sexta-feira, 25 de julho de 2008

Manual Cerebral News: Fofocas em tempo real.


* As especulações estão realmente fortes agora. Marcelo Camelo deve realmente lançar um disco solo até meados de 2009 (Viva!). Enquanto isso a Multishow começa a anunciar o lançamento de um DVD com o registro de um dos últimos shows da banda em recesso mais cultuada do país. (E existe outra, por acaso?)

* Bruno Medina está em turnê com Adriana Calcanhotto, na divulgação do excelente "Maré", disco lançado esse ano.

* Rodrigo Barba está tocando com uma pá de gente (quem tem banda sabe como é difícil arranjar bateirista), dentre elas o Latuya (projeto paralelo que o bateirista já mantinha antes dos Los Hermanos pararem.)

* Rodrigo Amarante, quem diria, está armando um projeto com ninguém menos que os Strokes. Na foto abaixo entre as meninas bonitinhas está Nick Valensi (primeiro à esquerda), guitarrista da banda. Ao baixar a foto (que está no Myspace de Nick) descobre-se que o nome do arquivo é "Xmas1". Veja você que o natal do rapaz parece ter sido divertido...

E enquanto nada acontece a gente continua esperando... esperando... esperando só... esperando o trem...

domingo, 20 de julho de 2008

Dou-lhe uma, dou-lhe duas...

Numa conversa recente com meu amigo Alves, falávamos sobre esse “fenômeno” pelo qual passa a indústria fonográfica mundial. A necessidade da produção em série para fazer funcionar a máquina mercantil da arte. A necessidade de haver música comercial em todos os gêneros existentes. O cuidado que NÃO se tem ao se rotular a música e o cuidado precisamos ter com os pequeninos, para que eles tenham o privilégio de experimentar, junto com o que lhes é oferecido hoje, um pouco dos sons que fizeram e fazem nossa cabeça. O que é comercial e o que não é? Tudo que é comercial é lixo? O texto abaixo (apesar das piadinhas) trata seriamente de um caso específico relacionado a essas idéias.


PROTESTO

É realmente incrível o poder de apropriação que a indústria exerce sobre o artista, e pra ser mais exato, sobre a arte de um modo geral. A modinha de lançar álbuns póstumos de artistas consagrados deve incomodá-los onde quer que eles estejam. Os exemplos são incontáveis: Cazuza, Cássia Eller, Raul Seixas, Gonzaguinha, Pixinguinha, Tom Jobim, Vinícius e é claro, o campeão - Renato Russo. Imaginem vocês que a última desse pessoal foi lançar um álbum do artista com as demos de uma gravação dessas que a gente faz em casa, pra não esquecer a música, no formato voz e violão, feito pelo próprio Renato em meados de 1982. Eu aposto com qualquer um que se o músico estivesse vivo isso não aconteceria em hipótese alguma. Primeiro pelo nível técnico da gravação, absurdamente ruim. E depois pelo fato de o álbum, além de não trazer qualquer novidade, ser batizado com o nome de “O Trovador Solitário”!?.

O coitado deve se retorcer de ódio no caixão só de pensar que pegaram aquelas suas fitinhas K7, guardadas ali na última gaveta do seu guarda-roupa, e as transformaram num CD que vai encher o bolso de uma galera! Sim, porque os fãs de carteirinha (que todo mundo sabe: não são poucos) vão comprar o disco e vão achar lindo “Faroeste Caboclo” começando num tom e terminando em outro. Não por causa de uma mudança de tom natural na música, mas por causa da distorção incorrigível da fita demo.

Que diabos levam uma gravadora a lançar um disco com as mesmas músicas que já saíram em outras quatrocentas e trinta e sete mil coletâneas lançadas anteriormente? E pra piorar numa versão violão e voz de quinta categoria? Se a intenção era difamar Renato Russo e acabar com a boa lembrança que ainda temos dele tudo bem. Demorei pra entender porque não estava bem explicado.

É revoltante ver gente fazendo dinheiro com a arte alheia depois que o verdadeiro artista já foi dessa pra melhor. É gente vendendo as cuecas usadas (e não lavadas) por artistas antes de morrer. Gente pedindo uma fortuna por um pequeno pedaço de papel higiênico que aquele ídolo pop usou pra limpar o rabo antes do seu antepenúltimo show. Gente se enriquecendo com leilões de bugigangas nas quais artistas encostaram por um milésimo de um segundo uma vez na vida. É justamente aí, nesses atos de suposta homenagem, que reside toda a falta de respeito com quem fez história.

Hoje em dia, sobretudo a nível de Brasil, tornou-se muito difícil “a vida” de pop-star-defunto.

Memorial

O texto abaixo é o trecho de um memorial que fiz para disciplina Prática de Ensino.
Deveríamos falar de nosso primeiro olhar geográfico, as primeiras impressões...


"Não me lembro bem como foi que de repente essa idéia se plantou na minha cabeça de menino. Menino... Acostumado com os pequenos verdes duros do cerrado no de redor da casa - os pés no chão, cabecinha nas nuvens. Brincadeiras de ir e vir. Buscar cajuzim, murici, sangue-de-cristo, pequi... Todos os sabores do mato eu sabia. Os bichos - sempre gostei mais de ver do que de matar.Tinha dó, inda hoje tenho. Adorava ver pica-pau voando seu vôo picado. Três batidas de asa e se fingia que caia no ar, pra depois levantar vôo de novo -e lá se ia o bicho voando no seu desajeito. Deselegância bonita. Tinha também as “trucal”, estas não se paravam muito por perto, não. Ariscas, passavam em bando no seu vôo cheio de silêncio e pressa. Os passarinhos tesoura apareciam mais pra Setembro, comecinho das chuvas. Caçavam com maestria as mutucas depois da invernada... Eu ganhava longas horas dos meus dias apreciando o “de fazer” dos bichos todos. Ah, eu gostava muito disso. E era assim, os dias se passando. A nossa casa só no reboco, ainda em construção -eu na frente do que seria a varanda olhando aquele mundo quintal. Resto de tardinha. E mãe me chamava pra entrar. Entrar, eu não entrava assim de primeira, ficava na porta e olhava o morro. É, e tinha o morro. O morro era o mundo? O morro me intrigava, não via o depois dele. O que viria? Tinha outro o quê? Eu lá sabia? E dei de pensar no morro... Todo dia imaginava o que havia de se esconder ali, por detrás dele. Mas nunca que via nada. Nuvem branca nublando minha mente. Pensava, Pensava... E então um dia, dei por solucionado o mistério. Descobri. Atrás do morro tinha uma onça. É, uma onça. Os grandes olhos de gato, bicho absurdo de grande, deitada preguiçosa numa moita de capim-meloso. Minha idéia de menino. Eu via. E me bateu uma vontade de subir o morro, topar com a felina. Eu podia... Passei o dia fazendo minha zagainha de bambu, que cortei no bambuzal do Bequinho. Ponta de canivete na frente, reluzindo. Arma de se matar assim de espeto, o bicho pulando por de cima de mim, e só eu furando o coração por debaixo do braço monstro dela. Ah, eu podia sim! À noite nem sei se sonhei, dormi num vendaval - a pressa de uma nova manhã. Acordei num pulo, e já me vi correndo no meio do mato. O cheiro da manhãzinha ainda ia alto, molhado. Fui subindo o morro, suor pingando na cara. Um casal de papagaios passou voando. Vi nem vi -só o morro e a onça cabiam no meu peito. E o morro foi se acabando. Fui chegando... E a zagainha tremia nas mãos. Foi então que vi-descobri, eu no alto do morro, lá do alto... Não havia onça nenhuma. Nenhum bicho de se pegar na luta. Só um mundo grande demais, de não se caber nos olhos, nem de se abarcar na alma miúda de gente criança. Imensidão muda. O mundo que se abria num quase infinito se fez meu... Os quintais e varandas haviam ficado pequeninos demais – como um menino.
E dei de crescer...

sábado, 12 de julho de 2008

Rosa

Este ano Guimarães Rosa estaria completando 100 anos. Faço esta pequena homenagem ao escritor e de quebra ao brother Raul e a nova banda dele, cujo nome é o mesmo do título da letra. Pretendo postar todo mês uma letra inspirada no sertão encantado de Rosa. Pra começar, a primeira palavra da obra prima do autor ...




Nonada

Não é nada não
É só meu coração batendo forte logo ali
Bem fora do peito
E eu não sei direito tudo que senti
Vendo o céu se abrir
Nuvem, rosa, seca - o sertão é logo ali
Em todo lugar que há de se existir

Não é nada não
É só meu coração batendo forte dentro aqui
Bem dentro do peito
E eu não sei direito tudo que senti
Vendo o céu se abrir
Nuvem, rosa, vento – o lugar a se partir
Coração sangrando até se consumir


Não é nada não
É só meu coração batendo forte ao sentir
O mundo no peito
E eu não sei direito tudo que senti
Vendo o céu se abrir
Isto é um novo jeito, uma nova forma de sorrir?
Nuvem, letra, rosa – o sol que nasce por aqui
Luz pra confundir?

Não é nada não
É só meu coração batendo forte até se abrir
Até rasgar o peito
Agora sei direito tudo que senti
Vendo o céu se abrir
Nuvem, rosa, sangue – o infinito cabe aqui
O sertão no peito
Coração batendo alto pra ninguém me ouvir