terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

O Dia

Beba
Beba uma Coca-cola com Caetano
Pra esquecer
Pra esquecer o dia

E não te falaram do dia?
O dia ainda se faz cinza
No coração da América

Todos os dias
Todos os dias cinzas

Homens de terno na tv querem colorir
Com cores falsas as realidades daqui

Beba
Beba uma coca-cola
Enquanto águias e condores
Bebem do sangue que sai
Das veias abertas, um continente a sangrar


E os homens de terno a sorrir
Vão colorir com cores falsas
As realidades daqui

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

Um Retrato Na Parede


Esta tirinha do Drummond era pra ter acompanhado uma matéria que fizeram sobre mim no jornal "O Trem Itabirano", comandado pelo grande Marcos Caldeira. Acabou saindo na edição posterior, mas tá valendo!! Segue também a entrevista...
Você nasceu em Itabira. Viveu até quando na cidade?

Na realidade eu fiquei muito pouco tempo em Itabira, cerca de três meses. Assim que minha mãe se recuperou do parto voltamos para Itambé do Mato-Dentro, onde meus pais trabalhavam. De Itambé mudamos para Vespasiano e posteriormente para Lagoa Santa (cidade da Região Metropolitana de Belo Horizonte), onde moro até hoje. Resumindo saí da terra do “minério de ferro” e fui para terra para “terra do calcário”.

Chegou a estudar em Itabira? Onde?
Não.

Saiu quando? Por que saiu?

Meu pai conseguiu emprego numa cimenteira de Vespasiano e fomos morar lá, depois nos mudamos para Lagoa Santa que até hoje é menos poluída.

Quais são suas lembranças dessa época em Itabira? Algo o marcou em especial? Como foi sua infância em Itabira?

Humm?

Por que você desistiu de Itabira?

Acho que resposta de cima serve pra essa pergunta aqui...Ré,ré!

Hoje, como é seu relacionamento com a cidade? Ou não há relacionamento? Cortou na raiz?

Meu relacionamento com Itabira se resume as idéias que costumo trocar via msn com Emerson Rocha (cartunista daí). Fora isso não tenho muito contato, não... Até mesmo porque todas as minhas atividades profissionais estão ligadas a Belo Horizonte.

Tem muito tempo que não vem aqui? Quando foi a última vez?

Passei por aí em 2006, num trabalho de campo que fiz pela UFMG. È, um dia serei também Geógrafo...

O que é isto: ser um itabirano?

Ser Itabirano, pra mim, é ter um imenso orgulho de ter nascido em Itabira e de alguma forma fazer parte da história da cidade. Apesar do contato físico incipiente com minha terra natal, acredito que o fato de ter nascido aí forjou muito do artista que me tornei. Lembro-me que o primeiro livro de caricaturas que ganhei tinha uma do Drummond, que eu vivia copiando e exibindo para os meus amigos e falava assim: - Eu sou da terra deste cara! Este orgulho de ser de Itabira se mistura muito com o meu orgulho de ser aqui das Gerais, pertencer a estas montanhas...


Há diferença entre nascer em Itabira ou Guanhães, Ribeirão Preto, Guaxupé, Oslo, Nova Iorque, Belfast, Itambé...

Bem, Itabira não é uma “Cidadezinha Qualquer”, mas várias “cidadezinhas quaisquer” amontoadas num mesmo espaço. É uma cidade onde a mineiridade está em toda parte. Há um sentimento mineiro muito forte que paira no ar da cidade. Compete com o minério de ferro, ré,ré... É tem diferença sim...




Você recebe notícias de Itabira? Quais foram as últimas recebidas? Ou seja: o que você tem sabido sobre Itabira?

Não recebo muitas notícias, não... A última que recebi foi do Festival de Inverno que rola aí todo ano...

Você tem faturado prêmios em salões importantes, como o tradicional de Piracicaba-SP. Já está rico com isso?

Não... Não dá pra ficar rico vencendo salões, e a intenção nem é essa. É lógico que é gratificante (e também um estímulo) receber um prêmio em dinheiro, mas é bom saber que seu trabalho é reconhecido por outras pessoas. No meu caso, os salões de humor (além de me livrar de alguns agiotas) me ajudaram a melhorar o meu trabalho tanto no que se refere ao traço, quanto às idéias. Ré,ré... Isso porque ,quando eu não estava publicando para jornal nenhum eu continuava desenhando para competir em salões.

Qual desses prêmios foi o mais importante e por quê?

Vencer em Piracicaba é um grande feito para muitos cartunistas. Sem dúvida é o Salão que eu mais comemorei por ter vencido. No ano que ganhei, além de faturar o primeiro lugar na Categoria Tiras com o “Homem- Galinha”, fui segundo lugar na Categoria Charge. A felicidade veio em dose dupla. Já este ano vencer o Festival Internacional de Quadrinhos de Pernambuco na categoria charge foi muito importante também, eu já havia sido menção honrosa nos dois anos anteriores. E por falar em salão, acabei de faturar o primeiro lugar no Salão Internacional de Paraguaçu Paulista na categoria tiras. É, esse foi um ano muito bom...

Você trabalhou como roteirista para o Maurício de Souza. O que fazia exatamente e como foi essa experiência? Durou quanto tempo esse trabalho?

Bem, foi numa época em que eu não estava publicando nada por aqui... Vacas magras. Resolvi mandar alguns roteiros para avaliação e o pessoal da Maurício de Souza Produções gostou. Acho que da minha geração sou o cartunista que levou mais tempo para entrar na era virtual. Eu enviava os roteiros por carta, depois comecei a mandar por fax... Era uma luta. Comecei publicando aquelas tirinhas que saem no final das revistas da turma da Mônica, em seguida comecei a roteirizar estórias maiores. Meu primeiro roteiro a sair foi do “Papa-Capim”, depois vieram roteiros do Penadinho, Cascão, Chico Bento... Fiz muita estória legal! Acho que fiquei uns três anos e meio nesta batida, até pouco tempo atrás ainda era possível ver o meu nome nos créditos das revistas.

Você chegou a publicar no Pasquim21, extinto. Por que uma publicação importante como O Pasquim21, que dava bons espaços a cartunistas, não viceja no Brasil?

Eu publiquei nas duas últimas edições do Pasquim21, e era realmente um grande espaço para cartunistas de todo Brasil, faz falta. Já vi várias publicações de quadrinhos, charges, cartuns e humor surgirem e desaparecerem no Brasil. Acho que o principal problema é a questão do financiamento, não fica barato manter publicações de qualidade Patrocinadores e anunciantes são sempre difíceis de se achar. Para patrocinar humor então... É muito difícil publicar, mas ultimamente as Leis de Incentivo à cultura tem colaborado muito para viabilização de diversos projetos na área.

Você conhece os cartunistas de Itabira? Há o Genin, velho-de-guerra, o Lute, que tem parentes aqui, e o Laz Muniz, nova-erense radicado em Itabira, entre outros...

Conheço esta turma toda. O Genin eu fui ter contato mais por agora, mas já curtia o trabalho dele há um tempão-desde o tempo em que ele publicava no Diário do Comércio. O Laz eu conheci quando ele passou uma temporada em BH e publicava ótimos quadrinhos em revistas alternativas como a Grafitti. O Lute fui conhecer pessoalmente em 2005, o cara é sem dúvida um dos grandes cartunistas do estado e tem atuado também na consolidação da Associação dos Cartunistas de Minas Gerais. Conheço também o Emerson Rocha que chegou a publicar num fanzine que criei quando comecei a dar os primeiros passos nesta estrada torta do humor... Ré,ré!!
Aqui no TREM há uma pergunta-padrão, que fazemos a todos itabiranos que entrevistamos. Vai pra você também. Ei-la: o que você, como itabirano, já fez de bom em favor de Itabira? Ou pretende fazer, talvez...
Não tive muito contato com Itabira (pra não dizer contato nenhum), nunca fiz nada por Itabira, a não ser carregar com orgulho o nome do lugar onde nasci... Agora, pretender fazer é um desejo. Itabira é uma cidade muito rica culturalmente e talvez queira acolher de alguma forma este filho pródigo.
Nessa sua trajetória como cartunista, há algum fato engraçado-pitoresco, que mereça ser revelado aos leitores conterrâneos?
Já me quebraram o nariz por conta de uma caricatura... He,he!

O mundo está uma merda, pelo menos o mundo no Brasil. Você acha que se não fossem os cartunistas estaria ainda pior?
Acho que se não fossem os cartunistas seria mais difícil enxergar os absurdos do dia a dia com uma certa leveza e ironia. Mas não sei se cartunistas melhoram ou pioram mundo, depende muito do ideário de cada um. Tem cartunista que faz muita merda, não vê que está se utilizando apenas do censo comum, e segue fazendo apenas o que é interessante para o sistema mostrar... Analisam os fatos do cotidiano de forma muito superficial em detrimento da crítica.

Cartunistas , como qualquer outro cidadão, podem contribuir tanto para o bem, quanto
Para que servem os cartunistas e os cartuns?

Cartunistas não servem para nada. O que presta são os cartuns que fazem. Ré,ré... Os cartuns, como disse anteriormente, ajudam a enxergar o cotidiano de um forma irônica. Conseguem muitas vezes apontar os absurdos da vida que as pessoas, às vezes, não tem tempo, ou mesmo percepção para sacar. São uma “notícia romanceada” da vida real. Bem é isso aí.