sábado, 24 de janeiro de 2009

Não é preciso espera para a despedida. A espera é o ritual que se cumpre por obrigação com o tempo. Toda espera também é perda. A despedida não depende de espera e acontece no momento em que quem está partindo diz adeus. O que se cumpre depois do adeus é tradição. A matéria ainda nos confere o caráter de realidade do qual somos dependentes. Só quem vai embora sabe o alívio de “deixar pra trás sais e minerais”. E não há sensação mais gostosa do que imaginar o lugar melhor do qual você tanto nos falou e para o qual você deve ter ido. Eu já sabia da partida há tempos e esperei – com a paciência herdada de você – que se cumprisse a sina de sempre. Quero passar pela vida podendo escrever minha história com a mesma letra com que você escreveu a sua. Hoje não há lugar para dor, mas sim para o alívio. A gente já tinha conversado e feito planos antes do último dia mesmo. Planos para serem realizados em planos diferentes. Eu aqui em baixo, no plano terrestre, executando tudo, e você aí em cima vigiando e protegendo. Então não há porque chorar. Até qualquer dia e obrigado por tudo.

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Sentimento do Mundo II

Pressinto mineralmente

Conquistas de tamanho

Realizações adiadas

Para o momento certo.

No seu caminhar errante

Como o que eu mesmo tive

Vais perceber a vida

E suas latitudes

Na forma mais absoluta

Que se pode sentir

E por seres derivação

de mim organicamente;

irás achar graça e rir

das mesmas coisas tolas

que por gerações inteiras

resistem acontecendo.


Quando me vejo olhando

Pro meu futuro previsível

Consigo te enxergar

Tão antes de existires

E ignoro verdades

Só pra ver sua imagem.

Finjo não ter remorso

Por ter vontade grande

De te trazer pro mundo

Fazer-te degustar

De sentimentos daqui.


A vida se nutre de outros sais

que não os que me compõe

de outras combinações;

de outros códigos;

De outras metamorfoses nascem peças essenciais.

E quando tudo acabar pra mim

Talvez antes mesmo de você chegar

E antes mesmo de eu conseguir escrever um desfecho

(ou qualquer verso de conclusão)

ainda restará um lugar:

aquele lugar que venho mantendo guardado.


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