sábado, 31 de maio de 2008

CONSTATAÇÃO

Eu ganhei uma mesa, um computador, um carimbo no meu nome, um horário a ser cumprido e uma relação rigorosa de afazeres. Passei a usar (esporadicamente) sapatos e roupas mais “sérias”. Comecei a reclamar de coisas que outrora aconteciam, mas não faziam surtir qualquer ato repulsivo de minha parte. Entendi perfeitamente o que era a palavra rotina e descobri vivendo, muitos dos males trazidos por ela. Aumentei então minha coleção de vícios.

Acho que além de me tornar um adulto eu me tornei um homem-comum.

sábado, 17 de maio de 2008

UM TEXTO QUE VALE A PENA LER ATÉ O FINAL

MEU IDEAL SERIA ESCREVER...

MEU ideal seria escrever uma história tão engraçada que aquela moça que está doente naquela casa cinzenta quando lesse minha história no jornal risse, risse tanto que chegasse a chorar e dissesse — "ai meu Deus, que história mais engraçada!" E então a contasse para a cozinheira e telefonasse para duas ou três amigas para contar a história; e todos a quem ela contasse rissem muito e ficassem alegremente espantados de vê-la tão alegre. Ah, que minha história fosse como um raio de sol, irresistivelmente louro, quente, vivo, em sua vida de moça reclusa, enlu¬tada, doente. Que ela mesma ficasse admirada ouvindo o próprio riso, e depois repetisse para si própria — "mas essa história é mesmo muito engraçada!"

Que um casal que estivesse em casa mal-humorado, o marido bastante aborrecido com a mulher, a mulher bastante irritada com o marido, que esse casal também fosse atingido pela minha história. O marido a leria e começaria a rir, o que aumentaria a irritação da mulher. Mas depois que esta, apesar de sua má-vontade, tomasse conhecimento da história, ela também risse muito, e ficassem os dois rindo sem poder olhar um para o outro sem rir mais; e que um, ouvindo aquele riso do outro, se lembrasse do alegre tempo de namoro, e reencontrassem os dois a alegria perdida de estarem juntos.

Que nas cadeias, nos hospitais, em todas as salas de espera a minha história chegasse — e tão fascinante de graça, tão irresistível, tão colorida e tão pura que todos limpassem seu coração com lágrimas de alegria; que o comissário do distrito, depois de ler minha história, mandasse soltar aqueles bêbados e também aquelas pobres mulheres colhidas na calçada e lhes dissesse — "por favor, se comportem, que diabo! eu não gosto de prender ninguém!" E que assim todos tratassem melhor seus empregados, seus dependentes e seus semelhantes em alegre e espontânea homenagem à minha história.

E que ela aos poucos se espalhasse pelo mundo e fosse contada de mil maneiras, e fosse atribuída a um persa, na Nigéria, a um australiano, em Dublin, a um japonês, em Chicago — mas que em todas as línguas ela guardasse a sua frescura, a sua pureza, o seu encanto surpreendente; e que no fundo de uma aldeia da China, um chinês muito pobre, muito sábio e muito velho dissesse: "Nunca ouvi uma história assim tão engraçada e tão boa em toda a minha vida; valeu a pena ter vivido até hoje para ouví-la; essa história não pode ter sido inventada por nenhum homem, foi com certeza algum anjo tagarela que a contou aos ouvidos de um santo que dormia, e que ele pensou que já estivesse morto; sim, deve ser uma história do céu que se filtrou por acaso até nosso conhecimento; é divina."

E quando todos me perguntassem — "mas de onde é que você tirou essa história?" — eu responderia que ela não é minha, que eu a ouvi por acaso na rua, de um desconhecido que a contava a outro desconhecido, e que por sinal começara a contar assim: "Ontem ouvi um sujeito contar uma história..."

E eu esconderia completamente a humilde verdade: que eu inventei toda a minha história em um só segundo, quando pensei na tristeza daquela moça que está doente, que sempre está doente e sempre está de luto e sozinha naquela pequena casa cinzenta de meu bairro.

Rubem Braga

segunda-feira, 12 de maio de 2008

Eu também ainda brigo por sonhos...

Flores E Espinhos
Herbert Vianna
Nessa época do ano
Quando o frio vem chegando
E há menos flores que espinhos
Os dias perdidos
Vem a luz
Ainda éramos filhos
Éramos amigos
Até sermos engolidos
Pela vida sem brilho
Por nossos inimigos
Na rotina comum
E sou só um
Mas não sou um deles
Eu sou só um
E mesmo que pareça tolo
E sem sentido
Eu ainda brigo por sonhos
Eu ainda brigo
Ps.: E que friozinho bom nos trouxeram os ventos de Maio...

domingo, 4 de maio de 2008

Música Popular Brasileira

Dizem que depois que a gente entra pra universidade nosso senso de auto-crítica aumenta assustadoramente né? Pois é, deve ter dado pra perceber que já faz um tempo que eu não coloco aqui um daqueles meus textos piegas-humorístico-político-poéticos. Mas não é por vaidade não. É primeiro por falta de tempo (só Deus sabe o quanto tem me faltado) e depois por falta de coragem. A gente envelhece e vai ficando mais exigente... aff. Hoje, ao me deparar com essa obra-prima que vocês poderão assistir aí em baixo, percebi que auto-crítica demais é bobagem. O mundo é de quem tem coragem pra fazer. E, é claro, tempo.


LETRA:
O Metalcreu ele tem destruição..O Metalcreu tem é agressividade..O Metalcreu ele é muito mais fodão, e vai botando pra fuder em suas 5 velocidades. O Metalcreu ele tem destruição.
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O Metalcreu tem é agressividade.
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O Metalcreu ele é muito mais fodão, e vai botando pra fuder em suas 5 velocidades.

quinta-feira, 1 de maio de 2008