Minha literatura não me serve se não houver dor pra curar. Não há entretenimento que mereça meu esforço literário se não for o de remediar a vida com palavras. Há quem escreva para provocar o riso dos outros, para instigar o sentimento de patriotismo, para delatar más ações, para engrandecer o ego alheio, para proporcionar auto-ajuda e outras muitas coisas sem valor, mas eu não. Eu só escrevo para sarar a mim mesmo. Minha literatura é auto-medicinal e qualquer tema que eu venha abordar – por mais que cause riso, orgulho, dúvida, medo ou alegria a outrem – não tem outro objetivo que não seja o de me remediar.
Certamente remedia-se aquilo que não se preveniu, e eu, propositalmente, deixo tudo acontecer para que seja preciso um remédio e para que a minha escrita, consequentemente, tenha o seu porquê de existir. Às vezes faço meu curativo com as mesmas palavras com que me corto.
Sem medir, sem mediar, sem despertar, sem me mover.
Eu quero uma solução para a minha condição.
Percebo minha escrita com o repúdio da lucidez, com a capacidade de julgamento ponderado, com a consciência da justa avaliação. Sei que o meu quase-tudo não é nada. Sei o quanto não se satisfazer com palavras e o quanto não saber sobre o infinitivo “escrever” dói. Posso pressentir o incômodo das vezes em que irá voltar a sensação de impotência diante dos escritos passados. É um sintoma que se antecipa como uma flor que cresce já sabendo ser o adubo que a terra espera.
“Ler mais, escrever menos”, se fosse fácil como parece já teriam resolvido meu caso. Doença sem cura? Talvez um caso que esteja se tornando clínico...
Mas mesmo assim eu continuo. Terapêuticamente.