quinta-feira, 23 de março de 2006

Brasil, mostra a sua cara...


Vamos lá:
1° - Eu não estou aqui pra tentar debilitar o mais potente veículo da indústria cultural brasileira.
2° - Não estou tentando entrar para o hall dos elitistas acadêmico-intelectuais, até porque a intenção aqui é falar para todos, para a massa.
3° - Saiba: A TV é um lugar de exibição narcísica, é uma máquina narcísica que fabrica narcisos.

Eu sei e você também sabe que os que comandam a TV partem do pressuposto de que seu papel não é o de educar ou elevar a cultura do telespectador, mas ao contrário, imbecilizá-lo.

Não foi sem sentido que Freud reconhecia que o negativo das neuroses era a perversão. O ser humano - alguns mais que outros - gozam em ver outros através do buraco da fechadura, o que a psicopatologia chama de voyerismo.

Tudo bem, somos reféns de nossas pulsões, no sentido freudiano, que nos empurra mais para o sexo que para o amor, mais para a violência que para a paz, mais a quantidade de estímulos visuais sedutores que pela qualidade de programação, enfim, os dominantes da mídia sabem por que investem mais em ilusão que em verdade, e se nós também temos consciência disso, erramos por opção, certo? Errado!

É preciso analisar a eticidade do espírito capitalista selvagem que comanda a mídia nacional como também entender por que faz sucesso no ser humano: sexo, violência e bisbilhotagem da vida alheia. Eu ainda acho que esse "instinto" incontrolável de saber e acompanhar a intimidade do próximo é fruto de uma educação influenciada pela própria TV. Suspeito até mesmo que há alguma coisa de comum na grande audiência por esses programas e no grande número de fiéis da Igreja Universal do Reino de Deus ou outra religião que sabe fazer o show da fé de faz de conta.

O certo é que, antes de tudo, devemos ficar alertas para o verdadeiro big brother (falo da ficção "1984", de George Orwel) que é o império das redes de comunicação como é a própria televisão regendo nossas vidas e nos pressionando a abandonar o nosso desejo e ser o desejo deles.

Aí vai a minha humilde teoria:

Não existia paradigma porque gosto era igual a bunda: cada um tinha a sua, no entanto, a televisão tem nos oferecido tantas outras bundas que a gente sabe mais se tem gosto ou se tem bunda...

A solução? mandarmos todas as emissoras de TV tomar na bunda!

terça-feira, 21 de março de 2006

Nossa microeternidade




Eu sei, o homem é condenado a ser livre.

Com essa afirmação vimos o peso da responsabilidade de sermos livres e frente a essa liberdade, a gente se angustia porque a liberdade implica em escolha, que só o próprio indivíduo pode (ou não pode) fazer.
Muitos de nós paralisamos e, assim, achamos que não fomos obrigados a escolher. No entanto, a não ação, por si só, já é uma escolha.

Você se pergunta: Ah, então eu devo respeitar as pessoas que optam por vegetar o resto da vida e apenas produzir lixo e ocupar espaço no mundo?

A escolha de adiar a existência, adiando os riscos para não errar e gerar culpa, é uma tônica na sociedade contemporânea. Arriscar-se, procurar a autenticidade, é uma tarefa árdua, uma jornada pessoal que o ser deve empreender em busca de si mesmo.

Ao penetrar na escola do pensamento e desmembrar sem receio o que há de compreensível na filosofia barata a qual nos submetemos aqui, podemos ver o quanto somos impiedosos uns com outros. Há quem garanta que não há motivos para estarmos aqui, e que a terra é um planeta que existe sem razão, sobre qual a importância de cada um no mundo e o objetivo da criação...e agora?

Bom, eu não quero tentar dar respostas demais para esse tipo de assunto, até porque eu também coleciono interrogações e procuro não me influenciar por questões existenciais. Apenas acredito que o remédio para o mundo sempre foi e sempre será o simples ato de amor ao próximo.
(O próprio caminho é o convite e eu começo por onde a estrada vai.)

quinta-feira, 16 de março de 2006

Será possível?



A probabilidade de um acontecimento ocorrer é definida como o quociente do número de eventos desejados pelo total de eventos possíveis.

Hoje eu acordei meio filosófico. Não sei se isso faz mal, mas quando acordo assim vejo com mais facilidade o lado frágil de quase tudo. Vejo a própria morte mais palpável, pairando pela rotina do nosso cotidiano, atrás da porta, debaixo do tapete. A gente pensa pouco nisso, uma tendência normal, e acreditamos que qualquer acidente fatal seria fruto do acaso, ironia (ou crueldade?) do destino. Mas o que provoca o acaso? Que força age em favor dessa eventualidade sem por quê?

Já calcularam a chance de se ganhar na mega-sena, de você ser atingido por um raio (ao redor da terra caem cerca de 100 raios por segundo), de um objeto despencar do 30° andar de um prédio e cair sobre sua cabeça e de uma infinidade de coisas impossíveis acontecerem sem motivo. O mais impressionante é que de um ponto de vista defensivo, a possibilidade de você ser o próximo acidentado existe, e não pode ser descartada. Quem garante que num belo dia, no caminho da sua casa até padaria da esquina, alguém não resolva jogar uma melancia 16 kg do último andar do prédio pelo qual você está passando em frente e essa fruta atingir você em cheio?

Até recentemente, era comum creditar-se a decisão de qualquer evento aos deuses ou alguma outra causa sobrenatural. Simplesmente não havia espaço para uma abordagem que atribuísse ao acaso, e tão somente a ele, essas ocorrências. "A Humanidade precisou de centenas de anos para se acostumar com um mundo onde alguns eventos não tinham causa... ou eram determinados por causas tão remotas que somente podiam ser razoavelmente representados por modelos não-causais." (M. G. Kendall)

A Teoria das Probabilidades nasceu, mais precisamente falando, das tentativas de quantificação dos riscos e de avaliar as chances do azar, e pode acreditar, não é difícil vítima dele.

Então saiba: cada passo é um risco, mas não se preocupe, morrer é difícil.

quarta-feira, 15 de março de 2006

Caminhada


João ia atrasado (o atraso ia sempre com ele). Era longe o serviço. Fazia palavras cruzadas ou dormia. O que desse. Dormiu. Sentou na frente. Não importava se podia ou não sentar ali. Primeira curva, primeiro ronco. A bala escorrendo pela boca aberta. Boca grande. Gente entrando mais que saindo. E o ônibus inflando. Um cego, um manco, uma grávida. Outra grávida e uma criança no colo. Um, dois, muitos velhos. Estendidos, equilibrando. Pessoas indo acordar o mundo. E João. Abriu os olhos, era chegada a vez. Levantou o corpão. Depressa. Esbarrou no velho. Tropeçou na grávida. Derrubou a bengala do cego. Desceu. Abriu outra bala, jogou fora o papel, na calçada. De o primeiro passo. Caminhou. Um verdadeiro cidadão.
É como abrir um livro velho. Caminhar por caminhar, ao léo de suas vontades, pode se tornar uma revisita, ou reflexão, à própria vida. Andando pelas ruas, é possível ir se integrando à sua paisagem, fazendo parte de sua respiração, entrando na cadência de sua própria pulsação, tendo uma visão tão refrescante das árvores ladeando a caminhada, querendo até mesmo ser árvore.
Caminhando, pode-se vislumbrar outro destino, e num momento maior, levar todas as dores para um tempo que nunca existiu...

terça-feira, 14 de março de 2006

Reinvento


"É ressaca de carnaval no Brasil. Você vai para a folia? Muito legal. Aproveite bem. Conheço um monte de gente bacana que fica o ano todo planejando a festa, com aquele friozinho na barriga de quem antecipa uma explosão de prazer, uma oportunidade única de transgressão, de desligamento temporário da autocensura e das convenções sociais.
Algumas dessas pessoas são de fato criaturas dionisíacas. Gente que está sempre pronta a sugar da vida tudo o que ela tiver para dar. Gente alegre, para cima, que adora sorrir e fazer sorrir. São as cigarras do mundo. Uma turma que não se poupa, não guarda muitas preocupações nem enfrenta grandes crises morais. Seu foco nesta vida, afinal, é muito claro: sentir prazer, gozar muito, provar os sabores, dar risada.
Algumas das pessoas que vão cair de boca neste Carnaval, no entanto, não são dionisíacas, não têm essa leveza de alma nem esse desapego todo em relação a limites. Ao contrário: são pessoas que tentarão exorcizar na festa os pesados fantasmas que carregam consigo. Buscarão, de preferência longe de casa, do trabalho, dos amigos, numa cidade que fale outro sotaque, em meio ao clima de irrealidade e de exceção desses quatro dias, romper na marra e a fórceps com os grilhões do seu superego, com as regras caretas que regem a sua conduta diária, com o opressor senso de decência que lhes define.
Conheço mulheres travadas, de todas as idades, com medo da vida, de amar, de entregar a sua alma a alguém, de abrir verdadeiramente o seu mundinho para a felicidade entrar, que neste Carnaval tentarão desesperadamente extrair de dentro de si algo que não são. Garotas solitárias sairão seminuas debaixo de um abadá - como se isso fosse trazer para perto delas alguém de verdade, alguém com "a" maiúsculo. Moças infelizes sairão arreganhadas dentro de um shorts mínimo - como se a superexposição das suas carnes pudesse compensar a reclusão dos seus espíritos; como se recusar o papel de beata (que lhes dá ojeriza) pelo papel de devassa (que lhes enche de medo) pudesse lhes operar um milagre na auto-estima.
Só que nada disso resolverá os grilos dessas mulheres Ao contrário: esse vôo cego as torna ainda mais frágeis. E os seus grilos, mais evidentes e insuportáveis. Quem está insatisfeita consigo mesma deve procurar ajuda e não se auto-imolar em praça pública.
Não estou aqui fazendo um juízo de valor sobre soltar a franga. Quer soltar a sua na multidão? Divirta-se! Você tem o direito. Como qualquer outra mulher poderosa, interessante e independente. Como qualquer homem. Cair matando e curtir adoidado pode ser, sim, o maior barato. Desde que esta seja uma saída autêntica para você. Desde que você se sinta bem, que isso lhe faça feliz de verdade e que tenha a ver com quem você é lá no fundo.
Eis o meu ponto: tudo é lindo e permitido quando se é espontâneo e quando ninguém sai machucado. Se você é uma bacante maravilhosa, uma caçadora dos tesouros escondidos dentro da indumentária masculina, beba o Carnaval de canudinho - junto com todos os prazeres que o folguedo puder lhe oferecer. Tudo certo. Não há vergonha nenhuma nisso.
Mas se você não é exatamente uma ninfomaníaca, se é um pouco mais romântica ou se está num outro ritmo de vida e num outro astral no momento, não precisa posar de serial killer sexual. Com muita freqüência a gente toma atitudes pensando no impacto que vão causar na visão que os outros têm da gente. Mas é importante pensar um pouquinho também no impacto que seus atos vão ter na visão que você tem de si mesma, na relação que você tem consigo. Não force a sua barra em nome de um padrão de comportamento - que pode ser o de todos mas que talvez não seja necessariamente o seu. E tudo certo. Não há vergonha nenhuma em se respeitar, em se aceitar, em ser quem você é.
"With Or Without You", uma música belíssima do U2, tem uma estrofe em que Bono lamenta repetidas vezes: "And you give yourself away". (Que eu interpreto como "E você se entrega por aí".) É um pouco essa sensação que eu tenho ao observar o comportamento sexual autodestrutivo de algumas mulheres. (É curioso como boa parte das mulheres escolhe a cama para se flagelar.) Ultrapassar os limites do bom senso - que são individuais, portanto só você poderá dizer quais são os seus - é sempre uma atitude de autodepreciação, de desvalorização e de desrespeito de você por si mesma.
A esbórnia, enfim, pode ser uma bênção para quem souber usar. E um copo de vinagre para quem não estiver muito segura do que está fazendo ali. Na dúvida, fica a sugestão: só enfie o pé na jaca se você souber direitinho como tirá-lo incólume de lá depois."


Então eu vos exorto: aonde queres chegar?

Primeiro passo


Salvo alguns poucos indivíduos, a maioria das pessoas nasce com cérebro. Mas a questão é: Será que todos sabem usa-lo?
A tentativa não é impor regra geral, nem difundir um conceito a ser seguido por todos os homens, nem tentar homogeneizar comportamentos ou provocar choque de culturas. Cada um sabe o que ser e o que seguir, entretanto podemos aprender a ser e seguir o que é melhor.

Parto


Acabei de ser parido, mas já sei por que motivo eu vim ao mundo. Quem viver verá. Alguém me dê boas vindas.