paulo que se tornou quase uma ideologia de vida:

"Eu sou um intelectual que não tem medo de ser amoroso, eu amo as gentes e amo o mundo. E é porque amo as pessoas e amo o mundo, que eu brigo para que a justiça social se implante antes da caridade."

Só a partir daí é fui entender porque Chico César, na excelente canção “Beradêro”, citava o nome do professor.

BERADÊRO

Os olhos tristes da fita
Rodando no gravador
Uma moça cosendo roupa
Com a linha do Equador

E a voz da Santa dizendo
O que é que eu tô fazendo
Cá em cima desse andor

A tinta pinta o asfalto
Enfeita a alma motorista
É a cor na cor da cidade
Batom no lábio nortista

O olhar vê tons tão sudestes
E o beijo que vós me nordestes
Arranha céu da boca paulista

Cadeiras elétricas da baiana
Sentença que o turista cheire
E os sem amor os sem teto
Os sem paixão sem alqueire

No peito dos sem peito uma seta
E a cigana analfabeta
Lendo a mão de Paulo Freire

A contenteza do triste
Tristezura do contente
Vozes de faca cortando
Como o riso da serpente
São sons de sins, não contudo
Pé quebrado verso mudo
Grito no hospital da gente

Iê iê iê, iê iê iê
Iê iê Iê, iê iê iê
Catulé do Rocha
Praça de guerra
Catulé do Rocha
Onde o homem bode berra

Bari bari bari
Tem uma bala no meu corpo
Bari bari bari
E não é bala de côco

São sons, são sons de sins
São sons, são sons de sins
São sons, são sons de sins

Não contudo
Pé quebrado, verso mudo
Grito no hospital da gente

Palavras para transbordar o coração...

quarta-feira, 7 de março de 2007

1973

Faz um tempo que escrevi este texto. Várias de suas partes acabei utilizando em vários escritos meus e até em alguns trechos da hq "Curva do Rio", publicada na última edição da Grafitti. A influência da prosa roseana nesta estória inacabada é evidente e intencional. Um exercício de mineiridade, uma brincadeira minha para celebrar meu escritor predileto. É isso aí.

1973

Não sou homem de chorar, nem de sorrir sem a justa causa. Gosto é dos descaminhos. Os avessos. Por isso dei de encostar aqui na Vereda Morta. O tempo passando translouco, ora passado, ora futuro. Diversas saudades, num só lugar. Pedacinhos da gente espalhados por toda parte, o arraial dando conta de tudo. Ou foi por conta do sorriso dela? Anézia. Quando ela se sorria, tudo se aquietava, eu parava num desexistir. Transe. Urubu solto no céu, os altos pensamentos. Agora clareio minha idéia, campeio meu juízo. Anézia... O sorriso dela. O dia que cheguei aqui na Vereda Morta ficou cravado na memória. Os cachorros dando seu alerta, as muitas caras curiosas, o silêncio escrito nos olhos do povo do lugar. Relembro. Um bichinho quis pousar em mim, desfez vôo e foi dar no ipê de frente a vendinha. Tudo mantendo a prudente e mineira distância. Dei de seguir aquele insetozinho, fiz caminho da venda. Vendinha comum, no trivial dos Gerais. Cerquinha de bambu, panelas, canecas, cabaças e uma placa da Coca-cola no alto da porta destoando do de-redor. Essas modernidades... Lá dentro um balcão já comido de cupim, e um velho por detrás -Seu Geraldo. Vi-nem-vi, já era tarde. Só Anézia cabia nos meus olhos. Sentada no cantinho da venda. Ela e o livro, os dois como um só. Mãozinha preta dela segurando o livro. Perdida naquele mundo, lia e se sorria. Foi aí que fiquei aqui, meu coração criou raiz. Agora lembro. 1973.

sexta-feira, 2 de março de 2007

das coisas que acontecem

Não sei quem ou o quê a trouxe até aqui
Ela carregava no corpo um rosa dos ventos
E perdi pra sempre a direção

terça-feira, 27 de fevereiro de 2007

Certas canções...

Raul fez uma música belíssima outro dia, vejam como ela foi traduzida em versos...

Tema em Sol Maior

Foi aquela saudade
Que morava no preto dos olhos dela
Que se mudou aqui pra dentro do meu peito
E fez correr meu coração pelo mundo
(Meu coração errante errou mais uma vez a direção?)
Foi a lágrima solitária que ela deixou cair
Que me fez mergulhar na correnteza dos seus sentimentos
E nunca mais voltar à tona
Sumir

sexta-feira, 23 de fevereiro de 2007

Sonho bom


“... Coisas de amor são finezas que se oferecem a qualquer um que saiba cultivá-las, distribuí-las, começando por querer que elas floresçam. E não se limitam ao jardinzinho particular de afetos que cobre a área de nossa vida particular: abrange terreno infinito, nas relações humanas, no país como entidade social carente de amor, no universo-mundo onde a voz do Papa soa como uma trompa longínqua, chamando o velho fraco, a mocinha feia, o homem sério, o faroleiro... todos que viram a banda passar, e por uns minutos se sentiram melhores. E se o que era doce acabou, depois que a banda passou, que venha outra banda, Chico, e que nunca uma banda como essa deixe de musicalizar a alma da gente.”

Carlos Drummond de Andrade Correio da Manhã, 14/10/66

O texto acima se encontra na íntegra no site de Chico Buarque. Pra quem ainda não viu, vale a pena dar uma passada lá e conferir. A primeira canção, fazendo surtir os primeiros efeitos. Talvez nem o próprio poeta, na sua “previsão do futuro” feita meio inconscientemente soubesse o que ainda estaria por vir trazido por Chico e sua boa música.

Selecionei a parte do texto que, na minha humilde opinião, é mágica, afinal, Drummond falando sobre Chico, parece até sonho.

terça-feira, 13 de fevereiro de 2007

Notícias de Terras não civilizadas II



Como diz a letra da música “ê batumaré”, de Hebert Vianna, é sempre bom voltar. Bem, como bom representante do proletariado que sou, passei as minhas férias trabalhando, desenhando principalmente. Mas nada que me impedisse de capinar o quintal lá de casa, função que exerci feliz e cantando canções da moda, nunca esquecendo de agradecer a cada novo calo estourado nas mãos. Confesso que estava ansioso para voltar a escrever aqui no blog, saudadezinha que mato agora.
Começo respondendo aos comentários sobre o fato de ter sido convidado a falar e fazer quadrinhos ao vivo no “Brasil das Gerais”. Antes queria registrar aqui que já não consigo andar sossegado na rua sem que uma multidão de garotas no cio, querendo sangue e outros líquidos dementes que meu corpo produz tão bem, saia em minha caça pelas ruas da cidade. Tudo por culpa da fama repentina. Sigo as rígidas normas da disciplina inglesa e atendo uma dama por vez.
É essa a minha vida de “popstar”, Rauzito... Eh,eh, quanta bobagem...
Foi interessante participar do programa, desenhar e principalmente ver o Welligton Sberk com a bunda sobre aquele monte de diplomas tirando onda e choramingando ao mesmo tempo. Pode isso? Seria um pavão com síndrome de inhambu? O cara me lembra o FHC que o Millôr Fernandes registrou tão bem em “Crítica da Razão Impura”. É a vaidade materializada, um chato. Pode parecer picuinha, mas essa é a minha visão do camarada. Quanto a sua obra, apesar de ser um bom quadrinho “Estórias Gerais”, que o saudoso Flávio Colin salvou magistralmente com seu traço único, para mim é uma mistura de “Grande Sertão: Veredas” e “Meu tio o Iauaretê” de Guimarães Rosa transcrita para os quadrinhos, e nada Mais.
O bom velho e sempre lúcido Nilson mandou muito bem, apesar daquele papo de cheirinho de revista, fanzine xerocado... Acredito que daqui pra frente cada vez mais os fanzines vão surgir virtualmente, isso não tem como parar. A internet é um ótimo espaço para experimentações, é o caminho para quem não tem espaço nas bancas de jornal.
Quanto ao grande Cláudio Gomes, que trabalha com divulgação, desenho e roteiros de mangás e que também é um futuro Geógrafo (estudamos geomorfologia juntos ano passado), já havia falado pra ele o que acho deste tipo de quadrinho. Apesar de existirem vários artistas que fazem mangás, eu tenho sempre a mesma impressão de que quem desenha tudo é o mesmo cara...
No que diz respeito a minha pessoa , lá em casa me disseram que eu não parava de me balançar naquela cadeira que me arrumaram. Também o que queriam? Aquelas cadeiras são feitas pra isso, não? E a mania que tenho de desenhar com a língua pra fora, tipo o cebolinha bolando seus planos infalíveis? Foi um custo me conter diante das câmeras. Maldito Maurício de Sousa, sua influência em mim vai além do traço.
Quanto a minha “experiência antropológica” (como diz a Liliane) de conviver com a Roberta Zampetti, foi tranqüila. A gente teve muito pouco tempo pra conversar, mas fiquei com uma boa impressão. Ela tava bastante nervosa no dia, disse que era o primeiro programa ao vivo depois das férias, mas acho levou bem o programa. Agora fiquei curioso em saber da “experiência antropológica” da Liliane com a Roberta. Quem estiver de acordo levanta as mãos e bate palma!!! Pode abrir o jogo garota, eh,eh.
Bom pessoal acho que já falei por demais, encerro esse post dizendo que o desenho (feito nas férias) acima foi premiado em 1º Lugar na categoria quadrinhos na 2º Mostra Nacional de Humor de Varginha. Agora sou um cartunista intergalático!!
Abração!
[A postagem acima é de autoria do Alves. Eu apenas fiz o trabalho de publicação devido ao fato da conexão com a internet na minha sala ser melhor do que a da sala dele]

terça-feira, 30 de janeiro de 2007

Dra. Isabela

Os exatos 11 minutos de atraso para que ela chegasse à clínica certamente contribuíram para a transformação daquela visão em algum tipo de miragem.

(Ela entraria triunfante, deixando um rastro de beleza comovente. Era a dona do mundo, pelo menos pra mim, ou pelo menos do meu mundo).

Eu quisera estar ali novamente por tantos motivos depois da primeira vez, que não lembrava ao certo se as coisas que agora me moviam eram as mesmas de outrora.

A ansiedade e a alegria em saber que a veria de novo - mesmo que por um pequeno intervalo de tempo num dia de trabalho - já se confundiam, no entanto eu sabia que aquilo era só uma forma tímida de manifestação da minha esperança. Aquela esperança que viaja pelos campos do improvável e resiste; que se considera suscetível a participar da realidade, que dorme quietinha lá no fundo e eclode só em momentos como esse.

(Ela me conduziria outra vez).

Não fosse seu jeito suntuoso de se vestir, o jeito calmo de andar, a mansidão do olhar e a paz que sua voz carregava, não fosse isso minha atenção estaria voltada para outro lado. O lado pelo qual um paciente normalmente procura um médico: para se tratar, oras. De fato, foi esse o motivo do primeiro contato.

Nunca pensei que descobrir os milagres da dermatologia pudesse ser algo tão prazeroso e inspirador. A surpresa vinha para compensar o preço da consulta – pensei na primeira vez – e depois se somar ao prejuízo financeiro.

Dra. Isabela se mudou para o Recife há duas semanas. Fui seu primeiro paciente em 2007 e a consulta foi nosso último encontro. Ela me deu o telefone de duas amigas médicas com a mesma especialização, e já com voz de despedida disse que eu “estaria em boas mãos” depois que ela partisse. A vontade de dizer (gritando), como num filme, numa cena em câmera lenta: “Please, don’t go away!” veio na boca, tentou sair. Felizmente o conjunto de sensos e experiências que formam o caráter humano e denominam o conceito de ridículo me impediram de agir de tal forma.

Agora, que ela está longe pra caramba daqui, a solidão passou a vir de guarda-pó branco, passear pelas tardes dos meus domingos.

segunda-feira, 15 de janeiro de 2007

Ao vivo!

A transmissão é hoje mesmo galera! Alves estará a partir das 20:00 no programa Brasil da Gerais na Rede Minas! Confirmadíssimo! Não percam!

sexta-feira, 12 de janeiro de 2007

Na tela da TV, no meio desse povo...

Vocês já devem ter percebido que o Alves anda meio sumido aqui do blog. Pois é, o sujeito ficou famoso, milionário, podre de rico e sumiu no mundo. Agora a gente só vê o cara na televisão. O mundo da voltas né... he he

Falando sério: Ele vai estar no programa Brasil das Gerais, da Rede Minas, que será gravado nesta 2ª feira dia 15/01/07. As discussões serão a respeito de charges e o programa contará com a presença de chargistas de renome. O dia da exibição ainda não sei, mas quando souber aviso aqui.

Até...

quinta-feira, 4 de janeiro de 2007


Ontem, mais três militares americanos morreram em confrontos ocorridos em Bagdá e arredores. Com isso, o mês de dezembro configura-se como o mais sangrento de 2006 para os militares dos EUA no Iraque, com 106 mortos. Desde o início da guerra, em março de 2003, o total de militares americanos mortos no país do Golfo Pérsico já alcança 2.993. (29/12/2006)

Ontem, Saddam Hussein foi enforcado por volta das 6 horas em Bagdá. Com isso, mais uma medida tomada pela lei em prol do estabelecimento da justiça foi publicada para o mundo.
Ontem, mais uma vez a palavra morte ecoou no ocidente para nos lembrar que a guerra no oriente até hoje não terminou.

Ontem, a catarse que efetivamente causou alívio ao coração de uns muitos esteve longe de proporcionar a paz a quem demasiadamente necessita.

Ontem, a Organização das Nações Unidas - uma instituição internacional formada por 192 Estados soberanos, fundada após a 2ª Guerra Mundial para manter a paz e a segurança no mundo, fomentar relações cordiais entre as nações, promover progresso social, melhores padrões de vida e direitos humanos – mais uma vez não contribuiu com absolutamente nada para que o terrorismo no mundo matasse menos inocentes.

Hoje amanheceu de novo no Brasil e tudo era verde. Não havia cheiro de fumaça, nem barulho de bombas, nem mísseis cruzando o céu de madrugada, nem crianças mortas ou mulheres chorando. Já haviam desligado a TV. E ninguém mais se lembrava de ontem.

Se o tempo é linear, como pode o ontem nada interferir no hoje?