segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Sobre disciplinar o ego


Aqui estou eu mais uma vez com minhas elucubrações sobre o comportamento humano. As vezes me pergunto: por que não entrei no curso de psicologia? Vai saber. Talvez pelo fato da ostentação de se dizer "Jornalista" naquela época ainda fazer algum sentido. A vaidade é mesmo uma faca de dois legumes: faz a gente acreditar no que vai nos ridicularizar um segundo depois.

E por falar em vaidade, lembrei da aventura que é estar permanentemente perto desses exemplares da espécie humana que, cheios de si, se afogam na própria soberba. Passam-se os anos e os comportamentos são sempre os mesmos. O cidadão passa gel no cabelo e pensa que é Reinaldo Gianecchini, o fortão rebaixa o carro e coloca alto-falantes (mais caros que o próprio veículo) para sair acordando a cidade inteira madrugada adentro e se fazer notar, o advogado mente despudoradamente para o juiz e para o cliente e se acha um profissional exemplar, o "músico" aprende a fazer meia dúzia de acordes e se julga merecedor da fama. E a lista segue sem fim.

Estão todos unidos no mesmo hall e assolados pela mesma carência dessa noção que vai muito além da "falta de humildade". Uma incapacidade de olhar para si mesmo com mais honestidade. Quando não há espaço para a auto-crítica, a necessidade (inconsciente?) do ser humano de se tornar admirado por seus semelhantes vai se tornando uma meta que - por ser inatingível - corrompe o caráter.

É comprovadamente difícil conviver com gente que não consegue segurar as rédeas. Gente que acaba, não apenas alimentando o fogo, mas caindo de cabeça na fogueira do próprio ego. Por isso, fica claro que a vaidade é uma chama flamejante que não se apaga nunca dentro de ninguém, mas que em alguns é mais branda, e em outros, se me é permitido o eufemismo, um pouco feroz.

Dessa maneira, há quem pense, há quem aja e há quem não pense nem aja, apenas fale. E a retórica inflamada em prol da auto-promoção é como um bicho-de-pé que o sujeito percebe, mas finge não ver só para curtir aquela coceirinha gostosa que dá enquanto o bicho cresce. O problema é que as vezes o bichinho cresce demais, se transforma em enfermidade e come o pé inteiro. Aí não tem saída, só amputando.

Então, se tiramos a viseira e olhamos ao redor com um pouquinho mais de atenção, notamos que tem "perneta" aos montes em cima de palanque fazendo discurso, em cima de palco cantando, conjecturando em importantes reuniões, dando sermão a frente de assembléias em igrejas, em todo o canto em que haja gente.

Mas a vaidade exacerbada é o verdadeiro tiro que sai pela culatra. O vaidoso - cedo ou tarde - cai na realidade, cai do palanque, cai do altar. Seu tapete é puxado pelo senso de desconfiança que povoa o inconsciente coletivo. Ele é humano e falível. Passível de erro. E quem erra não tem perdão.

A crueldade humana para atirar pedras nos que cometem falhas é proporcional a sua imbecilidade para adorar os vaidosos.

E dá-lhe pedrada!

Retirado daqui: http://foradoeixo.org.br/raulmariano

3 comentários:

Juan Fernandes disse...

Já tinha visto este texto... Mas é sempre bom revê-lo...
Massa.

Raul disse...

Valeu brow! ...tentando esquentar novamente os motores desse blog...

Anônimo disse...

Thanks :)
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