Não me defina em nada que você conheça. Eu sou bem mais que esse silêncio breve no qual você me figura. Não cabe em mim a gama de significados suficientes para me explicar. Não há pedágio que controle os sentimentos transeuntes que perpassam pelo meu peito. Você não sabe a metade, mas acredita que sabe tudo e mais um pouco. Vou te dizer: nem sempre eu ando para chegar a algum lugar, ando só por andar às vezes. Nem sempre estou feliz quando sorrio, sorrio pra não chorar também. Nem sempre fico calado por não saber sobre o que está sendo discutido, me calo para não mudar o rumo das conversas. É estranho tudo parecer óbvio demais, mas cada folha que cai da árvore com a força do vento tem seu motivo e sua hora certa para cair. Assim como cada coisa que dizemos, fazemos, compramos, amaldiçoamos, amamos, destruímos, subestimamos, acreditamos e procuramos sem perceber por que.
Não me defina em algo que você não conheça também. Há quem me identifique nas coisas. Há quem me desenhe nas cinzas a tempo do vento ou na areia a tempo da maré. Há quem afirme com toda certeza o que sou num contexto geral, e juram – de pés juntos – que têm a certeza, sem perceberem que a vida, por si só, já é uma busca incessante por certezas.
Acho que é porque minha inquietude perante a tentativa da vida de virar rotina azucrina. Porque eu sempre imploro para que me mostrem chegada e alvo, mas nunca, nunca me deixem ciente dos limites.
Não me defina.