O homem segue brando pelo caminho que lhe é concedido. Não faz idéia do quanto pode haver de certo no seu caminhar errante. O homem mede todas as suas culpas em um único dia. Sente o pesar da realidade e fecha os olhos na intenção de se tornar mais leve. Respira fundo pra voltar à superfície. Enche os pulmões de ar pra se esvaziar de si e prende a respiração por demorados segundos. Nada reduz o incômodo de ser consciente. O homem abre os braços para sentir-se solto. Sabe que é livre na prisão da cidade. Sabe que é frio no calor do tráfego. Sabe que é fraco na força dos ossos. Orienta o vento nos cabelos da mulher que passa. Rejuvenesce o tempo na dobra das rugas. Colore o dia na palidez da sua pele. O homem salva o inseto que se afoga na poça d’água. Sabe que – guardadas as devidas proporções – suas vidas são exatamente iguais em termos de desimportância. Há mais tempo para sofrer do que para ser feliz hoje, agora, no mundo. E um cansaço repentino lhe assola as pernas depois de um dia inteiro andando por calçadas e becos. O sol queimou o quanto pôde sua pele de homem. O asfalto afinou a sola de seus sapatos de homem. A alta temperatura fez evaporar quase todo líquido que havia dentro do seu corpo de homem. Caído ali naquela esquina ele já não é ninguém. Ele é alguém que não se lembra do nome ou do caminho de casa, e que, quando quis gritar, viu sua voz sumir. E ao passar por ali, ninguém repara que havia um homem no meio do caminho.
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