quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

Diante do Carnaval


"... Ora pois, chegou o momento de cessar o trabalho e entoar o cântico e desmanchar o corpo em sacolejes convulsos. Teus ami­gos se dividiram em duas hostes: a que se retraiu para montes e praias, e a que, vestindo os disfarces mais leves, saiu por aí saracoteando e gritando. Entre as duas formas de viver o car­naval, ficaste sozinho e desarmado: no centro do acontecimento, sem participar dele."



"... O carnaval não mudou senão nas formas aparentes, e não tens direito de suspirar que naquele tempo, sim, era melhor, e hoje tudo é porcaria, da decoração aos sambas. O carnaval cres­ce e se agita dentro de cada um, seja ou não patrocinado pela Prefeitura, e dinamiza músculos e cordas vocais, restituindo ao homem um pouco da animalidade comprometida menos pela ci­vilização que pelo seu uso mecânico ..."



"... Entre o prazer e a abstenção, encontraste no carnaval este secreto encanto: é uma festa que a uns permite a extroversão, a outros dá ensejo de fugas marítimas ou campestres, e a ti ofe­rece o exercício da arte difícil e nobre de estar só."



(Trechos da crônica Diante do Carnaval, de Carlos Drummond de Andrade.)

2 comentários:

Anônimo disse...

Posso ir de Chico Buarque com um trecho de ºSonho de um carnavalº?

"(...)No carnaval, esperança...
Que gente longe viva na lembrança
Que gente triste possa entrar na dança
Que gente grande saiba ser criança."

Beijos, Raul! E bom carnaval!

Raul disse...

Claro que pode Nine! Ainda mais com uma boa pedida dessas...

Abração!