quinta-feira, 16 de outubro de 2008

domingo, 12 de outubro de 2008

Não me defina em nada que você conheça. Eu sou bem mais que esse silêncio breve no qual você me figura. Não cabe em mim a gama de significados suficientes para me explicar. Não há pedágio que controle os sentimentos transeuntes que perpassam pelo meu peito. Você não sabe a metade, mas acredita que sabe tudo e mais um pouco. Vou te dizer: nem sempre eu ando para chegar a algum lugar, ando só por andar às vezes. Nem sempre estou feliz quando sorrio, sorrio pra não chorar também. Nem sempre fico calado por não saber sobre o que está sendo discutido, me calo para não mudar o rumo das conversas. É estranho tudo parecer óbvio demais, mas cada folha que cai da árvore com a força do vento tem seu motivo e sua hora certa para cair. Assim como cada coisa que dizemos, fazemos, compramos, amaldiçoamos, amamos, destruímos, subestimamos, acreditamos e procuramos sem perceber por que.

Não me defina em algo que você não conheça também. Há quem me identifique nas coisas. Há quem me desenhe nas cinzas a tempo do vento ou na areia a tempo da maré. Há quem afirme com toda certeza o que sou num contexto geral, e juram – de pés juntos – que têm a certeza, sem perceberem que a vida, por si só, já é uma busca incessante por certezas.

Acho que é porque minha inquietude perante a tentativa da vida de virar rotina azucrina. Porque eu sempre imploro para que me mostrem chegada e alvo, mas nunca, nunca me deixem ciente dos limites.

Não me defina.

domingo, 5 de outubro de 2008

No dia ideal, que já existe lá na frente, está todo mundo calmo e lívido. Os sorrisos em cada rosto não são extravagantes porque não há o engraçado, mas sim o satisfatório. Os rostos estão enquadrados milimetricamente para serem postos permanentemente na memória de cada um. Para que cada um os possa relacionar com outras lembranças e com a trilha sonora que quiser. E a lembrança é feliz porque ao vê-la de novo, assim, acordada, tomo consciência de que momentos como o de agora, em que palavras jorram como choro, hão de voltar esporadicamente. Só é preciso um sábado, uma tarde, um andar a pé sozinho, um descompromisso com o próximo segundo, um violão que se manteve afinado, mesmo estando abandonado por longos dias.

Só é preciso reencontrar-se consigo mesmo para ver além das coisas.