sábado, 30 de maio de 2009

Raiz

Ontem li uma frase assim: "se as árvores não tivessem raízes, fugiriam dos homens". Comecei então a pensar no quanto a realidade é ambígua. Como é que as raízes que mantém erguida e viva a árvore, podem torná-la também uma presa imóvel e completamente vulnerável?

As árvores que ofertam sombra, as árvores que geram frutos, as árvores que atraem raios, as árvores. Nunca entendi bem porque uma das formas de vida mais antigas do universo não foi capaz de evoluir ao longo do tempo a ponto de se adaptar à condição de vítima-do-homem. Por que é que as árvores não criaram pernas ou asas? Assim seria fácil fugir dos machados, das motosserras, do fogo, das máquinas. Pra que ficar ali, “mamando no sol pelas folhas”? Fotossintetizando?

Talvez o segredo de ser árvore seja justamente a condição de ficar imóvel. Não estamos aptos a ser árvore. Não conseguimos ficar parados por um segundo que seja para observarmos o que acontece ao nosso redor. Pelo contrário, andamos freneticamente por caminhos que acreditamos nos levar a algum lugar e criamos raízes nos solos mais infecundos. Logo onde não deveríamos parar.

Pobres coitados somos nós que tão rapidamente criamos raízes em campos que acreditamos ser férteis. Elos que nos impedem de fugir na hora em que mais precisamos.

Eu me confundo. Às vezes penso ser raiz o que talvez seja só semente. E a semente é o símbolo da incerteza: pode ou não vingar. Plantar sementes é dizer: seja o que Deus quiser. É uma forma legítima de se ter esperança. Não há qualquer garantia de que a semente venha a ser raiz.

Vivo no mundo do ter e estou cada vez mais me acostumando em não ter.

Só resta acreditar que o tempo vai regar a terra onde deixamos plantada aquela frágil esperança. Aí sim fará sentido toda essa história. É preciso ter um tronco forte e saber, sempre que for preciso, brotar do chão.